Já parou para pensar que, na terra do outro, você e considerado estrangeiro e imigrante

Relatórios mostram tamanho do problema da escravidão moderna, mas ainda é preciso ir além dos números

Em teoria, a escravidão foi abolida do mundo antes do fim do século XIX. Na prática, “formas modernas” de servidão continuam causando vítimas mundo afora e constituindo uma vergonha para a comunidade internacional em pleno século XXI.

Uma amostra do tamanho do problema – e do desafio da comunidade internacional em combatê-lo – é o “Global Slavery Index“, elaborado pela ONG Walk Free Foundation, que se coloca na missão de identificar países e empresas responsáveis pela escravidão moderna.

Segundo a ONG, 29 milhões de pessoas no mundo vivem em condições análogas à escravidão – trabalhos forçados, tráfico humano, trabalho servil, exploração sexual e infantil. De acordo com o estudo, que engloba 163 países, a Mauritânia lidera a lista, seguida por Haiti, Paquistão, Índia e Nepal. Na outra ponta do ranking aparecem Islândia, Reino Unido e Irlanda.

O estudo coloca o Brasil na 94ª posição, com os casos concentrados nas indústrias madeireira, carvoeira, de mineração, de construção civil e nas lavouras de cana, algodão e soja. Apesar de elogios às medidas de combate à escravidão, o país ainda figura no “top 100” da prática no mundo.

Já parou para pensar que, na terra do outro, você e considerado estrangeiro e imigrante
Crédito: Agência Brasil

Já a nível nacional, no último dia 18, o Ministério da Justiça lançou o relatório “Diagnóstico sobre Tráfico de Pessoas nas Áreas de Fronteira no Brasil“, que também ajuda a dar uma ideia da dimensão do problema dentro do país, considerado ponto de origem, destino e passagem de tráfico humano.

De acordo com o relatório, que identificou perfis, tipos e rotas utilizadas, 128 dos 384 indiciamentos por tráfico de pessoas ocorreram em regiões de fronteira. No entanto, o próprio governo federal admite que o número real de casos deve ser muito maior, devido à falta de dados sobre o assunto e as dificuldades para se investigar esse tipo de crime.

“Essa pesquisa nos mostra a existência de uma cultura permissiva, a indicação de que em algumas regiões é normal o tráfico de pessoas. A ausência de denúncias exprime a vergonha das vítimas. A pesquisa também identifica o fato de que, muitas vezes, o aliciador é considerado um aliado da vítima, como alguém que quer ajudá-la”, afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

O estudo mostra também que o perfil das vítimas não mudou nos últimos anos. A maioria delas continua sendo mulheres, crianças e adolescentes, que são traficadas com fins de exploração sexual. No entanto nota-se um crescimento dos casos de exploração de mendicância e de servidão doméstica de crianças e adolescentes, de pessoas usadas como “mulas” para o transporte de drogas, além de jovens traficados para exploração em clubes de futebol – a história dos garotos explorados nas categorias de base da Portuguesa Santista, noticiada pela Agência Pública, é um exemplo.

Vale lembrar que estudos amplos como os citados acima escondem nuances e variáveis importantes em suas entrelinhas. São extremamente úteis em dar um panorama geral do problema, mas devem ser interpretados além dos números e dados gerais que exibem, já que eles emanaram de pessoas, cada uma com sua história de vida. Não perder de vista esse caráter humano que grandes pesquisas podem acabar omitindo é um desafio e tanto seja para os governos, jornalistas e entidades que acompanham o tema – e também para a sociedade em geral.

Uma nova tragédia em Lampedusa está pronta para acontecer

O acidente ocorrido em Lampedusa já deixou as manchetes dos jornais internacionais, mas a história continua. Barcos com imigrantes chegam à ilha diariamente, e a contagem de mortos nos naufrágios dos dias 3 e 11 deste mês ganham novos números – o total de mortes confirmadas já passa de 400.

Lampedusa não é o único canal de entrada para a Europa. Malta, o estreito de Gibraltar, os encraves espanhóis na África (Ceuta e Melilla) e a Grécia são outras rotas usadas pelos traficantes para levar pessoas ao chamado Velho Mundo – e relatos de mortes em menor escala são diários.

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O tema está em debate no continente e diversas organizações, incluindo o papa Francisco e a Igreja Católica, se juntam ao coro daqueles que pedem respostas rápidas, coordenadas e sobretudo humanas para o fluxo de imigrantes – acentuado pelas crises em países do Oriente Médio e África em especial. A organização Médicos Sem Fronteiras foi outra a criticar com força a União Europeia, ao afirmar que o bloco deve reconhecer os custos humanos das políticas de repressão à imigração.

