Entenda o que é o capitalismo e como ele se desenvolveu ao longo dos séculos.
Ao longo do século XIX, uma nova forma de produção de riquezas se consolidou no mundo, graças a força revolucionária da burguesia e a exploração do trabalho dos proletariados. No entanto, entre o XIX e o XXI, o capitalismo apresentou múltiplas faces, mudando sempre que necessário.
Dessa forma, tendo em vista o complexo funcionamento do capitalismo e as diversas interpretações. Esse artigo busca compreender o que é o capitalismo, seu processo de transformações e suas características ao longo do tempo.
1 – O que é o capitalismo e como ele funciona?
O capitalismo é um modo de produção de riquezas que surge na era moderna através da construção do mundo burguês. Seu funcionamento se baseia na relação entre duas partes:
- propriedade privada da burguesiavenda da força de trabalho do proletariado.
Nesta relação, o burguês recebe os lucros do comércio e o utiliza em novos investimentos, fazendo circular o capital. O proletariado, por sua vez, recebe a menor parte desse lucro, apesar de ser responsável por quase todo o trabalho. Desta forma, há a produção de riquezas que configuram, basicamente, o funcionamento do capitalismo.
Apesar do século XX tornar essa operação mais complexa, em sua essência, o capitalismo não deixa de visar o lucro. Originando-se, principalmente:
- dos investimentos de capitaisda exploração do trabalhadorda mais valiade acordos com o Estado da livre concorrência.
Ainda que o capitalismo apresente sobretudo uma face econômica, graças a produção, a relação entre as classes extrapola esse aspecto. A construção do mundo burguês e da realidade dos proletariados, dentro desse sistema, também forma culturas, políticas e aspectos sociais.Logo, podemos afirmar que o capitalismo é um modo de produção que envolve todas as esferas das relações humanas, produzindo não só bens materiais. Para Max Webber, por exemplo, o capitalismo seria um modo de vida, ou a própria cultura moderna.
Atualmente, a complexidade da sociedade contemporânea dificulta a definição precisa das classes sociais. Burguesia e proletariado, hoje, apresentam muitas vezes uma fronteira embaçada. Assim, muitas vezes, a própria cultura burguesa ou a cultura operária aparecem mais do que as próprias esferas de atuação de cada classe.
Afinal, com a mobilidade social, um trabalhador de uma fábrica pode, por exemplo, ter a propriedade privada de um estabelecimento comercial. Desta forma, essa realidade complexa, hoje, forma a base de um capitalismo que já dominou todo o planeta.
2 – As fases do capitalismo
As origens do capitalismo ainda são debatidas entre historiadores e economistas, com alguns consensos, mas ainda algumas divergências. É notório que esse modo de produção teria surgido através das práticas econômicas da burguesia, aproximadamente entre os séculos XIV e XV. Também podemos afirmar que graças a consolidação política dessa classe que o capitalismo se estabeleceu.
No entanto, algumas divergências ainda são encontradas quanto a relação entre o mercantilismo do Antigo Regime e o capitalismo. Para alguns historiadores, o acúmulo de riquezas e a balança comercial favorável representaria uma espécie de pré-capitalismo. Como alguns autores preferem definir, seria essa uma primeira fase de “capitalismo comercial”. Essa perspectiva recebe críticas, pois, para muitos autores, a ideia de um “pré-capitalismo” seria anacrônica. O mercantilismo foi uma prática ligada sobretudo ao Antigo Regime e contrariada pela própria burguesia iluminista, logo não teria a essência do capitalismo.
Visto isso, apesar das críticas à visão do mercantilismo como uma fase inicial ou um pré-capitalismo, a utilizaremos como parte da divisão. Desta forma, podemos decompor este modo de produção em 3 fases:
1º Fase – Capitalismo Comercial (Século XV ao XVIII)
2º Fase – Capitalismo Industrial (Século XVIII ao XIX)
3º Fase – Capitalismo Financeiro (Século XIX ao XXI)
2.1 – O capitalismo comercial
Alguns estudos históricos defendem que as diversas civilizações do mundo possuíram modos de produção distintos. Durante a baixa idade média, o feudalismo se notabilizou pela produção de riquezas através da posse da terra e do trabalho servil. Visto isso, segundo alguns teóricos, o capitalismo comercial teria surgido como a alternativa a esse modo.
Se o feudalismo se baseava na unidade agrária voltada para a subsistência, o capitalismo, por sua vez, volta-se para a troca. Surgindo em um período de formação dos Estados-Modernos e de crescimento da burguesia, o capitalismo, inicialmente, estava ligado ao comércio. Entretanto, neste período, como visto, os privilégios de classes sociais já demarcavam as próprias atividades econômicas.
Enquanto a Igreja Católica, a nobreza e a monarquia enriqueciam com as colonizações e as práticas mercantilistas, a burguesia, por sua vez, era condenada. Segundo Max Webber, a condenação católica ao enriquecimento burguês teria sido essencial para o surgimento da reforma protestante. E, conclui o autor, apenas com a reforma protestante que o espírito capitalista consegue desabrochar.
