O que significa Consenso de Washington

Fuente: pixabay.

El Consenso de Washington fue el conjunto de fórmulas económicas neoliberales impulsadas por varios organismos financieros internacionales en los años ochenta y noventa. El economista británico John Williamson acuñó el término inconscientemente en un artículo de 1989 en el que revisaba las diez medidas económicas que profesaban elFondo Monetario Internacional (FMI), el Banco Mundial, el Banco Interamericano de Desarrollo y el Departamento del Tesoro de Estados Unidos, todas ellas con sede en la capital de Estados Unidos, Washington D. C. Estas propuestas conformaron un decálogo del neoliberalismo recetado para abordar la crisis económica de 1989 en Latinoamérica, sumida en una larga recesión conocida como la década perdida. 

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El paquete se presentaba como la fórmula hacia el crecimiento económico, el control de precios y la distribución equitativa. Para la política económica interior, el Consenso recomendaba minimizar el gasto público, los impuestos y las subvenciones, acoger y facilitar la inversión extranjera y local, favorecer a la empresa privada, desregular los precios y los despidos, y asegurar los derechos de propiedad privada, intelectual y de empresa. Para el exterior, prescribía liberalizar las importaciones y exportaciones, y orientar la moneda nacional hacia la competitividad internacional y la exportación no tradicional.

Durante los años ochenta y noventa, los organismos financieros mundiales exigieron aplicar esas medidas para conceder créditos y ayuda financiera. En plena crisis económica mundial a finales del siglo XX, muchos países acataron el decálogo, empezando por los latinoamericanos. Sumido en deuda pública, inflación, falta de competitividad internacional y crisis políticas y económicas, el subcontinente necesitaba ayuda del dólar. Le siguieron países africanos y asiáticos también necesitados de financiación e inversión extranjera.

La victoria del sistema occidental en la Guerra Fría y la paulatina adhesión internacional al capitalismo reafirmaron a los organismos financieros sobre la robustez de su decálogo neoliberal. Esta agenda siguió aplicándose tanto para los países capitalistas e industrializados como para las economías en desarrollo que no lograban mejorar su situación financiera. Además, este paquete se recomendaba para transitar de la economía planificada a la de mercado y del subdesarrollo a la prosperidad. Los últimos en aplicarlo fueron los países del antiguo bloque del Este.El decálogo favoreció la globalización, pero no consiguió estimular radicalmente la actividad económica allá donde se aplicó, a pesar de las estrictas reformas que implicaba. Los buenos resultados económicos de países alejados de la agenda neoliberal, como Corea del Sur, China o Taiwán, agravaron la sensación de fracaso. El propio Williamson, crítico con el decálogo, salió en su defensa a principios del siglo XXI, insistiendo en su validez pero admitiendo que la implementación debía mejorarse. Sin embargo, el FMI y el Banco Mundial se movieron hacia posturas críticas con las medidas neoliberales en Estados Unidos durante el gobierno de George Bush hijo, rompiendo así el Consenso.

O CONSENSO DE WASHINGTON

Quando fui convidado para falar sobre O Consenso de Washington e aceitei, foi porque percebi logo que, na hora do convite, o interesse era o de se falar sobre uma �poca e n�o propriamente sobre o consenso ou o que seja o onsenso, o que n�o quer dizer que eu n�o vou dizer a voc�s o que entendo do consenso.
Afinal, do que se trata?
Com certeza, n�o � uma coisa complicada. Eu escrevi alguns artigos onde aparecia essa express�o e houve um momento em que um amigo me disse assim: Fiori, se voc� n�o se cuidar, voc� vai ficar sendo conhecido por Jos� Lu�s Consenso de Washington Fiori. A�, eu disse: n�o falo mais desse assunto. At� porque a express�o n�o � minha, enfim...

Pretendo, aqui, abordar tr�s temas: Consenso de Washington, Constru��o da matriz neoliberal e Pol�ticas para a Am�rica Latina.
Devo, aqui, fazer o lament�vel papel do contraponto.
Durante uma semana, nesse semin�rio, voc�s ouviram falar de desenvolvimento, revolu��o, socialismos frustrados ou n�o, guerrilhas, atos her�icos, enfim, de um continente que, durante 40 anos, sonhou com o crescimento econ�mico e com a igualdade social, e coube a mim, porque � o que se esconde atr�s dessa express�o t�o simples e t�o misteriosa: Consenso de Washington, mas, venho falar de uma �poca onde a Am�rica Latina deixou de se preocupar com a igualdade, deixou de se preocupar com o crescimento, deixou de ser her�i.

Ent�o, para efeito did�tico de nossa conversa eu vou dividi-la em tr�s t�picos: o Consenso de Washington, a Constru��o da matriz neoliberal e Como � que esse neg�cio chega na Am�rica Latina.
E, sempre que poss�vel, tentarei ir pautando o desenvolvimento desses temas na forma de perguntas e respostas, porque eu acho que facilita a compreens�o e facilita conversas posteriores.

O que �, afinal, esse Consenso de Washington?
Para quem n�o o conhece (quem o conhece me desculpe por reapresent�-lo), em primeiro lugar, deixemos claro que n�o se trata de nenhum tipo de ma�onaria, nenhum tipo de conspira��o internacional, porque v�rias pessoas j� disseram pela imprensa (ou acusaram a quem usou a express�o) de ter uma vis�o conspirat�ria da hist�ria, como se esse consenso fosse uma macroorganiza��o clandestina que gerisse ou manejasse os instrumentos de poder mundial.

N�o, n�o � nenhuma ma�onaria nem � nenhuma conspira��o, n�o � o resultado de um pacto e tamb�m n�o � resultado de reuni�es de organiza��es formais de nenhum organismo de poder internacional ou mesmo nacional norte-americano.

Ent�o, o que �? Trata-se de uma express�o quase acad�mica porque foi cunhada por um acad�mico, foi cunhada por um economista, o Sr. John Williamson, um economista menor, sem grande express�o.

Em 1989,o International Institute for Economy, funciona em Washington, que faz parte de uma rede – s�o
centros de "pensa��o" - onde h� intelectuais pensando na perspectiva do poder - n�o vou usar a servi�o do poder
porque vai parecer que estou acusando os caras de vendidos - n�o, eles est�o ali pensando, a m�dio e longo prazos,
a perspectiva de poder do pa�s deles, de ser comum.

E, evidentemente, como Washington � a capital do livre imp�rio que restou nesse mundo, � �bvio que exista uma rede que re�ne c�rebros de alt�ssima qualidade; esses institutos recebem tamb�m, permanentemente, a visita de pol�ticos, de intelectuais e autoridades que circulam pelo mundo, que v�o �queles institutos para atualizar suas cabe�as, informar-se sobre os �ltimos dados e, eventualmente, passar algumas informa��es mais atualizadas sobre as suas prov�ncias imperiais. Mas, n�o digo com maldade. Sempre foi assim, em todos os imp�rios e � assim nessa
situa��o imperial que estamos vivendo. Pois bem, esse instituto do Sr. John Williamson promoveu, em 1989, uma reuni�o cujo objetivo era discutir as reformas necess�rias para que a Am�rica Latina sa�sse da d�cada que alguns chamaram de perdida, da estagna��o, da infla��o, da recess�o, da d�vida externa e retomasse o caminho do crescimento, do aumento da riqueza, do desenvolvimento, quem sabe at� - Deus quisesse - da igualdade.

Nessa reuni�o, o Sr. John Williamson publicou um "paper" onde cunhou essa express�o. Os resultados dessa reuni�o foram publicados em livro, em 1990. Esse livro se espalhou e espalhou-se essa express�o. E, posteriormente, ele mesmo, John Williamson, tentou explicar o que queria dizer com essa express�o: "eu fiz, apenas, uma lista das pol�ticas e das reformas que est�o sendo requeridas na Am�rica Latina, em conjunto, consensualmente, pelos principais centros e c�rculos de poder
sediados na cidade de Washington ".

Em poucas palavras, o que John Williamson estava dizendo em seu "paper" era que a rede onde circulavam essas id�ias - n�o � o governo norte-americano, n�o � o FMI, n�o � o Congresso norte-americano. N�o, n�o, no fundo, h� uma rede de burocracias relevantes para o comando e coordena��o da pol�tica econ�mica mundial dos EUA e para cuidar da Am�rica Latina. E, hoje, aparentemente, de uma maneira surpreendente, os institutos formadores daquela rede t�m as mesmas id�ias.

