A identidade cultural na pós-modernidade resumo

O escritor, Stuart Hall, traz uma reflexão a respeito da crise de identidade na era atual e o que levou a essa crise. Complementa com os pilares que geraram essa situação e as perspectivas na pós-modernidade. Em poucas palavras, o autor aborda o contexto histórico que levou a situação atual a qual o homem foi descentrado, deslocado e fragmentado e, por consequência, o seu conceito tanto sobre o homem em si quanto o mundo que ele vive é modificado. Nas palavras do Hall (2005, p.7) “o propósito do livro é explorar algumas questões sobre a identidade cultural (…), em que consiste essa crise (de identidade) e em que direção ela está indo”.

DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA:

A identidade cultural na pós-modernidade resumo
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva; Guacira Lopes Louro. 10ª. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

A obra está dividida em seis capítulos, os quais abordam nos dois primeiros, ou seja, na primeira parte, as mudanças nos conceitos de identidade e de sujeito. Já na segunda parte, os capítulos restantes, traz uma argumentação a respeito das identidades culturais, a saber, os aspectos da identidade que causam o sentimento de pertencimento a determinado nicho social, i.e., culturas étnicas, sociais, linguísticas, religiosas e, sobretudo, nacionais.

DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO:

Já no primeiro capítulo, o autor aborda a questão da identidade. Para começar seu posicionamento, ele traz à tona o fato da questão de identidade está sendo extensamente discutida na teoria social. Para os não familiares com o tema, ele argumenta que as velhas identidades, fundantes para o mundo social, estão em decadência, o que acarreta no surgimento de um indivíduo moderno com novas identidades e fragmentado. Essa descaracterização da identidade surge em conjunto com um processo mais amplo que tem deslocado as estruturas e os processos centrais da sociedade moderna, portanto a “crise de identidade” vem como consequência da mudança de uma série de fatores que referenciavam e traziam, de certa forma, uma estabilidade no mundo social.

Ainda no capítulo um, o autor aborda três concepções de identidade: sujeito do iluminismo, sujeito sociológico e sujeito pós-moderno. O primeiro baseia-se numa concepção do indivíduo totalmente centrado, unificado e dotado de capacidades de razão, de consequência e de ação, cujo centro era num núcleo interior. Já o segundo, surge com a complexidade do mundo moderno e a convicção que o núcleo interior, base do sujeito do iluminismo, não era autônomo e autossuficiente, mas sim constituído pela relação entre ele e as pessoas importantes que o cercam. Por fim, o sujeito pós-moderno é conceituado como não tendo uma identidade fixa, mas formado pelos sistemas que o rodeiam.

Para encerrar o capítulo primeiro, o autor caracteriza a mudança na modernidade tardia, ou seja, os aspectos da globalização e o impacto sobre a identidade cultural. Desta forma, define-se a sociedade moderna como uma sociedade que está sempre em mudança, sendo elas de forma rápida e permanente. E, por fim, exemplifica a importância na questão de identidade, concluindo que o indivíduo, dotado de múltiplas identidades, terá afinidade a determinado nicho social que se identifica com ele.

No capítulo dois, intitulado “Nascimento e morte do sujeito moderno”, o autor traz um esboço da descrição das mudanças às quais o sujeito e a identidade é descritas no pensamento moderno. O capítulo é basicamente conceitual, e o foco é nas concepções do sujeito humano. Este sujeito moderno nasce no meio da dúvida e também no ceticismo metafísico que lembra que o mesmo nunca foi estabelecido como forma de descrevê-lo. Boa parte do capítulo enfoca na descrição da “descentralização do sujeito”. Durante esse tópico, o autor faz um esboço dos cinco grandes avanços na teoria social e nas ciências humanas, o que causou o descentramento final do sujeito cartesiano. As descentrações são (i) tradições do pensamento marxista, o qual se resume no fato de que o homem age apenas como resposta das condições que lhes são dadas, ou seja, o indivíduo não é agente da história, visto que ele apenas pode agir de acordo com as condições históricas criadas por outros e ele foi inserido; (ii) descoberta do inconsciente de Freud, o qual define as nossas identidades , nossa sexualidade e os desejos por processos psíquicos e simbólicos do inconsciente que, por sua vez, funciona de maneira bem diferente da razão; (iii) trabalho do linguista estrutural, Ferdinand de Saussure. Nesse argumento, é considerado que nós não somos, os autores das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na língua, ou seja, quando falamos uma língua, não significa apenas expressar os pensamentos interiores e originais… a língua traz consigo uma infinidade de significados que estão já embutidos em nossa língua e em nosso sistema cultural; (iv) o descentramento da identidade e do sujeito ocorre no trabalho do filósofo e historiador francês Foucault, o qual denomina de genealogia do sujeito moderno. O que é mais atraente na definição de sujeito moderno do Foucault é o fato das instituições coletivas da modernidade impulsionar o indivíduo a uma invidualização; (v) impacto do feminismo, tanto no aspecto de crítica teórica, quanto o do movimento social.

