Entenda a necessidade de um profissional de Educação Física sempre basear o seu trabalho no conhecimento científico do exercício físico
Atualmente muitas pessoas amantes da atividade física e esportes se sentem capazes de instruir, orientar e até mesmo prescrever um treinamento, mesmo sem conhecimento científico do exercício físico.
Primeiramente, é respaldado por lei que o único profissional habilitado e certificado para a prescrição do exercício físico é o professor de educação física. Não entrando no mérito da capacidade e conhecimento teórico-prático do profissional, isso é um direito adquirido em virtude de sua graduação em ensino superior, amparado constitucionalmente e supervisionado por órgãos regimentais.
Hoje em dia é comum a presença de blogueiros e musas fitness, celebridades, coachs e ex-atletas interagindo com o cliente, vendendo produtos e prescrevendo o melhor treino ou exercício físico para fortalecimento e hipertrofia muscular, emagrecimento, aptidão cardiorrespiratória e, claro, obtenção da saúde.
Embora muitos sejam capazes de expor e conduzir boas práticas corporais devido à vivência e aprendizagem motora e, com isso, implementar boas condutas e hábitos saudáveis, o principal fator negligenciado pelos “agentes fitness” e seus veículos de comunicação é a falta de conhecimento científico do exercício físico, treino e hábitos alimentares sugeridos.
A importância do conhecimento científico do exercício físico
Entretanto, muito do “pouco” que se sabe sobre os benefícios do exercício físico se deve às inúmeras pesquisas científicas realizadas.
Existe uma ciência por trás das descobertas oriundas da prática de exercícios. E é nela que um bom profissional deve se pautar.
Na área médica, nenhum profissional intervém em uma determinada doença ou sintoma apresentado por um paciente sem contextualização dos resultados de estudos científicos.
Por outro lado, isso é capaz de impedir muitas vezes que a Medicina seja contestada em qualquer tipo de negligência e na conduta médica utilizada para tratar um indivíduo enfermo ou que apresente sinais e sintomas diversos.
Então imagine você, sendo parado no meio da rua e uma pessoa pede para você ingerir determinada cápsula ou comprimido dizendo que aquilo é bom para sua saúde. Como saber que aquilo que você está ingerindo não irá lhe trazer prejuízos ou efeitos colaterais, seja ele oferecido por um leigo ou por um profissional?
A resposta é simples: através de pesquisas científicas.
Se na área médica e farmacológica é assim, por que na Educação Física seria diferente?
Mas a partir do momento em que ele se respalda na ciência, as intervenções e suas consequências tomam um outro rumo.
Portanto, esse seria o principal argumento para o profissional de saúde: se embasar na ciência quando estiver trabalhando. Para adquirir esses conhecimentos tão importantes é preciso, é claro, estudar e se especializar sempre. E a vantagem é que existem muitas opções de pós-graduação tanto em Educação Física (em áreas como Fitness e Grupos Especiais) quanto na Medicina (que também possui muitos cursos de extensão).
Malefícios da prescrição inadequada e o conhecimento científico do exercício físico
Muitos podem estar perguntando: mas o exercício físico seria capaz de levar uma pessoa ao óbito? Bom, não é o principal argumento para se incentivar o uso de pesquisas para intervir adequadamente, todavia, em se tratando das chances de intercorrências, lesões e até mesmo óbito, a resposta é sim!
A prescrição inadequada e que não leva em consideração as limitações psicofísicas do praticante pode trazer sérios malefícios.
De fato, não respeitar as individualidades biológicas, marcadores hemodinâmicos e/ou bioquímicos pode levar a sérios comprometimentos, desde complicações osteomioarticulares até mesmo à ruptura de vasos, ao coma e ao óbito.
“Ah, Santiago mas eu não vou trabalhar com grupos especiais, portanto o meu risco é menor”.
À você que pensa assim, eu sugiro refletir acerca de algumas questões:
Será que isso tira a necessidade de basear minha conduta profissional através conhecimento científico do exercício físico? Ademais, do ponto de vista mercadológico, será que um aluno preferiria ser amparado por um profissional quedemonstra contextualizar suas atitudes e práticas através da ciência? Como provar a um cliente/aluno a efetividade de um exercício ou método de treino empregado?
Tenha certeza que a saúde vem sempre em primeiro lugar. Hoje as pessoas são constantemente bombardeadas com informações sobre a área. E aí como comprovar que o seu trabalho irá proporcionar a melhora daquele que recebe/compra sua assistência profissional?
Além disso, o grau de comprometimento que esses problemas de saúde podem trazer na vida diária, profissional ou de produção laboral, é tanto físico quanto econômico. Ou seja, além de denegrir a saúde do praticante, intervenções erradas interferem financeiramente nos meios para reabilitação e tratamento das lesões adquiridas e, é claro, comprometem o trabalho da pessoa que é atendida.
Imagine uma pessoa ter seu “ganha pão” prejudicado por um profissional de educação física que não leva em consideração o conhecimento científico do exercício físico envolvendo musculação, treinamento aeróbico, biomecânica e cinesiologia, esportes e os diversos outros temas abordados pela Educação Física.
Portanto, não deixe se capacitar adequadamente, seja estudando ou fazendo uma pós de Educação Física, e o mais importante: tenha sempre em mãos as referências bibliográficas e científicas que respaldam a intervenção do professor de educação física nos inúmeros seguimentos da área.
Zenko Z, Ekkekakis P. Knowledge of exercise prescription guidelines among certified exercise professionals. J Strength Cond Res. 2015 May;29(5):1422-32.