� um fen�meno admir�vel. As principais burocracias econ�micas do Tesouro norte-americano: o FAD, o FMI, o BID, o BIRD e, at� um pouco as Na��es Unidas; a academia que gira em torno de Washington, o que � que eu percebo, disse John Williamson?

Olho para todos os lados, leio, sinto e percebo que todos est�o pensando a mesma coisa, isto �, todos est�o propondo a mesma coisa. H� uma forte converg�ncia. E n�o foi sempre assim. Aten��o, n�o foi sempre assim.

Ent�o, essa � a primeira coisa que John Williamson percebeu: "em Washington todos est�o pensando que na Am�rica Latina todo mundo tem de fazer a mesma coisa".

Ali�s, n�o s� a Am�rica Latina, o Consenso de Washington diz respeito � vis�o norte-americana sobre a condu��o da pol�tica econ�mica, sobretudo nos pa�ses perif�ricos, no mundo inteiro, mas, obviamente, de forma muito mais direta para os pa�ses da Am�rica Latina que, naquele momento, eram os pa�ses mais endividados, situados embaixo da zona de hegemonia, de supremacia norte-americana. � isso que ele chamava de Consenso de Washington. O consenso era entre essas coisas. Congresso, burocracias, burocracias internacionais, a� h� um
acordo sobre o que?

Os acordos - Quais eram as id�ias do acordo que ele percebia? Ele dizia: "eu dividiria o que sinto, pressinto e leio como um
grande consenso em tr�s planos: no primeiro plano, de ordem macroecon�mica, h� um acordo completo entre todas as ag�ncias econ�micas, que todos esses pa�ses perif�ricos est�o, no momento, sendo convencidos a aplicar um programa em que lhes � requerido um rigoroso esfor�o de equil�brio fiscal, austeridade fiscal ao m�ximo, o que passa inevitavelmente por um programa de reformas administrativas, previd�nciarias e fiscais, e um corte violento no gasto p�blico".

O que � que ele descobria no plano macroecon�mico? H� um acordo entre todas essas ag�ncias com rela��o a que esses pa�ses perif�ricos deveriam buscar a estabiliza��o monet�ria, porque a prioridade numero 1 � a estabiliza��o e a pol�tica fiscal tem que ser submetida � pol�tica monet�ria.

A segunda coisa que percebo, que toda essa gente est� pensando: que esses pa�ses devem fazer pol�ticas monet�rias rigid�ssimas, porque a prioridade numero 1 � a estabiliza��o e a pol�tica fiscal tem que ser submetida � pol�tica monet�ria.

Estabiliza��o e reformas - Esse era o primeiro pacote: estabilizar � necess�rio. E para estabilizar, � necess�rio uma pol�tica fiscal austera, com cortes, corte de sal�rios dos funcion�rios p�blicos, demiss�es, flexibiliza��o do mercado de funcion�rios p�blicos, corte das contribui��es sociais, reforma da previd�ncia social.

A segunda ordem de propostas e reformas, que estava naquele "consenso", para usar a palavra de ordem deles, eu diria que s�o de ordem microecon�mica: � preciso desonerar fiscalmente o capital para que ele possa aumentar a sua competitividade no mercado internacional, desregulado e aberto.

Ent�o, o �nico caminho de as pequenas empresas situadas nos pa�ses da periferia entrarem nesse jogo seria por aumento de competitividade, o que passaria por desonera��o fiscal, flexibiliza��o dos mercados de trabalho, diminui��o da carga social com os trabalhadores, diminui��o dos sal�rios.

A terceira ordem de coisas que o consenso propunha: nada disso ser� poss�vel se n�s n�o desmontarmos, radicalmente, o modelo anterior que houve nesses continentes, um modelo perverso, que funcionou mau, s� fez porcarias, que � o tal do modelo de importa��o de industrializa��o por substitui��o de importa��es, que � um conceito pessimamente usado.
Nessa dire��o, quais s�o as propostas?
As propostas est�o no pacote das reformas estruturais, que foram chamadas em algum momento de reformas institucionais e, em alguns pa�ses, de reformas condicionais. Quais s�o?
Primeiro, desregula��o dos mercados, sobretudo o financeiro e o do trabalho. E isso j� foi feito em quase todos os pa�ses da Am�rica Latina.

Segundo, privatiza��o, de prefer�ncia selvagem. Terceiro, abertura comercial. Quarto, garantia do direito de propriedade, sobretudo na zona de fronteira, isto �, nos servi�os, propriedade
intelectual etc.

Pois bem, a verdade � que esse pacote que o Sr. John Williamson descobriu, em Washington, n�o � dif�cil de ser
identificado. Quer dizer, pelo caminho imposto pela renegocia��o da d�vida externa ou pelo caminho imposto pelas
condicionalidades para se conseguir empr�stimo no sistema financeiro internacional, a verdade � que os �rg�os
multinacionais e o sistema banc�rio privado, progressivamente, colocaram como condi��o de reintrodu��o de uma Am�rica Latina, que havia sido afastada pela d�vida externa do sistema financeiro internacional, que ela s� reingressaria ao sistema se botasse em pr�tica essas pol�ticas.

N�o se trata propriamente de uma imposi��o imperial, nem de uma conspira��o, trata-se de um condicionamento comercial expl�cito. Quer dizer, n�o h� confian�a para emprestar dinheiro a quem n�o tenha o or�amento fiscal equilibrado, n�o tenha uma moeda est�vel, n�o tenha economia aberta, os mercados financeiros desregulados, o com�rcio desprotegido e o estado diminu�do ao m�nimo.

O que � que John Williamson descobriu? Eu diria, muito curta e simplesmente, que, nos principais centros de poder de Washington, havia-se desenhado um programa compacto de pol�ticas e reformas perfeitamente alinhadas com a hegemonia dominante dos pa�ses centrais, desde o in�cio dos anos 80, isto �, um programa neoliberal traduzido para a Am�rica Latina como liberal.

� isso, o Consenso de Washington n�o � uma conspira��o. Foi um professor de economia, med�ocre, que olhando ali, em Washington, disse: u�! ei! aten��o! Todo mundo est� dizendo a mesma coisa! E qual � essa mesma coisa que todos est�o dizendo? � que a Am�rica Latina n�o vai para frente se n�o fizer isso, isso, isso e isso.

Duas constata��es:
Um: surpreendentemente, na altura de 1990/1991, para quem quiser se debru�ar sobre a Am�rica Latina como voc�s est�o fazendo, descobrir: �, meu Deus, todos os pa�ses est�o fazendo igual. (risos...) Ou a pergunta: como � que chegaram a esse tremendo consenso latino-americano?

Dois: esse pacote que esse senhor descobriu n�o � nada mais nada menos do que a vers�o constru�da, nesses organismos internacionais, ou a tradu��o do programa de id�ias neoliberais, que havia sido trazido e hegemonizado do Primeiro Mundo, a partir da vit�ria da nossa maravilhosa dama de ferro, a Sra. Thatcher.

Segundo t�pico: chega de consenso. N�o h� muito mais o que dizer sobre o tal do consenso. E tamb�m n�o procurem muito porque n�o v�o encontrar.

O que est� por tr�s - O fundamental n�o � o Consenso de Washington, mas, sim, o que est� por tr�s do tal consenso, isto �, apenas o Consenso de Washington como uma esp�cie de express�o emblem�tica de uma era, de uma �poca.

Que �poca � essa? A �poca em que venceu, se construiu e venceu, do ponto de vista ideol�gico, a matriz neoliberal,
que � paralela � �poca em que avan�ou c�lere o que outros economistas chamam de processo de globaliza��o
financeira.

Como se formou essa matriz neoliberal?

Essa, sim, � uma pergunta um pouco mais complicada de se responder. Para enfrentar o segundo t�pico do tema
dessa nossa conversa, � fundamental fazer um brev�ssimo flashback, do tipo hist�rico, para que possamos
acompanhar, minimamente, o movimento decisivo da ascens�o pol�tica ideol�gica neoliberal.

Vamos por partes, para descobrir como o consenso keynesiano foi, de repente e, milagrosamente, atropelado e,
aparentemente, vencido facilmente, por esse novo consenso, o Consenso de Washington, n�o h� como n�o
retroceder ao momento em que hoje, todos os analistas e historiadores j� consideram (....risos e falas
incompreens�veis).

