As tensões e discussões em torno da usina de Belo Monte começaram mais de 20 anos antes da construção. Em 2010, sob protestos de ambientalistas, processos e liminares judiciais que tentavam impedir a obra, o governo deu o passo definitivo para tirar do papel o projeto em debate há 35 anos.
A usina de Belo Monte foi inaugurada este ano, pouco depois de surgirem denúncias de corrupção nas obras. O ex-senador Delcidio Amaral e um dos empreiteiros disseram que verbas da construção foram desviadas para financiar partidos políticos. Segundo eles, o dinheiro ia para o PT e para o PMDB.
Todos os dias, ônibus da usina de Belo Monte deixam dezenas de trabalhadores na rodoviária de Altamira. Há quatro anos, a situação era bem diferente. Estima-se que a região de Altamira, no oeste do Pará, tenha recebido quase cem mil pessoas, desde o começo das obras de Belo Monte. Com a parte de engenharia civil da obra
quase no fim, pelo menos 22 mil trabalhadores já foram demitidos. Com a cidade vazia, quem vive de comércio e serviços sente os impactos dessas demissões.
A situação também é difícil para os ribeirinhos do rio Xingu. Quem vive da pesca, reclama da escassez de peixes na região da hidrelétrica. Para a bióloga Cristiane Carneiro, da Universidade Federal do Pará, as explosões das encostas durante a obra e a forte iluminação dos canteiros causaram a morte dos peixes. A interrupção do fluxo do rio também é outro motivo apontado por ela em um dossiê sobre a pesca no Xingu, elaborado pelo Instituto Socioambiental. “Nós identificamos aqui um índice de oxigênio dissolvido na água de 2.18ml/l. O ideal seria de 6ml/l para mais, então o oxigênio está muito baixo”, explica ela.
Os pescadores sentem os impactos da usina, mas não há compensação prevista para quem vive abaixo da barragem. A Norte Energia afirma que fará correções nas compensações ambientais, se novos laudos acusarem impactos na região. “Os estudos não identificavam a necessidade de trabalhar impactos nessa região, como os nossos monitoramentos identificaram que não ocorreram. Se precisar fazer correções, serão feitas”, garante José de Anchieta, diretor socioambiental da Norte Energia.
O crescimento da violência é outro problema atribuído à obra de Belo Monte. Os últimos dados de homicídios colocam Altamira como a quinta cidade onde mais se mata no Brasil. A Norte Energia, responsável pelas obras da usina, fez um convênio com o estado do Pará e investiu R$ 100 milhões em segurança. A nova penitenciária vai ficar pronta em setembro, seis anos depois do começo da barragem.
Estudos ambientais apontam que, com a barragem do rio Xingu, o nível do lençol freático vai subir, fazendo com que as fossas tenham contato com os poços artesianos das casas, contaminando a água que as pessoas ingerem.
As equipes da prefeitura de Altamira passam o dia fazendo reparos na rede de saneamento construída pela Norte Energia, mas a principal crítica é a de que as ligações da rede saneamento com as casas não foram construídas e, apesar da cidade conseguir fazer o tratamento da água, o abastecimento não alcança a toda a população.
A ex-presidente do Ibama, Marilene Ramos, foi a responsável por conceder a licença de operação para a usina de Belo Monte. Ela diz que a Norte Energia atendeu a maior parte das condições e, por isso, a usina recebeu licença de funcionamento. “O empreendedor cumpriu 92% dessas condições. Nos casos onde não houve uma justificativa adequada pelo descumprimento, o empreendedor foi multado. Nós temos mais de R$ 60 milhões em multas por descumprimento de condicionantes ambientais dadas à Norte Energia. O que se fez foi uma repactuação para o cumprimento dessas condicionantes que faltaram”.
Entre esses novos pontos acordados está a ligação da rede de esgoto com as casas. A Norte Energia promete entregar a obra até setembro. O Ministério Público Federal quer cassar a licença da usina pelo atraso na solução do problema do saneamento na cidade.