No entanto, a tendência entre os governos europeus é de procurar fechar cada vez mais as fronteiras, como se isso fosse suficiente para cessar o fluxo de imigrantes. Questões transnacionais pedem medidas de igual alcance – ou seja, não adiantará a Europa comportar-se como um castelo feudal e fechar-se dentro dela própria.

Já os imigrantes continuam no meio da encruzilhada entre crise e pobreza nos países de origem, fechamento de fronteiras na Europa e ação dos traficantes de pessoas.

Ao mesmo tempo, movimentos e grupos de extrema direita ganham espaço na Europa em crise econômica – o que em geral resulta em medidas ainda mais duras e insensíveis aos imigrantes, os bodes expiatórios preferidos, e à situação precária à qual são submetidos. A deportação da estudante Leonarda Dibrani, 15, originária do Kosovo e de etnia romani (cigana) pela França é um exemplo.

Ou seja, as lições dadas pela recente tragédia em Lampedusa continuam – e pelo jeito continuarão – a serem ignoradas pelos governos europeus. Assim, o terreno está mais do que pronto para uma nova tragédia acontecer. Infelizmente parece ser apenas uma questão de tempo.

Documentário “100% Boliviano, Mano” ajuda a quebrar estereótipos sobre a comunidade

O que vêm à sua mente quando ouve falar de bolivianos em São Paulo? Provavelmente as diversas denúncias de oficinas de costura que mantinham os imigrantes em condições análogas à escravidão, ou mais recentemente a trágica morte do menino Brayan – sem contar as manifestações estúpidas de preconceito das quais são alvos.

Sem negar as dificuldades vividas por aqui, quebrar esse estereótipo sobre os bolivianos é um grandes desejos da comunidade. E o minidocumentário “100% Boliviano, Mano” pode ser um bom começo para ajudar enxergar a comunidade de uma outra maneira.

“Eu posso ser qualquer coisa, menos costureiro”

A fala acima é do jovem Denilson Mamami, 15 anos e personagem principal da produção. Nascido na Bolívia e morador do Bom Retiro, tradicional reduto migrante de São Paulo, veio ao Brasil com 9 anos para morar com a mãe. A exemplo de outros jovens da mesma idade, “Choco”, como também é conhecido, quer ingressar na universidade, construir uma boa carreira e família, ser orgulho dos pais – o que, para ele, passa bem longe de uma máquina de costura.

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Para trabalhar no Brasil, a mãe de Choco o deixou ainda bebê na Bolívia. Apesar do pouco contato com ela na infância, o jovem hoje diz entender as razões da mãe e a coloca como sua grande incentivadora e responsável por tudo o que conquistou até agora. “Antes eu pensava como uma criança, querendo me vingar, fazer besteira (sobre piadas que sofria por ser boliviano). Só que com o tempo comecei a descobrir que minha mãe trabalha para mim, me dá roupa, comida, tenho um telhado onde morar. Por isso agradeço a minha mãe, porque ela me deu tudo o que eu nunca tive”, explica Choco.

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Por meio do cotidiano de Choco e sua família é possível tomar conhecimento de outros aspectos e dados relacionados à comunidade boliviana. Um deles é a festa que ocorre todo dia 6 de agosto no Memorial da América Latina, zona oeste de São Paulo, em homenagem à independência da Bolívia; outro é a praça Kantuta, próxima à estação Armênia do metrô de São Paulo e tradicional ponto de encontro cultural, gastronômico e de serviços da comunidade aos fins de semana – sem falar nas manifestações culturais que não estão citadas na miniprodução.

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Os bolivianos começaram a se estabelecer de forma mais intensa na década de 1990, devido à crise econômica no país natal, e hoje são considerados a maior comunidade latino-americana residente no Brasil. A Pastoral do Imigrante estima que entre 50 mil a 200 mil bolivianos vivem em São Paulo, concentrados em bairros centrais como Brás e Bom Retiro –  como muitos estão em situação ilegal no país, fica difícil comprovar tais dados.

O documentário “100% Boliviano, Mano” foi produzido pela Agência Pública de Jornalismo, em parceria com a Grão Filmes. A produção foi contemplada pelo 4º edital Sala de Notícias do Canal Futura, onde foi exibido no último dia 23 de setembro.

Pão e Coragem – uma homenagem a Lampedusa

“Ci vuole coraggio a trascinare le nostre suole da una terra che ci odia ad un’altra che non ci vuole..” (É preciso coragem para arrastar nossas solas de um país que nos odeia para outro que não nos tem…, em tradução livre)

Foram com essas palavras de apresentação que encontrei no YouTube a música “Pane e Coraggio” (Pão e Coragem), do cantor italiano Ivano Fossati, lançada em 2003. A canção traduz o sentimento dos imigrantes que chegam a Itália em busca de melhores condições de vida no país ou alguma outra parte da Europa e cita logo em seu início um barco com imigrantes sendo parado pela guarda costeira.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=VZi20D-1RsI&feature=share]

Ou seja, não é à toa que “Pane e Coraggio” foi lembrada nas redes sociais como uma homenagem aos mortos na tragédia da última quinta-feira (3) na ilha de Lampedusa, no sul do país. Cerca de 500 imigrantes estavam na embarcação, sendo que 150 sobreviveram; os demais já foram dados como mortos ou estão desaparecidos.