Eu diria que j� h� poucos historiadores e analistas que n�o se sintam, com rela��o ao reconhecimento, de que,
entre 1968 e 1973, ocorreram um conjunto de fatos, nos planos ideol�gicos, militar e econ�mico, que acabaram
provocando uma verdadeira ruptura hist�rica na trajet�ria dessa segunda metade do s�culo. Por volta de 1968, isto
�, do ponto de vista de refer�ncias mais vis�veis, digamos assim, entre a revolu��o de maio dos estudantes e dos
sindicatos, em Paris, e o fim do padr�o d�lar, para usar duas coisas bem, aparentemente, desconectadas, estava-se
fazendo uma rachadura na hist�ria contempor�nea.

E a verdade � que, a partir de 73, o mundo central, e entenda-se por mundo central a reuni�o dos pa�ses mais ricos
e n�s, paulatinamente, depois, mas, agora estarei falando do mundo central. Esse mundo entra em crise, esse
mundo perde suas refer�ncias anteriores e entra numa longa transi��o, que ainda n�o acabou nem se sabe como
acabar�, e estamos em 1996.

O importante para n�s, entretanto, � relembrar quais foram as refer�ncias perdidas e o que ficou para tr�s. Como �
essa ruptura? Eu diria que o que ficou para tr�s foi uma era muito especial do s�culo 20 e, talvez, da hist�ria
moderna. Uma era muito especial no plano da hist�ria econ�mica, pol�tica e social da humanidade.

O per�odo que vai do fim da segunda guerra mundial at� 1973 � o que, quase todos hoje, chamam de a era de ouro
do capitalismo. E � a era de ouro da democracia. E � a era de ouro desses pa�ses do ponto vista do avan�o dos
patamares poss�veis de igualdade social.

Nesse per�odo, como se acontecesse um milagre, porque cada vez mais se parece um milagre, durante alguns anos,
todos n�s pens�vamos, ser� uma conjuntura ruim e voltaremos para l�, mas, quanto mais os anos passam mais
parece que aquilo foi completamente excepcional na hist�ria do capitalismo.

O que � que aconteceu ali? A economia cresceu continuamente e a taxas muito altas e universais ou quase
universais.

N�s tamb�m crescemos aqui no sul. E os pa�ses socialistas, que, hoje, est�o em degrada��o econ�mica e social,
cresceram mais do que ningu�m nesse per�odo. Houve aumento da produtividade do trabalho. Houve pleno
emprego. Houve crescimento da renda per capita. Constituiu-se o sistema de prote��o social e solidariedade
republicana mais sofisticado que a humanidade j� conseguiu construir. E conseguiu-se manter funcionando os
sistemas democr�ticos com participa��o maci�a da popula��o por meio da intermedia��o dos partidos pol�ticos.

Pois bem, essa era de ouro do capitalismo, muito rapidamente, eu diria, esteve sustentada e vou dizer quais os
pilares em que acho que esteve sustentada, porque quero mostrar, exatamente, a hora em que a coisa neoliberal
avan�a.

Pois que essa � uma era rigorosamente antineoliberal. � uma era, do ponto de vista ideol�gico, predominantemente
social-democrata ou keynesiana, como dizem alguns.

Pr� -73: a�, os grandes objetivos que a humanidade se colocou foram: crescimento, eq�idade e pleno emprego.

E voc�s ver�o mais l� na frente, quando venceram as id�ias do neoliberalismo, que os objetivos ser�o outros.
Ser�o equil�brio macroecon�mico, efici�ncia e competitividade. Completamente diferentes.

Mas, nessa hora, dos anos 50/70, eu diria que foi poss�vel esse sucesso, e j� penso nisso e jogo isso, na nossa
conversa, para, inclusive, refletir se h� possibilidade, no futuro, de voltarmos a fazer esse milagre.

Em primeiro lugar, porque houve uma esp�cie de grande consenso ideol�gico promovido pelo pr�prio efeito da
guerra, da social- democracia e dos liberais keynesianos, em torno a esses objetivos dos quais lhes falei.

Em segundo lugar, mesmo os liberais dessa �poca, reconheceram a necessidade e a indispensabilidade de um papel
ativo do estado, nos pa�ses centrais, no controle das crises econ�micas, e nos pa�ses perif�ricos, no comando do
desenvolvimento.

Em terceiro lugar, esta �poca esteve assentada em um pacto impl�cito, expl�cito e, rigorosamente, antiliberal; entre
o capital, o trabalho e o estado, que se chamou, na �poca, de neocorporativismo.

Em quarto lugar, esse pacto, esse grande acordo, foi poss�vel gra�as, sem d�vida nenhuma, � exist�ncia de uma
ordem mundial, pol�tica, ideol�gica, que � bipolar, conflitiva e, ao mesmo tempo, de uma ordem econ�mica, do lado
ocidental, do outro lado capitalista, perfeitamente regulada pelos acordos de Bretton Woods, e, perfeitamente,
conduzida pelo comportamento hegem�nico dos EUA, que, durante esse tempo, por generosidade ou por interesse,
pensou os interesses dos outros seus pares antes de pensar os seus pr�prios.

Os senhores podem dizer que, nesse momento, os EUA tinham tanto poder que se podia dar a essa generosidade,
como voc�s podem achar. Que nesse momento, seu medo do mundo comunista era t�o grande que foi impelido a
essa generosidade. D� no mesmo; d� no mesmo.

Pois bem, se era assim, o que passou em torno de 73 que rompeu esse mundo de sucesso?

Alguns fatos e conseq��ncias importantes: eu destacaria, muito rapidamente, em primeiro lugar, as revolu��es
pol�ticas e sindicais europ�ias, isto �, a rebeli�o dos sindicatos - fim do pacto, fim do pacto.

Em segundo lugar, a derrota americana no Vietn� e de Israel, parcial, na guerra do Ion Quipur e, como
conseq��ncia, a forma��o da OPEP e a chantagem em torno do pre�o do petr�leo, isto �, o questionamento da
hegemonia norte-americana.

Em terceiro lugar, no plano econ�mico, o choque do pre�o do petr�leo e o fim da paridade ouro/d�lar, isto �, o fim
do Bretton Woods, o fim do acordo p�s 2a guerra mundial.

Como voc�s podem ver, de uma s� tacada, em tr�s anos, rompe-se o pacto do capital com o trabalho, p�e-se em
d�vida a hegemonia militar norte-americana e entra ladeira abaixo a hegemonia econ�mica e o d�lar
norte-americanos.

Como conseq��ncia, meus amigos, entre 73 e 80, a economia e a pol�tica mundial passam a ver uma situa��o de
crise e instabilidade. Esse � o per�odo em que as coisas ficam completamente destrambelhadas nas rela��es entre
as grandes pot�ncias. N�s aqui em baixo, at� que nos damos bem, � o per�odo em que aproveitamos e demos um
salto no sentido industrializador.

Mas, entre eles, digo entre eles as grandes pot�ncias, a situa��o � muito m�. E eles passaram a viver, pela
primeira vez, desde a 2a guerra mundial, um per�odo de recess�o prolongada: desacelera��o do crescimento,
aumento da infla��o, aumento do desemprego, aumento do gasto p�blico de natureza social e as pol�ticas de
estabiliza��o implementadas n�o funcionaram. Isso � 73/79. � esse impasse. � esse impasse que explica a
virul�ncia da virada conservadora, que ocorrera no mundo, exatamente, entre 1979 e 1982. O que � que aconteceu
ali nesses anos? No plano econ�mico sim, o segundo choque do petr�leo os senhores sabem; mas, no plano da
iniciativa norte-americana, o que alguns chamaram de a 2a guerra fria. Isto �, colocar o mundo socialista contra a
parede.

E, em terceiro lugar, a subida da taxa de juros norte-americana e a revaloriza��o da moeda norte-americana.

Isto �: ei, parceiros e subalternos, n�s estamos a fim de recompor a nossa supremacia nesse mundo. E o fizeram, e
o fizeram, muitos seguiram falando de crise da hegemonia americana, at� hoje falam. Mas, � cada vez mais dif�cil
dar ouvidos a essa discuss�o, dadas as dimens�es que a presen�a norte-americana vai adquirindo no mundo,

Pode-se discutir se � supremacia, hegemonia, imp�rio, mas, isso � perfeccionismo de intelectual. P�o-p�o,
queijo-queijo, h� uma rela��o hier�rquica de poder com um centro de poder �nico no mundo, com baixa capacidade
de contesta��o dos demais centros, quanto a isso n�o ha d�vidas.

