Pacientes com doença renal em estágio terminal não conseguem remover adequadamente os resíduos metabólicos e o excesso de líquidos do corpo. Para evitar consequências letais do acúmulo de resíduos, a hemodiálise (HD) é empregada para substituir 10 a 15% da capacidade de eliminação renal. No entanto, pacientes em tratamento hemodialítico crônico (DRC) geralmente desenvolvem prejuízos na função física devido a um declínio na massa de tecido magro, capacidade cardiorrespiratória e força muscular. Embora a perda muscular e de força possa fazer parte do processo normal de envelhecimento, a progressiva perda de massa muscular esquelética é notavelmente acelerada em pacientes com DRC. A perda de músculo esquelético em pacientes com DRC pode ser atribuído a vários fatores, incluindo inflamação, desnutrição e perda de nutrientes durante cada sessão de HD.
Os aminoácidos (AAs) estão entre os nutrientes perdidos no dialisado durante a HD e são de fundamental importância para a manutenção muscular. Trabalhos anteriores, bem como o de muitos outros mostraram que a renovação das proteínas dos músculos esqueléticos é altamente responsiva aos aumentos pós-prandiais nas concentrações plasmáticas de AAs. Em populações saudáveis e clínicas, o aumento pós-prandial nas concentrações plasmáticas de AAs estimula as taxas de síntese de proteínas musculares e inibe a quebra de proteínas, permitindo o acréscimo líquido de proteínas musculares. Em pacientes com DRC, a síntese proteica muscular e as taxas de quebra são estimuladas durante a HD. Estudos anteriores mostraram que a perda de AAs durante a HD causa um declínio nas concentrações plasmáticas de AAs em pacientes em jejum. Além disso, a HD induz um saldo líquido negativo de AAs no antebraço em pacientes em jejum, o que pode ser indicativo de proteólise muscular.
Ao contrário da prática clínica na América do Norte, a maioria dos pacientes com DRC na Europa pode comer e beber durante o tratamento da HD. Há um debate em andamento sobre a implementação da ingestão de proteínas na dieta durante a HD para contrabalançar o declínio induzido pela HD nas concentrações plasmáticas de AAs nos cuidados de rotina, pois alguns nefrologistas citam preocupações com a segurança do paciente e o aumento da carga da equipe. Além disso, resta estabelecer se a ingestão habitual de alimentos antes e durante a HD aumenta a subsequente perda de AAs no dialisado. Estimativas anteriores podem, portanto, não refletir com precisão a perda de AA em pacientes com DCC que consomem sua dieta habitual durante a HD.
OBJETIVOS DO ESTUDO
Foram selecionados 10 pacientes com doença renal para participar de um estudo no qual foram obtidas amostras de sangue e gasto dialítico durante a HD para avaliar a perda seletiva de AAs no dialisado. As concentrações de AAs no plasma e no dialisado foram medidas para calcular as taxas individuais de extração de AAs e para avaliar a relação entre as concentrações basais de AAs no plasma, a ingestão de alimentos e a extração de AAs durante a HD. Este estudo fornece informações sobre a extração de AAs e os requisitos nutricionais de pacientes com DRC que consomem sua dieta habitual durante a HD.
MÉTODOS
Dez pacientes anúricos crônicos em HD (idade média ± DP: 67,9 ± 19,3 anos, IMC: 23,2 ± 3,5 kg / m2), submetidos à HD três vezes por semana, foram selecionados para participar deste estudo. O gasto dialítico foi coletado continuamente e as amostras de plasma foram obtidas diretamente antes e após uma única sessão de HD em cada participante. Os perfis de AAs no gasto dialítico e no plasma pré-HD e pós-HD foram medidos por cromatografia líquida de ultradesempenho para determinar as concentrações de AAs e, como tal, a perda líquida de AAs. Além disso, a ingestão alimentar antes e durante toda a HD foi avaliada usando um questionário de recordatório de 24 horas durante a HD. Testes t de amostra pareada foram realizados para comparar as concentrações de AAs no plasma pré e pós-HD.
RESULTADOS
Durante uma sessão de HD, 11,95 ± 0,69 g de AAS foram perdidos pelo dialisado, dos quais 8,26 ± 0,46 eram AAs não essenciais, 3,69 ± 0,31g eram AAs essenciais e 1,64 ± 0,17g de AAs de cadeia ramificada. Como consequência, as concentrações plasmáticas de AA total e essencial diminuíram significativamente de 2,88 ± 0,15 e 0,80 ± 0,05 mmol/L para 2,27 ± 0,11 e 0,66 ± 0,05 mmol/L, respectivamente (P <0,05). Os perfis de AAs do plasma pré-HD e do dialisado gasto foram semelhantes. Além disso, as concentrações de AA no plasma pré-HD e no dialisado gasto foram fortemente correlacionadas (Spearman ρ = 0,92, P <0,001).
CONCLUSÕES
Durante uma única sessão de HD, 12g de AAs são perdidos no dialisado, causando um declínio significativo nas concentrações plasmáticas de AAs. A perda de AAs durante a HD pode contribuir substancialmente para a desnutrição proteica em pacientes com doença renal em estágio terminal. Este estudo foi registrado no Registro de Ensaios da Holanda (NTR7101). J Nutr 2020; 150: 1160-1166.
LEIA O ESTUDO COMPLETO AQUI.