A Usina Hidrelétrica de Belo Monte é uma obra faraônica que está sendo construída no Rio Xingu, no Pará – em plena floresta amazônica – o lago da
usina terá uma área de 516 km² (1/10.000 da área da Amazônia Legal). A Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, foi orçada em R$ 16 bilhões, leiloada por R$ 19 bilhões e financiada por R$ 28 bilhões. Quase dois anos depois do início das obras,
o valor não para de subir. A construção da hidrelétrica irá provocar a alteração do regime de escoamento do rio, com redução do fluxo de água, afetando a flora e fauna
locais e introduzindo diversos impactos socioeconômicos. Um estudo formado por 40 especialistas e 230 páginas defende que a usina não é viável dos pontos de vista social e ambiental. Parte 1O que está acontencendo: entenda a polêmica em torno da usina de Belo Monte
Orçado em R$ 16 bilhões, custo da Usina de Belo Monte já supera os R$ 30 bilhões
Quais serão os impactos da Usina de Belo Monte?
Entenda os impactos ambientais de Belo Monte:
Parte 2
- Assine a petição contra a construção da usina de Belo Monte >>
A vazão da água a jusante do barramento do rio em Volta Grande do Xingu será reduzida. Esta alteração, segundo os especialistas, altera todo o ciclo ecológico da região afetada que está condicionado ao regime de secas e cheias. A obra irá gerar regimes hidrológicos distintos para o rio.
A região permanentemente alagada deverá impactar na vida de árvores, cujas raízes irão apodrecer. Estas árvores são a base da dieta de muitos peixes. Além disto, muitos peixes fazem a desova no regime de cheias, portanto, estima-se que na região seca haverá a redução nas espécies de peixes, impactando na pesca como atividade econômica e de subsistência de povos indígenas e ribeirinhos da região.
Impactos sociais
O transporte fluvial até o Rio Bacajá (um dos afluentes da margem direita do Xingu) será interrompido. Atualmente, este é o único meio de
Cacique caiapó Raoni protesta contra a construção de Belo Monte (Image via Wikipedia)transporte para comunidades ribeirinhas e indígenas chegarem até Altamira, onde encontram médicos, dentistas e fazem seus negócios, como a venda de peixes e castanhas.
De resto, as análises sobre o Estudo de Impacto Ambiental de Belo Monte feitas pelo Painel de Especialistas, que reúne pesquisadores e pesquisadoras de renomadas universidades do país, apontam que a construção da hidrelétrica vai implicar um caos social que seria causado pela migração de mais de 100 mil pessoas para a região e pelo deslocamento forçado de mais de 20 mil pessoas. Tais impactos, segundo o Painel, são acrescidos pela subestimação da população atingida e pela subestimação da área diretamente afetada.
Viabilidade econômica
O caso de Belo Monte envolve a construção de uma usina sem reservatório e que dependerá da sazonalidade das chuvas. Por isso, para alguns críticos, em época de cheia a usina deverá operar com metade da capacidade, mas, em tempo de seca, a geração pode ir um pouco abaixo de 4,5 mil MW, o que somado aos vários passivos sociais e ambientais coloca em xeque a viabilidade econômica do projeto.
A história nos trás exemplos infelizes de como isso pode ocorrer. A construção das usinas hidrelétricas de Tucuruí (PA) e Balbina (AM), as últimas construídas na Amazônia, são mega-obras similarmente desastrosas. Desalojaram comunidades, inundaram enormes extensões de terra e destruíram a fauna e flora daquelas regiões.
A contrapartida, que era o abastecimento de energia elétrica da população local, não foi cumprida. O desastre foi tal que, em 1989, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), depois de analisar a situação do Rio Uatumã, onde a hidrelétrica de Babina fora construída, concluiu por sua morte biológica.
Em Tucuruí não foi muito diferente. Quase dez mil famílias ficaram sem suas terras, entre indígenas e ribeirinhos. Diante desse quadro, em relação à Belo Monte, é preciso questionar a forma anti-democrática como o projeto vinha sendo conduzido, a relação custo-benefício da obra, o destino da energia a ser produzida e a inexistência de uma política energética para o país que privilegie energias alternativas.
(com informações da Wikipedia e Instituto Socioambiental)