Agora, nesses momentos de 79 e 82, acontece, para efeitos dessa nossa conversa e desse t�pico (a matriz
neoliberal), o fato mais importante, mais importante: quer dizer, em conjunto com essas mudan�as geopol�ticas,
monet�rias, acontece a chegada ao poder, a vit�ria, no eixo anglo-sax�nico, das id�ias liberais, conservadoras.

E, j� a�, aparecem traduzidas na forma de um programa de governo, cuja experi�ncia, seguramente mais
paradigm�tica, mais radical e para todos os efeitos das futuras teses de doutorados, das pessoas que venham a
fazer isso com os anos, ser� o estudo da Sra. Thatcher. Na Inglaterra � onde se fez o experimento m�ximo de
consistente aplica��o do receitu�rio neoliberal completo, n�o nos EUA. N�o com o Reagan.

Mas, isso foi como um efeito domin�. Se voc�s se lembram bem, ganhou a Sra. Thatcher na Inglaterra; ganhou o
Sr. Reagan nos EUA; logo depois ganhou o Sr. Kohl, na Alemanha; sim, ganhou o Sr. Mitterrand na Fran�a, em 81,
e experimentou uma pol�tica do tipo keynesiana; teve que recuar, portanto, entrou tamb�m.

E, quando em 1982, o jovem carism�tico e brilhante l�der, socialista europeu, Felipe Gonzalez, chegou ao governo
da Espanha, j� chegou com a cabe�a devidamente ajustada ao que ele chamava, na �poca, de os requerimentos
realistas do mundo que n�s est�vamos vivendo. Isto �, chegou com um programa liberal de governo.

A partir da�, na Europa e nos pa�ses centrais, o que voc�s v�o ter � um processo de difus�o crescente. E olhe, eu
estou usando a palavra difus�o, n�o dizendo para voc�s, em nenhum momento, verbos que soem a imposi��o ou
coisa do g�nero; n�o, n�o. Uma difus�o desse mesmo pacote, dessas mesmas id�ias neoliberais, sobre as quais j�
direi tr�s palavras, essa matriz neoliberal � transformada num programa pol�tico de governo, que vai se difundindo,
como ondas ou como domin�, at� alcan�ar, enfim, o momento apote�tico da derrota do mundo, da implos�o do
mundo socialista e da invas�o, finalmente, das terras, at� ent�o, reticentes �s id�ias liberais e � ades�o, fren�tica,
das suas elites a esse programa.

Essa � um pouco a trajet�ria pela qual, politicamente, ali�s, foi nesse momento, em que o leste europeu aderiu �s
teses neoliberais, que Fukuyama, um japon�s do Departamento de Estado Norte-americano, com uma certa raz�o,
mas, ao mesmo tempo, um quanto vesgo, naquele momento, olhou assim, e disse: � verdade, venceram, acabou-se
a hist�ria.

O que � que ele queria dizer com acabou-se a hist�ria? Ele queria dizer que as tr�s grandes bandeiras ideol�gicas
em que eram coordenados os conflitos da modernidade, isto �, socialismo, nacionalismo e liberalismo, entre esses
tr�s estava declarada a vit�ria definitiva, cabal, radical do liberalismo, e os outros dois que fossem para casa.

Durou muito pouco tempo para que come�assem a aparecer por todos os lados fen�menos dos tipos nacionalistas
da pior esp�cie, mas, nacionalistas, e eis que, aqui, l�, acol�, alguns intelectuais come�am a tentar ressuscitar o tal
de socialismo. Parece que esse bicho dura mais do que a gente possa imaginar.

Mas, o Fukuyama, olhando de Washington, disse: a vit�ria � t�o acachapante que � melhor, vou logo tacar um livro
sobre o assunto - que fez o maior sucesso.

A verdade � que vendeu para danar, eu me lembro que fui assisti-lo aqui, no Intercontinental, quando ele passou
aqui, e ele, com a m�xima sinceridade, disse: eu n�o sei porque tenho tanto sucesso. Eu escrevi isso a� e, de
repente, me chamam do mundo inteiro. O que n�o conseguiu impedir que eu lembrasse aquela piada em que um
japon�s preparava-se para puxar a descarga da privada ao mesmo tempo em que caiu a bomba at�mica e ele ficou
pensando que havia sido ele o causador daquele estrago. E eu fiquei achando que o Sr. Fukuyama estava
precisando ir a um analista para lhe explicar: olha n�o foi o seu livro que fez isso, n�o se preocupe (risos...).

Pergunta: o que se prop�e? Aqui vimos, um pouco, o movimento de ascens�o da matriz e como � que ela ganha
politicamente e como � que ela se difunde pelo mundo.

Mas, o que � que ela difunde? Afinal, que matriz � essa? O que prop�e esse neoliberalismo que chegou t�o abrupta
e vitoriosamente entre n�s? Qual a sua novidade, por exemplo?

Essa � uma boa pergunta, sobretudo para quem estuda os pensamentos pol�ticos. Qual � novidade desse
neoliberalismo, com rela��o ao velho liberalismo?

Qual �h a novidade? Por que "neo"? Bem, antes de chegar ao ponto por que "neo", o que � que tem "neo" e o
que � que tem de velho, eu diria que, do ponto de vista acad�mico e te�rico ou das id�ias, antes de elas virarem
argumentos da Sra. Thatcher, antes disso, a trajet�ria desse neoliberalismo passou, pelo menos, por quatro etapas.

Como estamos aqui no meio de uma conversa para socializar informa��es, os que j� sabem, lamento, mas vou
rapidamente dizer: o que � considerado a origem te�rica desse onda neoliberal � um famoso livrinho de um
economista austr�aco, que viveu parte de sua vida nos EUA e que chamou de " O Caminho da Servid�o",
publicando-o em 1944, e que foi, de largada, j� uma porrada em tudo que era wellfare state, interven��o do
estado.Por isso essa obra ficou como refer�ncia quase b�blica do movimento neoliberal.

Pois bem, nessa primeira etapa, que chamaria de 44 a 60, esse movimento neoliberal n�o passou de ser, a� sim, a�
sim, de uma pequena ma�onaria. E que me poupem outros intelectuais, mas, criaram na Su��a um movimento
chamado MONT PELLERIN, e eles se re�nem at� hoje, todo ano, mas, nessa �poca, se reuniam, meio
clandestinamente, para falar mau desse neg�cio keynesiano, social- democrata, que era dominante no mundo.

Muito bem, entre 60 e 80, j� dava para perceber que as coisas estavam mudando, porque esses homens, eram
homens que viviam, mais ou menos, isolados nas suas cavernas, excelentes cavernas , mas, de qualquer maneira
(risos...) - � o que eu ando pedindo agora que passei a ser solit�rio, quase ma�om - gostaria de ter as cavernas que
eles tinham na Su��a para analisar, para resistir.

Um dia eu ouvi o Perry Anderson, que � um historiador ingl�s, aqui, em um semin�rio sobre neoliberalismo, onde
ele disse: H� que reconhecer esses homens, que foram resistentes, jamais fizeram concess�o nenhuma.

� verdade, nunca concederam nada, n�o sei se por intelig�ncia ou burrice, nunca concederam nada, nada, nenhuma
v�rgula. Abaixo o wellfare state, n�o concess�es. E depois at� brinquei com alguns, as cavernas em que eles
estavam s�o as que eu quereria agora, para ficar resistindo a essa onda neoliberal que est� a�. Mas, n�o temos
essas condi��es.

Entre 60 e 80 j� dava para notar a mudan�a. A� foi quando o neoliberalismo assumiu uma formata��o mais
cient�fica. Em v�rias escolas econ�micas e pol�ticas adquire status cientifico e come�a a tomar as universidades
norte-americanas. Entre 60 e 80 eles j� ganham uns tr�s ou quatro pr�mios Nobel. Isto �, j� estava, mais ou menos
claro que, na academia, o liberalismo estava ganhando a queda de bra�o com os keynesianos.

Pois bem, 80/90, eles chegam ao poder. Eu diria que de 90 para frente eles viram quase santos (risos...).

Quais os ideais centrais dessa nova utopia, meus amigos? Eu diria, muito resumidos, as mesmas do velho
liberalismo. Os ideais centrais s�o, exatamente, os mesmos. H� varia��es na forma de implementa��o, mas os
ideais s�o os mesmos.

Quais s�o os ideais centrais que definem a utopia liberal desde o s�culo XVIII e voltam a definir a utopia
neoliberal no final do s�culo XX?

Primeiro, a despolitiza��o da economia.