No terceiro capítulo, o autor trata a respeito das culturas nacionais como comunidades imaginadas. Seu enfoque é na questão de como o “sujeito fragmentado” se insere nas identidades culturais (em particular, ele trata da identidade nacional). Essas culturas nacionais nos faz dizer que somos ingleses, brasileiros, etc. Contudo essas identidades não estão, literalmente, contidas em nossos genes. É curioso como, muitas vezes, pensamos na nacionalidade como algo que fizesse parte de nossa natureza essencial. O fato é que Geller (1983, citado por Hall, 2005), acredita que se o indivíduo não tem o sentimento de identificação nacional, o sujeito vive um sentimento de perda subjetiva. Corroborando, Hall (2005, p.48) entende que as identidades nacionais não é algo inato ao ser humano no momento do seu nascimento, mas formado e transformado no interior da representação.

Ainda nesse capítulo, o autor discute a respeito de como a cultura nacional funciona como um sistema de representação. Ele defende que a cultura nacional é um discurso que influencia e organiza as ações e a concepção que temos de nós mesmos. É dito que, o sentimento entre as diferentes nações consistem nas formas diferentes pelas quais elas são imaginadas. Por fim, é contada a narrativa da cultura nacional em cinco elementos: (i) através das histórias e das literaturas nacionais na mídia e na cultura popular; (ii) pela ênfase nas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade; (iii) invenção da tradição; (iv) mito fundamental, ou seja, na origem da nação num passado distante e (v) ideia de um povo puro, original. Finalizando o capítulo, Hall trata de descontruir a cultura nacional pois, ao invés de pensar em culturas nacionais unificadas, sugere que a pensemos como constituída de um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade de identidade.

Já no capítulo quatro, volta-se ao tema da Globalização. O autor reafirma que as culturas nacionais tem dominado a modernidade e, por consequência, as identidades nacionais tendem a se sobrepor a outras fontes. Ele resume a influência da globalização num movimento que se descola da ideia clássica sociológica de sociedade como um sistema bem delimitado e substitui por um conceito que se concentra na forma como a vida social está ordenada ao longo do tempo. Em um dos tópicos, ele trata a compressão espaço-tempo e identidade, ou seja, o impacto que a globalização tem causado nas identidades nacionais. Em poucas palavras, ele diz que a aceleração dos processos globais, levando a uma menor distância e a sensação de que o mundo segue essa pseudo-diminuição de tamanho, tem casado impacto direto sobre pessoas e lugares que outrora se sentiam muito distantes. Para encerrar o capítulo quatro, ele afirma que o pós-moderno global tem enfraquecido a identidade cultural: as evidências de um enfraquecimento de identificações com a cultura nacional e um reforço de laços e lealdade culturais. Em suma, o que se discute é a tensão entre o global e o local na transformação de identidades.

No quinto, ele cita a dicotomia entre o global e o local, em conjunto com a influência para a homogeneização global, a desigualdade que existe ao redor do globo e, por último, a forte tendência de uma globalização ocidentalizada. Encerrando, no capítulo seis, ele fala sobre fundamentalismo, diáspora e hibridismo. Para esse último aspecto, o autor advoga que a fusão entre diferentes tradições culturais produz uma fonte criativa de novas culturas mais apropriadas à modernidade.

ANÁLISE CRÍTICA:

Esta obra retrata de maneira clara e sucinta a crise de identidade que a globalização, dentre outros fatores, causa no indivíduo. Enfatizo a globalização, pois, ao entrar em contato com outras culturas e ser invadido com “verdades” completamente diferente daquelas que são vivenciadas, a pessoa se confronta e, por consequência, percebe que nessa pós-modernidade a identidade cultural está completamente diferente e confusa, ou seja, nos levando a uma crise de identidade.

Hall (2005, p.52-44) traz uma resposta para como é contada a narrativa da cultura nacional. Dentre as respostas apresentadas, uma delas entra em concordância com uma dos modelos de comportamento de nossa sociedade, para Weber (citado por Faria e Aguiar, 2016, p. 180) “a tradição é um modelo de repetição associado a um valor que permanece”. Ou seja, a formação da cultura nacional está intimamente ligada à tradição esta que, por muitas vezes, apesar de arraigada a uma sociedade, já perdeu sua razão lógica ou valor através do tempo.

A crise de identidade, ainda, tem forte ressonância com o que Bauman (2001) diz a respeito da inconstância e incerteza que a ausência de pontos de referência socialmente estabelecidos e generalizados nos gera:

“São esses padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar, que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos quais podíamos nos deixar depois guiar, que estão cada vez mais em falta. Isso não quer dizer que nossos contemporâneos sejam livres para construir seu modo de vida a partir do zero e segundo sua vontade, ou que não sejam mais dependentes da sociedade para obter as plantas e os materiais de construção. Mas quer dizer que estamos passando de uma era de ‘grupos de referência’ predeterminados a uma outra de ‘comparação universal’, em que o destino dos trabalhos de autoconstrução individual (…) não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosa e profundas mudanças antes que esses trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da vida do indivíduo.” (BAUMAN, 2001)

Por fim, cabe a reflexão a respeito de como essa crise de identidade afeta a pregação do evangelho. Se analisarmos a sociedade atual as quais os alicerces tornam tudo volátil e com pouco valor, a introdução de muitas “verdades” pode ser um empecilho na apresentação do evangelho para os incrédulos. Ao apresentar a verdade fundamental, a saber, o verdadeiro evangelho, corremos o risco de sermos confundidos com mais uma verdade ou mais um padrão cultural ou comportamental.

