Faz 5 dias que estou com dor de cabeça?

Desvendando a Dor de Cabeça Diária

Se hoje você tem dor de cabeça todos os dias, o mais provável que ela não tenha começado assim. Quase sempre, a dor que hoje é diária começou, tempos atrás, como uma dor ocasional. Com o passar do tempo, tipicamente, essa dor ocasional foi aumentando em frequência até se tornar diária.

Em outras palavras, uma dor de cabeça pode ter se tornado diária há dias, semanas, meses ou anos. Antes de começar a ter dor de cabeça todos os dias, muitas pessoas podem ter tido dor rara ou ocasional, que foi aumentando progressivamente em frequência até se tornar diária.

Existem casos em que a dor de cabeça já se iniciou todos os dias. Mas é raro isso acontecer. Normalmente ela vai evoluindo, progredindo para uma frequência diária.

Dor diária versus Dor Contínua

Muitas pessoas têm dor de cabeça todos os dias, mas que passa completamente com – ou sem – um remédio analgésico, para voltar horas mais tarde ou no dia seguinte. Já outras pessoas têm dor contínua, incessante, ininterrupta. Até mesmo quando se medica, a dor nunca passa completamente. Para elas, a dor está sempre ali.

A dor pode se localizar numa única área da cabeça, ou ter localização variável. Pode vir acompanhada ou não de outros sintomas. Portanto, uma dor de cabeça todos os dias pode ter diversas causas ou significados.

Dor de cabeça todos os dias, desde quando?

Existe uma tendência entre os médicos, ao ouvir o termo cefaleia diária, em pensar automaticamente numa dor “diária crônica”. Crônica significa que a dor de cabeça (sinônimo: cefaleia) diária se iniciou faz tempo (há pelo menos 3 meses).

Mas muitos pacientes, no consultório, podem se queixar de uma dor de cabeça diária que começou há menos de 3 meses.

“Dor de cabeça todos os dias há uma semana”, 10, 15 dias, 1 mês, etc. Enfim, um tempo insuficiente para que um médico possa classificar essa dor diária como “crônica”.

Porém, para uma pessoa que nunca teve dor de cabeça todos os dias, uma dor diária há 1 semana é muito tempo! É algo que pode preocupar tanto a ponto de levar essa pessoa ao médico. Ainda bem! De fato, é correto e importante procurar um médico o quanto antes, diante de uma dor de cabeça que se tornou diária.

Antes de se tornar diária, como era a dor?

Quase todo mundo já teve pelo menos uma dor de cabeça na vida. Muita gente tem dor de cabeça rara ou ocasionalmente, e que passa sozinha ou com um único analgésico. Estas pessoas nem precisam se preocupar. Afinal de contas, quase 100% da humanidade já teve uma dor de cabeça leve e passageira.

A dor de cabeça de uma parte dessas pessoas acaba evoluindo para mais intensa. Em certo momento da vida, começam a surgir crises que não melhoram tão facilmente. Requerem mais remédio. Incomodam mais. É comum elas ainda apresentarem aquelas dores leves a moderadas, porém facilmente controláveis. Só que, de vez em quando, aparecem crises fortes.

Essa periodicidade pode seguir um padrão previsível (por exemplo, no período menstrual), ou não. Podem também vir precedidas, acompanhadas ou sucedidas de outros sintomas além da dor de cabeça.

A localização das dores de cabeça pode ser variável (ou seja, pode doer em qualquer lugar da cabeça) ou fixa (dói sempre o mesmo lugar da cabeça). As crises mais fortes podem ou não ocorrer em localização diferente das leves e moderadas.

A duração de cada uma dessas crises pode variar entre algumas horas e alguns dias.

Por que a dor pode se tornar diária?

Na maioria das vezes, a dor de cabeça diária é simplesmente resultado de uma enxaqueca, ou dor de cabeça tensional, que se agravou. Evoluiu gradativamente, de ocasional para diária.

O motivo desse agravamento varia de indivíduo para indivíduo, mas na maioria dos casos, podemos afirmar que a dor de cabeça diária é o resultado de uma piora no desequilíbrio neuroquímico que está por trás da enxaqueca (ou da cefaleia tensional) de base.

Ou seja, o mesmo desequilíbrio químico cerebral que causa a enxaqueca (e cefaleia tensional), causa também a dor diária. É “apenas” uma questão de gravidade desse desequilíbrio. Quanto maior o desequilíbrio, mais frequente a dor de cabeça. Simples assim.