Segundo, a desregula��o de todos os mercados, em particular os mercados do dinheiro e do trabalho.

E, terceiro, por deriva��o, o m�nimo de estado poss�vel. Sempre foi, sempre foi.

Quarto, a id�ia de igualdade � aceita, apenas, como condi��o, desculpa, como condi��es iguais para todos, na
largada. (risos...).

N�o � poss�vel discutir, cientificamente, o conceito de justi�a social, n�o existe esse conceito para os liberais, para
os neoliberais. N�o h� como determin�-lo, para usar outras palavras. Ent�o, o que voc� pode � criar condi��es
iguais, na largada, da� para frente, cada cavalo por si.

O problema que eles nunca enfrentaram �: dado que os cavalos j� est�o todos a�, como � que a gente consegue
botar eles na largada de novo? (risos...). Isso � um problema que eles nunca enfrentaram, mas, deixa pra l�.

Pois bem, se isso a� � t�o velho quanto o s�culo XVII, voc�s vejam, para quem n�o conhece hist�ria econ�mica,
houve uma escola de pensamento econ�mica, na Fran�a, no s�culo XVII/XVIII chamada "OS FISIOCRATAS".

� a primeira formula��o mais te�rica da economia, eles tinham uma id�ia muito clara, eles achavam que a
sociedade seria perfeita se tudo fosse mercado.

Eles eram muito mais radicais. Eles achavam que a vida toda dos homens se se movesse pelo mercado, ficaria
igual � natureza e seria o equil�brio universal, mas, a�, os fisiocratas diziam: tem um problema que impede que isso
aconte�a.

Qual � o problema? Chama-se pol�tica. A pol�tica. A pol�tica, coisa que os senhores ouvir�o, ouvir�o e ouvir�o, 300,
400 anos depois. � a pol�tica. Mas, os fisiocratas, que eram meio chegados a analisar, examinando a nossa esp�cie,
chegaram � conclus�o que a pol�tica n�o dava para amputar. Que a negada gostava mesmo de pol�tica. Ent�o, eles
chegaram a uma solu��o original.

S�culo XVIII: para conseguir que os mercados funcionem, n�s precisamos de um tirano esclarecido, porque se n�s
maximizarmos o poder num tirano esclarecido (esclarecido em que sentido?), que sabe que os mercados � que t�m
que funcionar e que os pol�ticos t�m que ser eliminados - menos ele (risos...), menos ele - ent�o, n�s poderemos
chegar a uma economia de mercado perfeito.

Muitos anos depois, houve pessoas que acharam que o Sr. Pinochet era disc�pulo dos fisiocratas, mas, enfim...

Segunda pergunta: se essas s�o as coisas n�o novas, quais s�o as coisas que essa nova matriz traz de novo? O que
� que eles trazem de novo? Eu diria, em primeiro lugar que, no s�culo XVIII, eles estavam combatendo contra o
estado absolutista e, portanto, nesse sentido, na ess�ncia do combate, eles eram pr� ou protodemocratas Hoje, o
combate dos neoliberais foi muito menos contra o totalitarismo socialista, coisa que eles sempre consideram uma
coisa de menor relev�ncia e j� derrotado, e o objeto central de seu combate � o estado do bem estar social.

� outra coisa, quer dizer, se na luta contra o absolutismo, no s�culo XVIII, poder-se-ia dizer que eles eram germes
democratas, na luta contra o estado do bem estar social, no fim do s�culo XX, a gente pode dizer, com todas as
letras, que eles s�o radicalmente antidemocratas.

Em segundo lugar, eu acho que a outra grande novidade e que acabou dando um impulso enorme ao neoliberalismo,
transformando o neoliberalismo numa coisa quase implac�vel, inevit�vel, a linguagem da natureza, foi a
combina��o, a articula��o " virtuosa " que ocorreu nos anos 80, entre a progress�o das id�ias neoliberais, por um
lado nos governos, nas pol�ticas, e a progress�o, por outro lado, do fen�meno da globaliza��o.

Esse casamento entre id�ias, pol�ticas e reformas neoliberais e avan�o da globaliza��o, fez da globaliza��o o cavalo
que levou as id�ias neoliberais at� o oriente, e fez das id�ias neoliberais o cavalo que est� levando a globaliza��o
aos espa�os mundiais que ainda n�o aplicaram as reformas devidas e requeridas, como disse o Sr. John
Williamson.

Pois bem, se essa � a novidade, como eu vejo a for�a pol�tica deles? Por que adquiriram forca pol�tica t�o
rapidamente, nos pa�ses centrais, n�o aqui; aqui tamb�m, mas, foi um pouquinho depois, na segunda metade dos
anos 70? Eu diria que a grande for�a pol�tica deles, na segunda metade dos anos 70, decorreu do fato de que a
economia mundial estava em recess�o, estava em crise, havia infla��o, aumentava o desemprego e aumentava o
gasto social do estado, evidentemente, pois se o estado do bem estar social era para gente desempregada, entre
outras coisas, ent�o, tinha que aumentar o gasto.

Diagn�stico liberal: isso � resultado do excesso de democracia, do excesso de estado, do excesso de regula��o e
do excesso de for�a dos organismos sindicais. Enfim, os neoliberais tinham a coragem de dizer que a culpa da crise
eram, exatamente, os pilares em que se sustentou o sucesso do wellfare state, nos pa�ses centrais, e j� direi, um
pouco mais � frente, o sucesso muito pouco social democrata do desenvolvimentismo em alguns pa�ses
latino-americanos.

O que � que eles propunham no plano pr�tico? Propunham no plano pr�tico, e a� pensem na Sra. Thatcher antes
que ningu�m, primeiro, no plano social, � restri��o dos direitos e das atividades do movimento sindical.

Esse foi o primeiro ataque da Sra. Thatcher, muito antes de privatizar. Aten��o, privatiza��o � uma coisa muito
tardia, no governo da Sra. Thatcher. Agora, a destrui��o dos sindicatos foi imediata, foi imediata. O direito de
greve, o direito de organiza��o, e por a� vai.

Em segundo lugar, no plano pol�tico, a redu��o radical da presen�a estatal na economia e na sociedade, via
desregula��o, privatiza��o e abertura comercial.

Em terceiro lugar, no plano econ�mico, o que os economistas chamaram de supply side economy, isto �, o que
alguns economistas chamam de pol�tica monet�ria restrita, pol�tica fiscal austera, a diminui��o da carga fiscal
sobre o capital para que o capital possa ficar mais competitivo e a flexibiliza��o do mercado de trabalho para que o
capital possa contratar o trabalho de maneira mais acorde com as exig�ncias da competitividade global.

Em s�ntese, do ponto de vista que nos interessa aqui, a pol�tica concreta do neoliberalismo, quando feita a governos
dos pa�ses centrais, passou pela desmontagem do wellfare state, at� onde foi poss�vel, e pela devolu��o do trabalho
� condi��o de uma mera mercadoria, cujo pre�o e cujo n�vel de ocupa��o deve ser determinado, segundo os
neoliberais, exclusivamente pelo mercado.

Uma nova pergunta: quais os resultados mais not�rios dessa terapia depois de 15 anos de aplica��o? Aten��o, n�s
estamos h� quase 20 anos em era neoliberal, porque, �s vezes, as pessoas falam como se estiv�ssemos ontem.
N�o, n�o, n�o, essas id�ias e essas pol�ticas neoliberais comandam os principais pa�ses, as principais economias e,
a partir de certos �rg�os, eu diria a dire��o geral da economia mundial, h� uns 15 anos.

Quais s�o os resultados? Qual � a avalia��o que se pode fazer dessas pol�ticas liberais?

Eu diria, primeiramente, que, nesses 15 anos, essas pol�ticas neoliberais geraram um crescimento extremamente
med�ocre, extremamente med�ocre. Quer dizer, comparado com o per�odo de ouro do capitalismo, do keynesiano
perverso, intervencionista, distributivista, pouco competitivo, onde cresceram a produtividade, os sal�rios e a
produ��o muito mais, muito mais; o dobro e o triplo do que cresceram no per�odo neoliberal.

Nesse per�odo, as infla��es foram contidas. Se esse era o objetivo, foram contidas. A infla��o est� a n�vel
baix�ssimo em quase todos os pa�ses da OCDE.

Terceiro lugar, se era o objetivo, os gastos sociais foram reduzidos, os gastos sociais p�blicos foram reduzidos.