Afinal, para Webber, a ética protestante defende que o objetivo da vida do homem deveria ser o enriquecimento através do trabalho. Essa ética, que não condenaria a usura, o enriquecimento ou o trabalho manual, levaria ao desenvolvimento do próprio capitalismo. Deste modo, essa primeira fase seria caracterizada por um capitalismo voltado para o comércio e, segundo Webber, baseada nos princípios protestantes.
2.2 – O capitalismo industrial
O século XVIII europeu se tornou um divisor de águas para a consolidação do capitalismo. Além da difusão dos pensamentos liberais, sobretudo de Adam Smith, a Inglaterra também iniciou o processo de Revolução Industrial.
O iluminismo e o liberalismo representaram um grande desenvolvimento do pensamento burguês na Europa. A crítica desse movimento ao mercantilismo e ao absolutismo colocou em xeque toda a estabilidade do mundo palaciano. Adam Smith, um dos precursores dos estudos científicos sobre a economia, apontou as principais medidas que levariam uma nação e a burguesia ao enriquecimento.
Para esse autor, o bom desenvolvimento da economia e o enriquecimento estariam vinculados ao (a):
Livre comércio;
Não intervenção do Estado na economia;
Respeito ao direito à propriedade privada;
livre iniciativa privada;
O pensamento de Adam Smith e de outros liberais, portanto, teria sido fundamental para impulsionar as atividades dessa burguesia. Assim, neste período, a Revolução Industrial teve início, mudando o cenário social, cultural, econômico e político da Inglaterra. Com ela, um novo modo de produção, muito mais acelerado surgia. Assim como, uma nova relação social, entre burguesia e proletariado, formava-se.
A revolução industrial provocou uma enorme transformação em todas as esferas globais, impactando, inclusive, nas paisagens. O movimento provocou um êxodo para os centros urbanos, formando massas de trabalhadores, muitos miseráveis ou desempregados. Enquanto isso, a velha burguesia, tratava de se expandir cada vez mais, buscando maior influência política.
Esse poder foi possível apenas com as revoluções burguesas, sobretudo na Inglaterra, com a consolidação do parlamentarismo e, em 1789, na França. Os dois movimentos levaram a burguesia a um novo patamar de poder e foram fundamentais para difundir o pensamento iluminista. Com esse cenário, o capitalismo passou a alterar sua face comercial e mercantil e ganhar novos contornos.
2.3 – Capitalismo financeiro ou monopolista
A revolução industrial, apesar do pioneirismo inglês, expandiu-se em sua 2ª fase para diversos países do mundo. Desta forma, houve um aumento de diversos complexos industriais e da própria necessidade de mudança para continuar gerando lucros. Neste período as indústrias deixam para trás seus territórios originais e, com o apoio de bancos e de políticas imperialistas, internacionalizam-se.
Para continuar mantendo os lucros exorbitantes, os princípios liberais de Adam Smith já não bastariam mais. A livre concorrência poderia ser um empecilho e o monopólio se tornava uma saída. Assim, além de garantirem a hegemonia em seus setores de produção, essas empresas passaram a depender de um capital especulativo, ligado a bancos e bolsas de valores.
Portando, visando ampliar seus valores de mercado, seus lucros e seus investidores, a política imperialista foi fundamental. Afinal, além de garantir o monopólio, acesso a mão de obra barata, matérias primas e mercado consumidor, essas empresas também poderiam atuar no mundo todo. Essa lógica, enfim, fundamentou a base do capitalismo atual, formado por:
multinacionais,especulação financeira,ações bancárias
permanência da exploração do trabalhador.
3 – O capitalismo hoje
Atualmente, o capitalismo é um modo de produção que, como visto, constrói a própria cultura do mundo moderno. Se Webber nitidamente o define dessa forma, Marx, por sua vez, também não nega a força desse mundo burguês construído no XIX. Para o clássico autor socialista, a burguesia teria sido uma classe revolucionária, que construiu um mundo jamais visto.
Para Marx, não apenas os monumentos, mas toda a riqueza que o sistema capitalista havia construído era algo que não deveria ser destruído, por conta de sua monumentalidade. O grande problema desse modo de produção seria, enfim, a desigualdade. Por isso, Marx acredita que as construções da burguesia não deveriam ser destruídas, mas sim distribuídas, compartilhadas igualmente.
Entretanto, o capitalismo hoje, apesar de se estabelecer de forma global e sem concorrentes, ainda é muito criticado. A queda do socialismo soviético no século XX derrubou seu principal concorrente, mas muitas características do socialismo ainda são aplicadas. Visando construir um capitalismo mais humanitário, muitos governos, atualmente, aceitam a ideia de uma adaptação das ideologias.
Em sistemas voltados para a social-democracia, por exemplo, ou influenciados pelo keynesianismo, o capitalismo coexiste com práticas sociais. As relações trabalhistas em diversos países acabam também garantindo conquistas para a classe trabalhadora, que busca constantemente reformas no capitalismo desumano.
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