Veja abaixo a letra de “Pane e coraggio” (em italiano)

Proprio sul filo della frontiera
il commissario ci fa fermare
su quella barca troppo piena
non ci potrà più rimandare
su quella barca troppo piena
non ci possiamo ritornare.

E sì che l’Italia sembrava un sogno
steso per lungo ad asciugare
sembrava una donna fin troppo bella
che stesse lì per farsi amare
sembrava a tutti fin troppo bello
che stesse lì a farsi toccare.

E noi cambiavamo molto in fretta
il nostro sogno in illusione
incoraggiati dalla bellezza
vista per televisione
disorientati dalla miseria
e da un po’ di televisione.

Pane e coraggio ci vogliono ancora
che questo mondo non è cambiato
pane e coraggio ci vogliono ancora
sembra che il tempo non sia passato
pane e coraggio commissario
che c’hai il cappello per comandare
pane e fortuna moglie mia
che reggi l’ombrello per riparare.

Per riparare questi figli
dalle ondate del buio mare
e le figlie dagli sguardi
che dovranno sopportare
e le figlie dagli oltraggi
che dovranno sopportare.

Nina ci vogliono scarpe buone
e gambe belle Lucia
Nina ci vogliono scarpe buone
pane e fortuna e così sia
ma soprattutto ci vuole coraggio
a trascinare le nostre suole
da una terra che ci odia
ad un’altra che non ci vuole.

Proprio sul filo della frontiera
commissario ci fai fermare
ma su quella barca troppo piena
non ci potrai più rimandare
su quella barca troppo piena
non ci potremo mai più ritornare.

O que você sabe sobre Bangladesh?

Provavelmente poucos no Brasil conhecem ou mesmo já ouviram falar de Bangladesh, país asiático quase totalmente circundado pela Índia. Mas isso pode mudar em breve…

Bangladesh lidera a lista de pedidos de refúgio no Brasil. Segundo dados do Conselho Nacional de Refugiados (Conare), órgão ligado ao Ministério da Justiça, nada menos que 1.332 das 3.464 solicitações feitas ao órgão são de indivíduos de Bangladesh – cerca de 38% do total. As informações foram divulgadas pelo blog do Fernando Rodrigues e chegaram a ser manchete do portal UOL durante a tarde de ontem (03).

Antiga colônia britânica e independente do Paquistão desde 1971, Bangladesh tem como capital a cidade de Dacca e conta com nada menos que a oitava maior população do mundo (154,7 milhões), espremida em um espaço pouco maior que o estado do Amapá.

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A economia é essencialmente agrária devido ao solo fértil, mas o setor sofre com a irregularidade das chuvas e as terras vulneráveis à inundações. A incidência de desastres naturais somadas à situação de pobreza e de superpopulação é receita pronta para grandes tragédias. O país também vive instabilidade política, com o julgamento de crimes de guerra ocorridos durante a independência e a perseguição de líderes de oposição ao governo.

Tal situação faz com que muitos bengaleses busquem melhores condições de vida em outros países, incluindo o Brasil. Claro, isso não significa que amanhã ou depois você vai encontrar um bengalês ao virar a esquina – mas também não fique surpreso se isso acontecer.

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O maior destaque do Brasil no cenário internacional e sua estabilidade geopolítica e econômica são fatores que atraem pessoas do mundo todo para cá, sejam como imigrantes ou refugiados – a migração econômica, maior motivação dos bengaleses, não é uma das razões que autorizam o governo brasileiro a conceder status de refugiado a um indivíduo.

Bengaleses, sírios, haitianos, bolivianos… estes e outros exemplos mostram a urgência de o Brasil rever sua política migratória, para se adequar à inserção e responsabilidades crescentes do país a nível global. Precisa ainda respeitar a migração como um direito humano e ser coerente com os discursos oficiais e acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Onde estão os sírios?

Na lista do Conare, também presente no post do blog do Fernando Rodrigues, ainda salta aos olhos a pequena quantidade de pedidos da Síria, que aparece em 17° lugar com apenas 31 solicitações. Mas esse quadro deve mudar muito em breve, com a recente medida do governo brasileiro de enfim facilitar a entrada de refugiados sírios no país – atitude tomada após receber duras críticas da comunidade internacional por impor barreiras aos sírios atrás de refúgio, diga-se de passagem.

Um ano depois… e que venha o próximo

Parece que foi ontem, mas já passou um ano.