Em quarto lugar, se esse era o objetivo, os organismos sindicais perderam imensamente o poder.

Em quinto lugar, se era necess�rio reduzir os sal�rios para subir os lucros e diminuir os direitos trabalhistas para
diminuir a carga fiscal do capital, tamb�m foi extraordinariamente bem sucedido.

Foi um projeto bem sucedido. Em compensa��o, esse mesmo projeto, nesses pa�ses, n�o conseguiu fazer com que a
economia voltasse a crescer.

A produtividade nunca mais cresceu como anteriormente. Os sal�rios nunca mais recuperaram a sua participa��o
na riqueza nacional. A riqueza concentrou-se de uma forma nunca dantes vista na hist�ria do capitalismo. Por um
lapso de dez anos, a riqueza concentrou-se em regi�es e por pessoas, por pessoas (outro dia, O Globo publicou que
380 pessoas, no mundo, det�m 43% da riqueza...). Por outro lado, se os gastos sociais ca�ram, os gastos p�blicos
n�o ca�ram, mantiveram-se iguais na maioria dos pa�ses centrais, ou aumentaram.

O que houve foi uma redefini��o do gasto. Isto �, aumentou a quantidade de recursos gastos com a d�vida
financeira e diminuiu a quantidade de gastos com sa�de, educa��o,
sei l�...

Por fim, essa longa era neoliberal nos deixou um desemprego, m�dio, de 11% da popula��o, 33 milh�es de
desempregados na OCDE. E, s� no pa�s que foi, um pouco, a menina dos olhos da d�cada passada, na Espanha do
senhor Gonzalez, o desemprego da popula��o adulta estava em 24% e da popula��o jovem at� 20 anos estava em
34%. E isso porque adotou-se os contratos de trabalhos flex�veis, modernos. "Flex�veis", voc�s sabem como � que
�: trabalha hoje � noite, amanh� n�o trabalha, uma semana, tchau, passar bem, aparece outro dia. E o desemprego
aumenta e s� aumenta.

Pois bem, terceiro t�pico: como � que isso chegou na Am�rica Latina e que efeito t�m essas pol�ticas neoliberais na
Am�rica Latina?

Eu diria que, se, tamb�m, fiz�ssemos um flashback factual e das id�ias, esse quadro internacional de ruptura da
ordem mundial, em 73, e, depois, de recomposi��o conservadora, em 89, nos atinge, evidentemente que nos atinge.
Atinge como? Atinge, primeiro, em 73, liquidando, de vez, com v�rias pretens�es desenvolvimentistas e outras do
socialismo democr�tico. � dali, daquele momento, que dois pa�ses latino-americanos aderem, de imediato, ao
programa neoliberal.

Nesse sentido, h� que se dizer em homenagem � Am�rica Latina: em alguma coisa foi precursora, em inventar o
tirano de mercado. O Chile virou neoliberal muito antes do Consenso de Washington. De certa maneira, se poderia
dizer que o Consenso de Washington, que o senhor John Williamson escreveu, estava copiando, um pouco, o
modelo do Chile. E nisso ele � sincero; quando eu digo que essas id�ias s�o dominantes aqui, em Washington, eu
n�o digo que elas foram produzidas em Washington, podem ser produzidas por intelectuais, sei l� o que, de outras
pra�as, de outras pra�as.

O Chile, nisso, tem um aporte decisivo como laborat�rio de experimenta��o. A Argentina tamb�m entrou a�, nesse
momento, em particular em 77/78, e parte para um projeto enlouquecido, de liberaliza��o ao tr�nsito, da noite para
o dia, dos mercados financeiros, cambiais e, com isso, provocou uma carga descomunal.

Mas, o que eu queria chamar mais aten��o � para o fato de que assim como a era 50/73 ou se voc�s quiserem
50/79 foi a era dos pa�ses centrais, a era de ouro, a era do wellfare, sucedida, pelas raz�es que tentamos sugerir,
ainda que de forma embrion�ria, por esse novo modelo neoliberal, aqui embaixo, nos tr�picos, essa era de sucesso
correspondeu ao que se chamaria, usando, de maneira bastante flex�vel a palavra, a era do desenvolvimentismo.

Quer dizer, eles fizeram o wellfare; n�s, n�o todos, n�o todos, nem sempre, tentamos a trajet�ria
desenvolvimentista. Os que se mantiveram at� mais tarde, at� entrar nos anos 80, foram o M�xico e o Brasil, at�
porque o Chile e a Argentina j� tinham desembarcado antes, na crise dos anos 60/70, do modelo de substitui��o de
importa��es.

Ent�o, o que aconteceu na virada de 80 quando n�s, aparentemente, a� quando digo n�s, j� estou falando de
brasileiros, n�s naveg�vamos com o endividamento externo, naquele momento, n�s j� est�vamos com as nossa
finan�as internacionalizadas, levamos o impacto de 79/82.

Como � que esse impacto de 79/82 acaba de matar o desenvolvimentismo latino-americano? No primeiro momento,
por meio de quatro choques, quatro choques; e s� n�s tivemos, os asi�ticos n�o tiveram. Sim, o do pre�o do
petr�leo, todo mundo teve. Sim, o das altas taxas de juros norte-americanos, que, depois, se generalizaram e
chutaram nossa d�vida l� para cima. Todo mundo teve. Sim, a queda dos pre�os das nossas commodities, no
mercado internacional, porque a pol�tica americana gerou uma recess�o mundial e os nossos pre�os foram para
baixo na hora em que nossa d�vida ia para cima.

Mas, tem um 4o choque que a �sia n�o sofreu e j� antecipa qualquer pergunta posterior: por que � que a �sia n�o
seguiu a mesma trajet�ria nossa?

J� come�a por a�, que foi o afastamento do sistema financeiro internacional, durante uma d�cada, para uma
economia como a nossa, que tinha os financiamentos das suas atividades internas e, cada vez mais, o pr�prio
estado, internacionalizados. E isso nos foi cortado.

Isso foi cortado no momento da morat�ria do M�xico, em 1982. Isso n�o aconteceu com a Cor�ia, n�o aconteceu
com os tigres asi�ticos. O Jap�o teve uma outra condu��o na d�vida dos asi�ticos,

Muito bem, esse afastamento do sistema financeiro internacional, no meu entender, rigorosamente, � a causa
principal pela qual n�s fomos jogados na chamada d�cada perdida, da estagna��o, da recess�o, de mil planos de
estabiliza��o e, tamb�m, evidentemente, uma d�cada n�o perdida pelo processo da redemocratiza��o.

Pergunta: nesse contexto de crise dos anos 80, como foi que esse programa de pol�ticas e reformas neoliberais
chegou e venceu, tamb�m, na Am�rica Latina?

A partir de 82 - estou chegando ao final - (risos...) e sobretudo a partir de 85, praticamente, o eixo central da
pol�tica econ�mica latino-americana, sobretudo nos pa�ses que j� n�o haviam naufragado, passa a girar em torno da
renegocia��o da d�vida externa, pela raz�o que lhes havia dito, ela era decisiva para o financiamento da nossa
d�vida econ�mica interna, privada e p�blica. N�o dava, o modelo que n�s t�nhamos montado era um modelo incapaz
de viver sem financiamento externo, portanto, a suspens�o, privada, discreta, " n�o politicamente decidida ", do
financiamento externo, teve um efeito sobre n�s, diria eu, quase an�logo ao bloqueio comercial contra Cuba. N�s
fomos bloqueados pelo lado que mais nos podia matar, que era o do financiamento.

No caso brasileiro, ficamos bloqueados de 82 at� quando o senhor Malan, finalmente, fechou o acordo da d�vida
externa, que eu acho que foi em 92 ou 93; � uma d�cada, exatamente.

Pois bem, nesse per�odo, o fru-fru da democratiza��o chamava a aten��o dos nossos olhos; em particular das
pessoas que haviam vivido o autoritarismo ou tinham estado contra o autoritarismo, me incluo entre essas pessoas,
pela quest�o democr�tica.

Evidentemente que os avan�os e retrocessos da democratiza��o quase que ocupavam a cena inteira da
pol�tica-espet�culo, mas, por baixo do pano, o que, realmente, estava contando sobre a viabiliza��o de retomada do
velho modelo desenvolvimentista ou de mudan�a, do velho modelo desenvolvimentista, era a volta ao
financiamento internacional.