RECOMENDAÇÃO DA OBRA:

Dentre muitos potenciais leitores, creio que os aspirantes a teólogos (e os teólogos propriamente ditos) são pessoas que devem ler essa obra. A intensidade da recomendação aumenta ainda mais ao se tratar daqueles que almejam a liderança ou o pastorado nas mais diversas denominações. Devido ao seu caráter ontológico, com foco na sociedade atual, aquele que lidera pessoas deve estar ciente dos potenciais conflitos que as pessoas estão vivendo. A leitura traz um panorama de construção de conhecimento, o qual deságua na formação da personalidade do ser moderno.

O cristão pós-moderno também vive os mesmos conflitos que qualquer outro ser humano, logo as principais dúvidas a respeito da procura da igreja perfeita, ou seja, aquela que aceita o meu cristianismo raso e uma conduta cristã sem solidez nas escrituras estão nas entrelinhas desse livro.

Outro ponto que auxilia bastante para os pregadores é que, ao entender bem o que se trata esse livro, após uma exegese bem feita, o momento da aplicação do ponto do sermão para o nosso cotidiano se torna muita mais real e impactante. Exaurindo a possibilidade de uma mensagem bíblica, mas sem aplicação.

IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR:

De acordo com Wikipedia (2017), Stuart Hall nasceu em Kingston, no dia três de fevereiro de 1932 e faleceu em Londres, no dia 10 de fevereiro de 2014. Ele trabalhou como sociólogo, dando ênfase a teoria cultural, apesar de nascer na Jamaica, viveu a maior parte da sua vida no Reino Unido. Hall, juntamente com Richard Hoggart e Raymond Williams, fundou a escola de pensamento conhecida como Estudos Culturais britânicos ou a escola Birmingham dos Estudos Culturais. Hall foi presidente da Associação Britânica de Sociologia entre os anos de 1995 a 1997. Ainda na década de 50, ele fundou a revista New Left Review. Em 1964, através do convite de Hoggart, Hall passou a compor o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade de Birmingham e, no período de 1968 e 1979, foi diretor desse centro. Devido aos seus trabalhos, Stuart Hall tornou-se reconhecido por discorrer a respeito dos estudos culturais para lidar com raça e gênero, além de incorporar novas ideias derivadas do trabalho de teóricos franceses. Em 1979, quando Hall deixou o Centro de Estudos para se tornar um professor de sociologia na Open University. Aposentou-se em 1997, tornando-se Professor Emérito. O jornal britânico The Observer o chamou de “um dos principais teóricos culturais do país”.  Temos seus principais trabalhos: (i) Encoding and Decoding in the Television Discourse (1973); (ii) Policing the Crisis: Mugging, the State, and Law and Order (1978); (iii) The Politics of Thatcherism (1983); (iv) The Hard Road to Renewal: Thatcherism and the Crisis of the Left (1988); (v) New ethnicities (1988) e (vi) Resistance Through Rituals: Youth Subcultures in Post-war Britain (1989)

REFERÊNCIAS:

HALL, Stuart. Identidades Culturais na Pós-Modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva; Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

FARIA, Jonas Silva; AGUIAR, Gilson. Ciências Humanas e Sociais. Unicesumar: Centro Universitário Cesumar. Núcleo de Educação à distância. Maringá – PR, 2016.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed 2001.

STUART HALL. In WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikipedia, 2017. Disponível em < https://pt.wikipedia.org/wiki/Stuart_Hall>. Acesso em: 04 jun. 2017.

Como está caracterizada da identidade cultural na Pós

Esse sujeito da modernidade tardia celebra a identidade “móvel”, pois o indivíduo “assume identidades diferentes em diferentes momentos”, esse deslocamento constante torna a identidade plenamente unificada, segura e coerente como uma fantasia, não mais possível de ser atingida ou alcançada nos dias atuais (HALL, 2014, ...

O que é identidade Pós

Hall (2000) define o sujeito pós-moderno como aquele que vive na era em que as identidades são formadas e transformadas continuamente com influência nas formas que entram em contato com o indivíduo proveniente de sistemas culturais. Ela é definida historicamente e não biologicamente.

O que Stuart Hall entende por identidade cultural na Pós

A identidade, segundo Stuart Hall, torna-se uma “festa móvel”, graças aos processos contínuos formados e transformados em relação às formas de representação nos sistemas culturais. Sua identidade navega ao sabor dos ventos, sempre diferentes ao o “eu coerente”.

Qual a identidade dos sujeitos Pós

O sujeito pós-moderno é híbrido e como tal não há como rotular, caracterizar ou personalizar sua identidade, sendo que essa se apresenta em um processo contínuo de transformação deliberado pelas relações sociais que se encontram globalizadas.