Muita gente não se dá conta da gravidade

É comum a pessoa “ir administrando” a dor de cabeça diária com analgésicos, antiinflamatórios e outros remédios para dor, podendo passar anos, às vezes, sem buscar ajuda médica.

Essa situação ocorre, tipicamente, quando a dor de cabeça responde bem, ao analgésico tomado. A dor passa, a qualidade de vida é restaurada e, assim, muitas pessoas nessa situação não se apercebem da importância da dor diária. Da gravidade do desequilíbrio cerebral que resulta nessa dor e necessidade de tomar remédio. Nesses casos, o fato da dor ir embora rapidamente após tomado o remédio é, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição. Pois adia o início das providências mais profundas que precisam ser tomadas.

A bem da verdade, uma boa parcela dessas pessoas até já procurou médico. Infelizmente, na maioria dos casos, tudo o que esse médico fez foi prescrever analgésicos, antiinflamatórios e/ou triptanas.

Mesmo fazendo bom efeito, esses remédios sozinhos estarão “chovendo no molhado”. Se nada mais for feito, reitera-se a bênção acoplada à maldição. Com o passar de mais um tempo, esses remédios também poderão parar de funcionar. Afinal, o desequilíbrio químico cerebral por trás da causa da enxaqueca continua. O remédio para dor só disfarça esse desequilíbrio.

Só analgésicos são insuficientes

Seu médico deverá também receitar um tratamento preventivo, visando diminuir a frequência diária das dores de cabeça e a necessidade de analgésicos. Porém, boa parcela dos pacientes reluta na decisão de embarcar nesse tipo de tratamento. O motivo é o temor a respeito dos possíveis efeitos colaterais da maioria dos remédios preventivo.

Porém, é preciso ter em mente que o tratamento preventivo é a solução correta nos casos de enxaqueca ou cefaleia tensional que evoluíram para dor de cabeça todos os dias.

O receio quanto aos possíveis efeitos colaterais é perfeitamente válido, e deve ser discutido com o médico.

A verdade é que nós médicos conhecemos as possíveis reações adversas dos remédios que prescrevemos. E é parte integrante do nosso trabalho prever e monitorar nossos pacientes. Esse monitoramento serve para proteger ao máximo das consequências negativas desses remédios.

O que não pode é deixar tudo como está, e continuar só tomando analgésicos diariamente.

Aliás, o uso frequente de analgésicos pode muito bem ser o culpado de muitas dessas dores diárias de cabeça. Especialmente se esses analgésicos contêm cafeína. Leia o artigo que escrevi a respeito disso. É muito importante.

Também é importante ter em mente que o tratamento preventivo pode ou não ser à base de drogas farmacológicas. Existem ótimas intervenções não farmacológicas, como remédios naturais e acupuntura, por exemplo. Converse com seu médico a respeito.

Nenhum tratamento preventivo é melhor que outro. Na minha prática clínica, eu não sou contra remédios. Apenas acho que eles devem ser utilizados somente nos casos em que outras intervenções, menos agressivas, não funcionarem.

Nem toda dor de cabeça diária é benigna

Se sua dor de cabeça se transformar em diária, é necessário consultar um médico o quanto antes. Doenças como tumor cerebral, trombose de seios venosos e outras, também podem se manifestar com o surgimento de dor de cabeça todos os dias. O mais seguro é procurar um médico para se certificar do diagnóstico. Exames de laboratório e/ou imagem poderão, ou não, ser solicitados, para a confirmação de seu diagnóstico, ou exclusão de outros diagnósticos.

A solução é um tratamento mais abrangente.

Nos casos em que a enxaqueca e/ou dor de cabeça tensional se transformaram em dor diária, a única maneira possível de influenciar a causa da doença (ou seja, o desequilíbrio químico cerebral) está na mudança de hábitos e estilo de vida.

Remédios, sejam eles analgésicos ou preventivos, farmacológicos ou não, atuam sobre os sintomas, não sobre a causa. A única esperança de influenciar a causa, e assim, quem sabe, poder se livrar de tantos remédios, é mudar o estilo de vida: sono, alimentação, gestão do movimento e das emoções. Isso deve ser feito concomitantemente ao tratamento do seu médico. Uma coisa não substitui a outra.

Essas mudanças são muitas, não são fáceis, mas podem valer a pena. Não são simplistas, e por isso organizei toda essa estratégia num livro que você precisa ler.

Conclusão:

Na minha opinião, o melhor tratamento é uma ação conjunta, onde você se cuida enquanto seu médico cuida de você.

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