Como era o cotidiano dos africanos escravizados na América portuguesa?

Nos engenhos de açúcar do Brasil Colonial eram empregados o trabalho assalariado livre e o trabalho escravo africano. Neste texto daremos ênfase às formas e características do trabalho escravo colonial.

A maioria da população colonial brasileira era composta por africanos e seus descendentes escravizados. O desenvolvimento da economia colonial era garantido pela mão de obra escrava, que era empregada em diversas áreas: pecuária, lavoura, coleta, pesca e transporte de produtos. Os escravizados também realizavam uma diversidade de atividades desde o plantio (diversas culturas) até a preparação e o processamento do açúcar.

As jornadas de trabalho dos trabalhadores escravizados nos engenhos variavam: o plantio (preparação do solo) demandava diariamente aproximadamente 13 horas de labor; já o corte e a moagem da cana-de-açúcar demandavam 18 horas diárias.

Os escravos de campos integravam 80% dos trabalhadores escravizados dos engenhos de açúcar e trabalhavam plantando, colhendo, guiando boiadas e outros animais, pescando, caçando, entre outras coisas. Existiam os escravos que labutavam na produção do açúcar: esses constituíam aproximadamente 10% dos escravizados. As escravas domésticas, que geralmente trabalhavam na casa-grande (habitação do senhor de engenho e de sua família), exerciam os cargos de faxineiras, cozinheiras, arrumadeiras, amas de leite. Os artesãos (oleiro, carpinteiro, ferreiro) constituíam, juntamente com os escravos domésticos, os outros 10% dos trabalhadores escravizados.

O sistema de trabalho nos engenhos era geralmente por tarefas, ou seja, cada escravo exercia uma tarefa diária. Além disso, todos realizavam serviços extras (construção de casas, cercas, consertos, entre outros).

Os trabalhadores escravizados que não desempenhavam sua tarefa diária sofriam punições e castigos, e os que tentavam fugir da condição desumana em que se encontravam, geralmente sofriam sérios castigos físicos.

Nesse período da história do Brasil (dos engenhos de açúcar) surgiram vários aspectos e características da sociedade brasileira. Os escravos africanos deixaram várias heranças culturais. Foi na senzala (habitação dos escravos no engenho) que surgiu a feijoada, prato presente na culinária brasileira; e a capoeira, que se confundia com uma dança, mas que era uma forma de luta desenvolvida entre os escravos na resistência contra o trabalho escravo – muito praticada hoje em dia no Brasil e no mundo.

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A escravidão colonial foi uma das marcas mais evidentes da colonização portuguesa no Brasil. Nativos e africanos foram sujeitos a regimes de trabalho forçado.

Como era o cotidiano dos africanos escravizados na América portuguesa?
Representação da forma como os africanos escravizados eram trazidos ao Brasil nos navios negreiros

Durante o período de transição da fase pré-colonial para as fases das capitanias hereditárias e do Governo-geral, aconteceu uma importante alteração nas relações de trabalho do Brasil colonial: impôs-se o uso do trabalho escravo. O uso da mão de obra escrava, a princípio, começou com a exploração dos indígenas, no entanto, progressivamente, passou-se a utilização do africano.

Escravização do índio

Durante a fase inicial da colonização brasileira, a escravidão concentrava-se na mão de obra do indígena. A escravização do indígena aconteceu, principalmente, na extração do pau-brasil. Desde o momento em que a produção do açúcar, a partir do cultivo da cana-de-açúcar, impôs-se como principal produto econômico da colônia, ocorreu a transição para a utilização da mão de obra do escravo africano.

Os historiadores citam alguns fatores para explicar a transição de uso do escravo indígena para o africano: mortalidade e fuga dos indígenas e imposição comercial da metrópole pelo tráfico negreiro. Outras razões, como a falta de adaptação do nativo para o trabalho regular, são atualmente contestadas pelos historiadores.

Primeiramente, o contato dos indígenas com os europeus levou a uma redução demográfica gigantesca por causa de doenças como varíola e gripe, que dizimavam as populações nativas. Isso acontecia pela falta de defesa biológica dos nativos a essas doenças. O historiador Boris Fausto indica que, em 1562 e 1563, por exemplo, surtos epidêmicos foram responsáveis pela morte de cerca de 60 mil indígenas1.

