Drenagem percutânea da via biliar é um procedimento médico realizado pelo Radiologista Intervencionista,indicado quando há alguma obstrução ou vazamento de bile dentro do fígado.
O que é a drenagem das vias biliares?
Drenagem da via biliar é um procedimento realizado por um médico Radiologista Intervencionista com a finalidade de drenar o líquido biliar acumulado em excesso dentro do fígado.
Por que a bile se acumula no fígado?
A bile é um líquido produzido no fígado, armazenado na vesícula biliar e liberado a partir daí para dentro do intestino durante o processo de digestão. Tem como principal função ajudar na quebra da gordura que ingerimos. O canal natural de escoamento da bile parapode ser obstruindo em algumas condições levando ao seu acúmulo no fígado e consequentemente no sangue (bilirrubinas).
Em quem é indicada?
Pacientes que têm obstrução da via natural de saída da bile podem precisar de drenagem da via biliar. Algumas situações em que é indicada são:
• tumores do fígado, das vias biliares ou próximos ao fígado (pâncreas ou intestino);
• cálculos biliares (“pedras”) situados dentro do fígado ou impactados nos canais biliares;
• obstrução da drenagem natural da bile associada a infecções das vias biliares (colangite).
• vazamentos de bile (fístulas)
• Estreitamento dos canais biliares após cirurgias ou por radioterapia;
Quais são os tipos de drenagem das vias biliares?
A drenagem biliar pode ser realizada de três formas distintas, que dependem das condições clínicas de cada paciente:
• Drenagem biliar externa: o cateter é colocado através da pele dentro do canal biliar. A bile passa então a escoar por esse cateter e é armazenada em uma pequena bolsa coletora.
• Drenagem biliar interna-externa: nessa modalidade, a bolsa coletora é mantida apenas nas primeiras horas/dias. Isso é possível pois, além de drenar para a bolsa, o cateter também consegue realizar o escoamento da bile para o interior do intestino.
• Drenagem biliar interna: para alguns pacientes, é possível a colocação de uma prótese (ou stent), que tem por função abrir o caminho da obstrução e funcionar como um túnel ou ponte entre as vias biliares e o intestino.
Como a drenagem biliar pode ajudar o paciente com câncer?
A obstrução das vias biliares leva ao acúmulo das bilirrubinas no sangue. Esse acúmulo se manifesta nos pacientes com a alteração da coloração da pele e mucosas, que ficam amareladas, chamada de icterícia. A icterícia pode causar sensação de prurido (coceira) muito intensa na pele do corpo todo.
Além disso, os pacientes que não absorvem normalmente a bile apresentam perda de peso e alterações dos níveis dos eletrólitos no sangue, o que pode levar a emagrecimento e mal-estar.
Ao realizar a drenagem das vias biliares, o paciente pode ter alívio consideravelmente rápido desses sintomas. Muitas vezes a drenagem pode ser realizada como “ponte”, ou seja, como tratamento provisório até que o paciente tenha condições de realizar um tratamento definitivo. Em outros casos, os cateteres ou próteses de drenagem podem ser mantidos indefinidamente.
Cirurgia combina ultra-som para localizar acúmulo de bile (líquido produzido pelo fígado) e endoscopia para fazer a drenagem e colocar prótese que melhora seu fluxo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens.
.
Em casos graves de câncer, tumores impedem o fluxo do líquido produzido pelo fígado, a bile, cujo acumulo causa complicações que prejudicam a qualidade de vida dos pacientes. Para trazer bem-estar aos portadores da doença, pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) desenvolveu uma técnica de cirurgia inovadora. O método combina ultra-som para localizar a obstrução e endoscopia para drenar o líquido acumulado e colocar uma prótese que melhora o fluxo da bile. Testada com sucesso em seres humanos, a técnica pode ser usada clinicamente.
A bile, ao lado do suco gástrico e do suco pancreático, é um dos líquidos envolvidos na digestão. “Ela é responsável por fragmentar alimentos com proteínas, para que sejam absorvidas pelo corpo”, explica o médico endoscopista Everson Luiz de Almeida Artifon, responsável pela pesquisa e professor do Departamento de Cirurgia da FMUSP. A bile chega até o intestino por meio do ducto biliar, um canal que passa por dentro do pâncreas. “Em casos de câncer, grande parte dos tumores acontecem na cabeça do pâncreas, o que provoca uma obstrução do ducto biliar e mantém a bile estagnada, parada”.
O grande acúmulo de bile aumenta o risco de uma infecção conhecida como colangite, quando o líquido acumulado acaba impregnando os terminais nervosos da pele, provocando coceiras. “Ao mesmo tempo, parte da bile circula pelo sangue, causando icterícia, condição que deixa a pele com uma forte coloração amarelada”, relata Artifon. A obstrução pode acontecer ainda em casos de tumores da papila maior do duodeno, onde passa a bile a caminho do intestino.
Outra causa de obstrução é o colangiocarcinoma, um tipo de câncer que ocorre nas células que revestem o ducto biliar. “Em todos esses casos, uma solução paliativa para o problema é fazer uma colangiografia endoscópica (exame endoscópico das vias biliares e pancreáticas), com ou sem o auxilio da ecoendoscopia, para acessar o ducto biliar, introduzir uma sonda e fazer a drenagem”, descreve o médico. “Em alguns casos, o ducto é substituído por uma prótese metálica, que permite dar maior vazão ao líquido”, descreve o médico.
Ultrassom e endoscopia
Segundo Artifon, as técnicas convencionais de cirurgia também podem fazer a drenagem da bile, mas com a desvantagem de eventuais complicações. “Por esse motivo, foi desenvolvida uma técnica de ecoendoscopia, que combina ultrassom e endoscopia, para realizar o procedimento”, destaca. O método é chamado de colédoco-gastrostomia ecoendoscopia.
O ultrassom endoscópico, em contato direto com o pâncreas e via biliar, rastreia a parte obstruída do ducto biliar. “Através da fase terapêutica do procedimento e sob o controle endoscópico, que é um tubo digestivo flexível com uma câmera na ponta, a obstrução é recanalizada com a colocação da prótese”, diz o médico.
.
.
No método endoscópico tradicional (CPRE), o ducto biliar era substituído por um tubo plástico fino. “A maior desvantagem dessa prótese era seu diâmetro reduzido, de apenas 2,2 milímetros (mm)”, afirma Artifon. “Desse modo, passou a ser feita a colocação de uma prótese metálica, um tubo de 12 milímetrso de diâmetro, que permite melhorar substancialmente a vazão da bile em direção ao intestino”. Testada com sucesso em seres humanos, a técnica já pode ser usada clinicamente.
O médico ressalta que o principal objetivo da técnica é otimizar o acesso biliar e a drenagem efetiva da bile, melhorando a qualidade de vida do paciente com tumor avançado do confluente biliopancreatico (junção do duto biliar e do ducto pancreático, local com maior ocorrência de câncer). “Em casos mais graves de câncer, a expectativa de vida do paciente é pequena, entre três e cinco meses”, afirma. “O método evita complicações causadas pelo acúmulo de bile no corpo, proporcionando melhor bem-estar ao portador de câncer e com isto determinando boa sobrevida ao paciente com curto tempo de vida, ou seja, dignidade”.