A tecnologia chegou no mundo todo inclusive para os povos indígenas

Pessoas indígenas vivem no século XXI e têm acesso a celulares, relógios e tudo mais.

Engana-se quem ainda pensa que a tecnologia não chegou às aldeias indígenas. Atualizadas, atentas às notícias no Brasil e no mundo, assim são muitas das pessoas indígenas de hoje em dia. Algumas se tornaram influenciadoras digitais e usam a tecnologia a seu favor, outras utilizam  as redes sociais para divulgar suas culturas e lutar contra estereótipos.

No Brasil, os indígenas representam menos de 1% da população do país . Muitas comunidades precisam lutar pelos direitos básicos a um território e combater as atitudes racistas. Lutar contra o preconceito que prevalece até hoje. Trata-se da busca por direitos em um mundo em que o olhar para os indígenas ainda é de exclusão, seja sobre o que eles são e aquilo que é de seu pertencimento, seja na retirada das suas comunidades e territórios de maneira forçada, colocando-os em uma situação de completo isolamento, muitas vezes para a própria proteção deles e da cultura e tradições desses povos.

Nessas lutas, influenciadores como a indígena Lídia Guajajara transformam essa realidade em conteúdo para seus milhares de seguidores interessados em aprender questões indígenas.

“Enquanto comunicadora e influencer indígena, eu estou ocupando os espaços, usando a comunicação como uma ferramenta para dar visibilidade à luta dos povos indígenas do Brasil. As mudanças que notei, são que, de fato, muitas pessoas têm aprendido e conhecido mais de nossas vivências e realidades. São pessoas que não tinham acesso a informações verdadeiras referentes aos povos indígenas, como coisas básicas, por exemplo, como não saber que a palavra “índio” é um termo pejorativo e ofensivo quando vem de um não-indígena. Uma simples palavra que relativa os mais de 300 povos que existem”, afirma, Lídia.

Na era digital, há quem se incomode com  pessoas indígenas usando celular, como se isso fosse algo proibido e fizesse a pessoa menos indígena. Lídia Guajajara explica como a tecnologia tem ajudado no monitoramento das florestas.

“Nós estamos na era digital, e com o grande avanço da tecnologia e a facilidade de acesso que temos a essa ferramenta, não é de se surpreender que essa onda tenha chegado aos indígenas, não é mesmo?! Temos ingressado nas redes sociais para divulgar a cultura e interagir com a sociedade, principalmente para fazer nossas denúncias. E isso se tornou essencial no processo de resistência. Infelizmente, parte da sociedade é muito apegada a estereótipos e padrões e acha que aparelho celular ou qualquer outro aparelho tira ou arranca a nossa identidade e história, pelo contrário! Nós estamos no  Tik Tok,  Instagram, YouTube e Twitter,  ocupando todos esses espaços justamente como forma de organização pelo nosso modo de vida, território e defesa, para levar a nossa fala a todos e todas. Além do uso de celulares, temos acesso a outros aparelhos, como drones, justamente para monitoramento do nosso território, para fiscalizar as áreas onde tem invasores e madeireiros”.

O professor de história e Mestre em Educação Escolar Indígena, Winurru Suruí,  do povo indígena Aikewara, explica como tem usado a tecnologia em sua comunidade.

“O uso da tecnologia aqui, dentro da Terra indígena Sororó (PA), principalmente na cultura Aikewara, está sendo um avanço que não esperávamos devido a não termos acesso antes e não sabermos dessa força das tecnologias. Agora que temos esse acesso, vemos uma transformação muito grande, em relação a esse uso para um bem maior do povo Aikewara.”

Winurru diz ainda: “ com a tecnologia acessei editais de projetos, também pude ter aulas ou orientação do programa do mestrado pela orientadora, onde participei de inúmeras atividades através das ferramentas que são disponibilizadas atualmente, como Google Meet e outros, através de videoconferência. Também essa narração, que eu particularmente chamo de “ponto de vista indígena”, ajuda na compreensão melhor das pessoas que estão lá (nas áreas urbanas) ou aqui na aldeia, fazendo chegar nos seus dialetos ou na língua portuguesa as informações. As notícias estão chegando em tempo real de forma rápida, e isso traz uma reflexão de que antes éramos presos no tempo, por falta de informação das coisas que tinham relação com os direitos indígenas, entre outras coisas”.

Recentemente, em Brasília, ocorreu o Acampamento Terra Livre (ATL), evento de mobilização dos povos indígenas do Brasil em torno de seus direitos constitucionais e que acontece anualmente desde o ano de 2004. Foi possível acompanhar muitos indígenas, especialmente jovens, narrando, filmando e retratando as manifestações.  

“Vejo com bons olhos esse registro, porque assim, nós futuramente estaremos repassando para os jovens essas informações de luta dos povos indígenas, na busca incansável da garantia dos direitos que nos dá uma noção de retrocesso nos direitos conquistados através de muitas lutas. Lutas de guerreiros que nos antecederam com muitos conquistas, agora, se nós não nos mantivermos com essa vontade grande de mudar e reverter qualquer retrocesso, as lutas irão enfraquecer e nós perderemos mais e mais direitos conquistados na constituição Federal”, disse Winurru Suruí

O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT) / CONAETE/ GT “Povos Originários e Comunidades Tradicionais”, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), acredita que uma sociedade mais justa e igual para todos é construída por meio de superação de preconceitos. As populações originárias do Brasil são protagonistas da memória nacional e colaboram para a resolução dos desafios futuros da nação. Respeitá-las é colaborar na construção de um país melhor.

Qual é a relação do índio com a tecnologia?

Muitos povos indígenas têm usado a rede para atingir um público grande, dentro e fora do país. Os recursos on line são usados para romper o isolamento em que muitas comunidades vivem, e também para vencer a barreira da falta de espaço que esses povos têm nas mídias tradicionais.

Qual a importância da tecnologia para os indígenas?

Essas tecnologias chegaram para as comunidades como ferramenta para a educação, pesquisa, divulgação de produtos e da sua identidade. Antes, os nativos só assistiam ao que os brancos faziam, mas agora os brancos começam a assistir à cultura dos indígenas.”

Como os avanços tecnológicos influenciam os índios atualmente?

Ainda segundo o professor, as ferramentas tecnológicas são de suma importância para o dia a dia dos povos indígenas. Afinal, elas possibilitam o acesso deles as redes sociais, educação (aulas EaD), além de servirem como plataforma de divulgação do conhecimento tradicional, através das redes sociais.

Por que algumas pessoas consideram que os índios não podem ter tecnologia?

Resposta verificada por especialistas Isso ocorre pelo fato que existe um medo de que esses povos percam suas características e identidade que estão enraizadas numa falsa ideia de ausência de informação e de comunicação daquilo que se valoriza nas culturas das cidades.

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