Pequeno detalhe; na negocia��o da volta ao sistema financeiro internacional � que come�a a aparecer, sobretudo a
partir de 1985/1989, um novo pacote de condicionalidades, isto �, essas grandes ag�ncias internacionais
emprestadoras sempre emprestaram mediante condiconalidades. Isto �, eles diziam assim: eu dou tanto para o
senhor fazer o seu sistema el�trico (na �poca em que o BIRD era desenvolvimentista), eu financio seu sistema de
constru��o de energia el�trica, mas, em compensa��o, eu quero saber qual vai ser o pre�o da tarifa, como � que vai
equilibrar o or�amento, quem � que o senhor vai subsidiar, enfim, condicionalidades.

Eu quero saber como � que est� sua conta externa, como � que est�o suas reservas, essas coisas assim. A
novidade do p�s 85/86 � que surge sobre a mesa um pacote de condicionalidades um pouco mais frondoso do que
era antes.

J� n�o era mais a exig�ncia de equil�brio fiscal, austeridade monet�ria, n�o. Sim equil�brio fiscal, austeridade
monet�ria, estabiliza��o monet�ria, mas, voc�s n�o conseguir�o fazer isso se voc�s n�o se desfizerem
completamente do modelo anterior. E, portanto, voltamos �s reformas pol�ticas institucionais, das quais nos falava
naquele seu modesto paper o Sr. John Williamson, nada mais do que isso, nada mais do que isso.

N�o h� possibilidade de os senhores voltarem ao sistema financeiro internacional e n�o h� possibilidade de os
senhores voltarem a querer crescer se os senhores insistirem com esse modelo desenvolvimentista, com o estado
imperativo, com a economia fechada, com mercados de trabalho regulados, com os mercados financeiros regulados,
n�o d�, n�o d�.

Para que os senhores voltem ao sistema financeiro internacional as condi��es s�o: desregula��o, privatiza��o,
abertura comercial, desmontagem do estado desenvolvimentista.

Como voc�s podem perceber, guardadas as devidas propor��es, aquele mesmo diagn�stico que os liberais faziam
sobre o wellfare state, recessivo, interventor, regulador, gastador, reaparece em pa�ses que nunca tiveram wellfare
state ou tiveram wellfare state tremendamente vagabundos, mas, a�, o problema n�o � esse, seguem dizendo:
recessivo, interventor, gastador, por�m, em atividades econ�micas produtivas.

Quer dizer, fez-se um ajuste, os intelectuais servem para isso, todos n�s. Alguns resistem, mas, fizeram uma
reciclagem no discurso liberal, para facilitar, (n�o � bem assim?) o da Sra. Thatcher, s� porque ela � uma boa
cabe�a para dizer as coisas como s�o.

Ela fez uma retradu��o disso para um continente cheio de mis�rias, sem o wellfare state, sem gastos sociais, muito
poucos gastos sociais, mas, a� � que o gol entra por outra janela: voc�s s�o gastadores; estufaram de gastos em
Petrobras, em Vale do Rio Doce, nessas empresas, excesso de presen�a produtiva do estado e n�o excesso de
presen�a protetora.

Pois bem, isso j� � a segunda metade dos anos oitenta, in�cio dos anos 90, � nesse per�odo que a Argentina acerta a
renegocia��o da sua d�vida, o M�xico acerta a renegocia��o da sua d�vida e n�s, brasileiros, acertamos a
renegocia��o da nossa d�vida e temos a honra de receber ingresso para voltar ao sistema financeiro internacional,
apenas, numa exata hora em que o sistema financeiro internacional estava em uma explos�o da bolha financeira, a
chamada financeiriza��o capitalista ou globaliza��o financeira.

Quer dizer, entramos por uma porta na expectativa de encontrarmos investimentos produtivos que nos
reconduzissem ao sucesso, ao crescimento e o que n�s encontramos foram capitais "sobrantes" e, absolutamente
entusiasmados com as nossas taxas de juros, com as nossas vantagens em termos de investimento, de portfolio,
enfim, uma maravilha.

Foi um feliz casamento. N�s resolvemos o nosso problema e voltamos ao sistema financeiro internacional; quando
entramos nos bancos percebemos que nem eram os bancos que mandavam mais. Quem mandava no sistema
financeiro internacional n�o eram os bancos, era outra coisa.

Negociamos dez anos com os bancos e quando conseguimos entrar na porta era outra coisa, era outro neg�cio.
Eram fundos de seguros, fundos de pens�o, outros tipos de agentes financeiros que jogavam o jogo financeiro
internacional.

Paralelo a isso, eu diria que, nessa virada dos 80/90, duas coisas acontecem: essas condicionalidades externas
perdem a cara de imposi��o, na medida em que v�rias for�as pol�ticas latino-americanas, de todos os matizes
ideol�gicos e de todos os partidos v�o se convencendo de que o �nico caminho para a Am�rica Latina passa mesmo
pela destrui��o do modelo desenvolvimentista e pela constru��o desse novo neg�cio. Ent�o, as for�as internas
desses pa�ses come�am a fazer coaliz�es e mesmo que digam alguma coisa em elei��es acabam ganhando e
acabam aplicando o mesmo programa do Dr. Williamson. Que n�o � dele.

E a segunda coisa importante, que passa nessa virada, � que, no contexto desse retorno ao sistema financeiro
internacional, e pela porta financeira, viabiliza-se essa nova gera��o de planos de estabiliza��o argentino,
mexicano e brasileiro e que causaram tamanho entusiasmo na sua primeira hora; porque parecia que estabilizava,
crescia, o povo comia feij�o. N�o, no Brasil, acho que era galinha, at� outro dia, e a classe media podia ter os
carros que gosta, em geral. E era festa, parecia que era festa.

Foi o momento em que algumas pessoas olhando para esse continente pensaram: acho que de fora � dif�cil, mas
aqui de dentro sim, os latino-americanos tinham virado g�nios, tinham descoberto o segredo e quebrado o c�rculo
quadrado da estabiliza��o, do crescimento, do consumo e consumo para todos. Pois bem, a hist�ria � recente, os
senhores todos sabem, isso acontece com o Salinas.

No M�xico, o plano j� tinha come�ado, mas, o Salinas � quem implementa, rigorosamente, essa nova inser��o,
essa inser��o passiva, e o faz de maneira t�o brilhante que o M�xico foi conduzido a membro da OCDE -
Organiza��o de Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico, isto �, o organismo internacional que re�ne as
pot�ncias mais ricas, clube exclusivo dos pa�ses do primeiro mundo.

Ent�o, para aquela turma que discute credibilidade etc, o M�xico � um verdadeiro espet�culo de credibilidade, pois
foi aceito no OCDE, foi aceito na NAFTA, o seu ministro da fazenda era candidato a pr�mio Nobel de economia e o
seu Presidente da Rep�blica, o Salinas, hoje, desaparecido, era candidato a membro da Organiza��o Mundial do
Com�rcio.

Ent�o, em mat�ria de credibilidade, se eu fosse uma pobre viuvinha su��a e dissesse: onde � que eu boto meu
dinheiro? No M�xico, com essa quantidade de luminares e com os Estados Unidos ali atr�s, boto no M�xico, boto
no M�xico.

Depois da crise mexicana, quando ficou absolutamente �bvio, alguns vinham dizendo, mas, sempre fomos taxados
de catastrofistas, que esse modelo n�o andava, que n�o era poss�vel crescer por esse modelo, que ia bater na
balan�a comercial, nessas quest�es economicistas, ou na quest�o fiscal, como de fato est� batendo.

Mas foi no M�xico, como havia muito dinheiro envolvido, que os intelectuais do mundo inteiro foram obrigados a
sair com mangueiras, pelo mundo, dizendo que nada daquilo tinha import�ncia, que, no fundo, nessas horas,
queima-se o mais fraco, era culpa da m� condu��o do Sr. Salinas, do seu ministro candidato ao Nobel e de toda
aquela turma que estava j� com a fita no pesco�o e o pessoal j� estava querendo apertar as fitas nos pesco�os
deles.

Eu acho que, a partir da�, a gente podia dizer tr�s palavras finais sobre as incertezas que est�o na frente desse
modelo neoliberal, que est� na Am�rica Latina. Eu, por exemplo, cunharia tr�s ou quatro, mais do que isso seria
acabar com a paci�ncia de voc�s e a minha resist�ncia.