Além disso, considera-se que a redução demográfica da população indígena aconteceu a partir das guerras travadas contra os portugueses. Por fim, muitos indígenas fugiram para o interior do território brasileiro para evitar o contato com os portugueses. Outras questões levantadas por estudos tradicionais, como a resistência indígena ao trabalho contínuo e sedentário, estão sendo criticadas por estudos atuais.

Aliada a essa questão, os historiadores sugerem que, além da redução demográfica da população indígena, a demanda da metrópole pela imposição do tráfico negreiro foi fundamental para que a mão de obra do escravo africano fosse disseminada no Brasil. Isso ocorreu porque o tráfico negreiro era uma atividade extremamente lucrativa para a metrópole.

Escravização africana

A escravização africana no Brasil passou a sofrer incentivos da Coroa após 1570 e, assim, segundo o historiador Thomas E. Skidmore, a partir de 1580, chegavam ao nordeste brasileiro pelo menos dois mil escravos africanos por ano2. Os escravos eram trazidos ao Brasil em embarcações conhecidas como navios negreiros e em condições extremamente precárias. Era comum que metade dos cativos trazidos morresse durante a viagem em razão dessas más condições.

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Esses escravos originavam-se de diversas regiões da África, mas os historiadores sugerem que, em grande parte, eles pertenciam ao grupo étnico dos sudaneses e dos bantos. A respeito disso, o historiador Boris Fausto afirma que:

No século XVI, a Guiné (Bissau e Cacheu) e a Costa do Marfim, ou seja, quatro portos ao longo do litoral do Daomé, forneceram o maior número de escravos. Do século XVII em diante, as regiões mais ao sul da costa africana – Congo e Angola – tornaram-se os centros exportadores mais importantes, a partir dos portos de Luanda, Benguela e Cabinda. Os angolanos foram trazidos em maior número no século XVIII, correspondendo, ao que parece, a 70% da massa de escravos trazidos para o Brasil naquele século3.

Os historiadores estimam que, ao longo da história da escravidão africana no Brasil colonial, foram trazidos cerca de quatro milhões de africanos. Os escravos eram utilizados nos mais diversos tipos de trabalho, com maior destaque para a sua utilização nos engenhos produtores de açúcar e nos centros de mineração a partir do século XVIII.

O regime de escravidão no Brasil impunha ao africano (e ao indígena também) um regime de trabalho exaustivo e desumano. Além disso, os escravos eram mantidos em condições precárias, muitas vezes mal alimentados e vítimas dos mais variados tipos de violência. Isso motivou focos de resistência entre os escravos por meio de sabotagem e, principalmente, fuga.

A escravização dos africanos moldou profundamente a sociedade brasileira. Culturalmente, a presença africana influenciou a cultura brasileira em diversos aspectos: música, culinária, idioma etc. Além disso, impôs um forte preconceito racial, que reverbera ainda no século XXI e que necessita de medidas para atenuar os contrastes sociais existentes.


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FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013, p. 46.
2 SKIDMORE, Thomas E. Uma História do Brasil, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 33.
3 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013, p. 47.


Por Daniel Neves
Graduado em História


Aproveite para conferir nossa videoaula sobre o assunto:

Por Daniel Neves Silva

Como era o cotidiano dos escravos na América portuguesa?

Era comum que os grandes engenhos possuíssem por volta de 100 escravos, lembrando que os escravos africanos só se tornaram a maioria em meados do século XVII. Ao fim do dia, os escravos eram reunidos na senzala e lá eram monitorados para que não fugissem (os indígenas dormiam em ocas e não na senzala).

Como era o cotidiano dos escravos africanos?

A rotina dos africanos escravizados no Brasil era muito dura, e eles poderiam ser colocados para trabalhar em uma jornada que de até 20 horas. Sua escravização era justificada na época como algo que cumpria um papel civilizatório para os africanos, e a obediência deles era obtida por meio da violência.

Como era o cotidiano dos escravizados nas fazendas?

A comida deveria ser provada anteriormente pelo administrador. Deveriam receber para o jantar, pelo menos duas vezes na semana, arroz bem preparado com gordura. Percebe-se que a gordura e o açúcar ganhavam grande importância na dieta alimentar da escravaria nas fazendas.

Como era a vida cotidiana do negro escravizado no engenho colonial?

Os escravos de campos integravam 80% dos trabalhadores escravizados dos engenhos de açúcar e trabalhavam plantando, colhendo, guiando boiadas e outros animais, pescando, caçando, entre outras coisas. Existiam os escravos que labutavam na produção do açúcar: esses constituíam aproximadamente 10% dos escravizados.