A primeira grande incerteza que eu diria, depois de ouvir entrevistas de autoridades daqueles centros de
"pensa��o" de Washington, do circuito de poder de Washington, que, na verdade, deixa os alunos deles aqui
desesperados, mas, que, na verdade, ou os caras est�o querendo tirar o deles da reta como prest�gio, porque como
investimento imagino que j� retiraram, mas o que eles disseram � muito simples: esse neg�cio n�o anda sem
crescimento. � t�o simples quanto isso. N�o anda. Essa estabilidade n�o se sustenta mais tr�s, quatro anos, mas,
isso � uma quest�o de o investidor saber o tempo de saltar fora, o problema � de viabilidade, de consist�ncia
l�gica.

O que eles disseram foi que n�o tem consist�ncia, � inconsistente. � �bvio que eles deram uma sa�da: deve-se
mexer no c�mbio. Ao que todos os nossos disc�pulos daqueles institutos de "pensa��o" (afinal, estudaram neles),
responderam: n�o se pode mexer no c�mbio de uma economia que tem uma tradi��o de auto-regula��o e no
momento que voc� disser "oba!" - todo mundo some.

N�o quero dizer que um ou outro esteja com a raz�o. O que posso dizer � que esse modelo � um c�rculo quadrado.
N�o h� crescimento nessa estabiliza��o. Pode haver espasm�dicos, como no Brasil j� foi promovido, como houve
no in�cio na Argentina e no M�xico, como poder� ser promovido no ano que vem.

Voc� pode, sim, usar as reservas e induzir um crescimento n�o consistente para atender v�rios motivos,
principalmente eleitorais.

Em segundo lugar, estamos obrigados, no plano econ�mico, tamb�m, a perceber o processo acelerado de
desindustrializa��o que a Argentina j� sofreu, o Chile j� viveu, por�m, no nosso caso, a estrutura industrial resistiu
mais tempo.

� onde vem o desemprego. E a id�ia de que voc� vai conseguir emprego requalificando m�o de obra � uma
tremenda balela. E isso tende a aumentar, a menos que o pa�s volte a crescer. No plano social, o que se observa
depois dessa d�cada de pol�ticas neoliberais � como na Europa: crescimento do desemprego e aumento da
concentra��o da renda. Em todo lugar, o modelo tem o mesmo efeito. Nesse sentido � consistente o modelo.

E, no plano pol�tico, eu diria que tem duas coisas complicadas pela frente, na continua��o desse modelo e eu
suponho que continuar�; as nossas elites querem, os pa�ses dominantes querem, portanto, suponho que continuar�.
Primeiro, � como resistir mais tempo � paralisia crescente do estado em todos os seus n�veis federativos. Os
governos est�o cada vez mais paralisados pelas suas d�vidas. Os governos dos estados brasileiros e creio que dos
argentinos, h� j� algum tempo idem, est�o cada vez mais paralisados pelas suas d�vidas, ainda n�o tiveram a
ousadia, as prov�ncias argentinas, de criar moeda provincial pr�pria e est�o alinhados na estrat�gia de que
precisamos de equil�brio fiscal.

Eu escrevi, em algum momento, um artigo na Folha de S�o Paulo, onde eu dizia, os moderados querem o equil�brio
fiscal. Quando n�s alcan�armos esse equil�brio fiscal, com perd�o da p�ssima figura liter�ria, enfim, n�o ser� mais
necess�rio porque os contribuintes j� morreram.

Segunda quest�o que eu vejo com enorme preocupa��o, no horizonte desse final de mil�nio, na trajet�ria das
pol�ticas neoliberais na Am�rica Latina, �, e vejo isso escrito em v�rios lugares, h� alguns anos, s� que agora a
coisa est� ficando mais vis�vel, uma indiscut�vel l�gica autorit�ria impl�cita, no projeto.

N�o � que os seus l�deres sejam autorit�rios. Espero que n�o. N�o boto a m�o no fogo pelo Sr. Fujimori, mas, os
outros, enfim, gostar�o de se reeleger tr�s vezes. O Sr. Fujimori j� conseguiu. O nosso, aqui, vai para a segunda. O
argentino j� foi para a segunda. E se o Sr. Fujimori j� foi tr�s vezes e se os demais seguirem o seu exemplo, logo,
logo, eles ter�o ficado mais tempo no poder que os militares. E, de repente, essa triste, se n�o fosse t�o dram�tica,
percep��o: � como se a Am�rica Latina n�o pudesse ser democr�tica; inventa formas, esvazia a pol�tica.

Foi o que eu disse a uma entrevista � Veja: os presidentes n�o precisam mais ser derrubados, j� foram
esterilizados. Diante disso, uma pergunta final e um coment�rio final:

Pergunta final: o que dizem os neoliberais frente a esses efeitos negativos das suas pol�ticas, a esses resultados
n�o muito positivos das suas pol�ticas? A n�vel internacional e a n�vel nacional o que eu consigo ler das principais
cabe�as, que tentam pensar e racionalizar esse projeto, a resposta � sempre a mesma: aprofundar e aprofundar.

Ent�o, � comum alguns editorialistas de jornais escreverem: h� que ser fundamentalistas sen�o, n�o teremos
estabiliza��o e h� que avan�ar e avan�ar.

Recentemente, um representante das institui��es financeiras internacionais, em reuni�o realizada no Brasil, disse:
h� que se alcan�ar o equil�brio fiscal a qualquer custo e os representantes do governo neoliberal brasileiro,
prontamente, responderam: estamos batalhando, tentando; estamos tentando vender as estatais, estamos tentando
subir a carga fiscal.

Ao que o representante das institui��es internacionais respondeu: "vender estatais n�o resolve e subir a carga
fiscal os senhores n�o podem, porque diminui a competitividade da sua economia. Os senhores t�m de seguir
cortando e cortando e cortando gastos".

Eu n�o sei de onde os senhores s�o, eu sou de uma universidade, freq�ento uma universidade onde nada mais
funciona, nem as luzes, nem as l�mpadas; se seguirmos essa linha, nem o sistema de sa�de funciona e chegamos
�quela id�ia: teremos, um dia, o equil�brio fiscal.

No meu coment�rio final, eu diria, mais ou menos, assim: se n�o parece haver d�vidas, numa considera��o muito
ampla, dos acontecimentos, de que essa era neoliberal tem sido desenvolvida, em todo o mundo, como a era de
indiscut�vel vingan�a pelo mercado do capital contra o trabalho, no mundo desenvolvido, e eu n�o sei se isso ter�
retorno, se a hist�ria � c�clica e voltaremos de novo a uma revitaliza��o do trabalho, n�o sei, porque a verdade �
que, olhando em perspectiva, a era de ouro keynesiana, social-democrata, com rela��o aos trezentos anos de
capitalismo, � rigorosamente excepcional.

Isso que n�s estamos vivendo, agora, � muito parecido com o capitalismo que o Marx escreveu. � uma sensa��o
assim: bom, o Sr. Marx perdeu como estrategista do socialismo mas, parece que vem ganhando pontos, a cada dia
e a cada hora, como te�rico do capitalismo.

Por outro lado, eu pergunto: se isso, no mundo do capitalismo, pode ser entendido como uma vingan�a, definitiva ou
passageira, do capital sobre o trabalho, contra o trabalho, o que se pode esperar, meus amigos, no final dessa
vingan�a do capital contra o trabalho, num continente como esse, latino-americano, onde, h� muito e muito tempo, o
trabalho nunca teve vez, nem voz?

Obrigado.

(Colabora��o de para a p�gina do PDT)
Palestra proferida pelo professor Jos� Lu�s Fiori (UFRJ)
Local: Centro Cultural Banco do Brasil
Data: 04 de setembro de 1996
Patroc�nio: Federa��o Brasileira de Associa��es de Engenheiros - FEBRAE

O que é o Consenso de Washington?

O Consenso de Washington foi uma recomendação internacional elaborada em 1989, que visava a propalar a conduta econômica neoliberal com a intenção de combater as crises e misérias dos países subdesenvolvidos, sobretudo os da América Latina. Sua elaboração ficou a cargo do economista norte-americano John Williamson.

Quais eram as principais ideias do Consenso de Washington?

De modo geral, os objetivos do Consenso de Washington era impulsionar o livre mercado, a abertura comercial e econômica dos países e o controle fiscal. Essas ideiaseram adotadas pelos governos de nações desenvolvidos, a exemplo do Reino Unido e do próprio Estados Unidos, desde a década de 1970.

Quais são as principais características do neoliberalismo?

As características do Neoliberalismo são: Privatização de empresas estatais. Livre circulação de capitais internacionais. Abertura econômica para a entrada de empresas multinacionais.

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