A ideia de iniciar um blog voltado à questão migratória já me rondava meses antes do primeiro post. Sempre bate uma certa insegurança ao começar um novo trabalho, uma nova abordagem – qual será o nome, terei pernas para atualizar o blog e evitar grandes hiatos? Dúvidas à parte, o empurrão final veio com uma participação minha em um seminário chamado Vozes e Olhares Cruzados – Histórias de Migrantes e Refugiados, promovido pela Missão Paz e ocorrido em 28 de setembro de 2012, em São Paulo – a próxima edição do evento, aliás, já está a caminho.

Não é exagero dizer que este blog nasceu de fato desse evento, quando caiu a ficha para mim do tamanho da riqueza por trás da questão migratória, um tema mais do que atual.

O passo final foi dado na semana seguinte, em 3 de outubro, quando foi ao ar o primeiro post do blog MigraMundo. Não demoraram muito a chegar os primeiros comentários, curtidas e compartilhamentos nas redes sociais. Atualmente são 138 seguidores do blog nas redes sociais, sem contar aqueles que recebem os posts por e-mail ou o acompanham mais à distância – pode até parecer pouco, mas já está bem além do que eu esperava no começo.

Devo muito a meus amigos e colegas de trabalho, divulgadores, inspiradores e fontes de pautas para o blog – alguns deles são personagens já entrevistados para o MigraMundo. Ouvir de representantes de entidades que defendem os imigrantes que já conhecem o blog é outra injeção de ânimo que ajuda a quebrar qualquer tipo de dúvida sobre se o trabalho está sendo relevante ou não.

Como não posso me dedicar 100% ao blog (é preciso conciliar com trabalho, estudos, família, namoro, etc.), certos hiatos entre um post e outro são quase inevitáveis. Afinal, não basta simplesmente preencher um monte de linhas com letras e espaços e publicar – é preciso checar informações, entrevistar pessoas… Sem contar que a questão migratória é extremamente vasta e complexa, compreendendo inúmeras áreas das Ciências Humanas. Mas com um melhor conhecimento e acompanhamento da área, seja em temas como fontes, a tendência é que esses meus intervalos sejam cada vez mais raros e menores.

Enfim, novos posts estão a caminho. Como diria Cazuza, “o tempo não para” e a questão migratória é uma usina praticamente inesgotável de pautas, seja no Brasil ou no exterior. E espero que este blog esteja ajudando a contribuir, mesmo que de forma singela, com a divulgação e debate da imigração no Brasil, partido de fatos ocorridos tanto aqui como no exterior. E claro, sem perder de vista a premissa de que a migração é um direito humano, um direito do homem de buscar melhores condições de vida onde quer que seja.

Brasil e a grande distância entre teoria e prática

– Em discurso na Assembleia Geral da ONU, a presidente Dilma Rousseff manteve a tônica dos discursos oficiais do Brasil em encontros internacionais – respeito aos Direitos Humanos, repúdio a atentados terroristas e defesa de saída negociada para a crise na Síria.

– Recentemente ocorreu também a adesão do Brasil à Organização Internacional das Migrações (OIM ou IOM, na sigla em inglês), o que pressupõe um comprometimento do país com a migração sendo um direito humano.

Esses dois movimentos mostram uma aparente sintonia do Brasil com o que há de mais moderno em legislação e compromisso com os direitos humanos. A prática, infelizmente, é bem mais cinzenta do que a teoria cheia de cores vendida pelas autoridades.

Ao mesmo tempo que defende uma alternativa pacífica à Síria e adere à OIM, o Brasil – que conta com uma grande comunidade de sírios e descendentes – dificultou o ingresso de pessoas que fogem da guerra civil síria e solicitam refúgio em terras brasileiras. Após críticas, o governo decidiu nesta terça-feira (24) facilitar a entrada de refugiados sírios.

Quando dá um passo à frente em questões de refúgio, como no caso dos sírios em fuga e dos haitianos no Acre, ele se dá mais por pressão de entidades ligadas aos direitos dos imigrantes do que por uma política definida do país.

Aliado a isso, temos ainda a arcaica legislação brasileira sobre estrangeiros. As propostas de mudança já estão no Congresso e, cedo ou tarde, entrarão na pauta dos parlamentares e da sociedade em geral. Mas enquanto os avanços não acontecem, prevalece o limbo.

Em verdade, o Brasil do discurso é um país belo, amistoso, receptivo, de braços abertos a todos que se dirigem para cá. Mas o Brasil da prática costuma ser bem diferente, com preconceitos enraizados, e portas fechadas – exemplos bem expostos , por exemplo, no documentário Open Arms, Closed Doors.

Alguns minutos na pele de um refugiado

“Você quer entrar em uma barraca dessas? Sua família terá de dividi-la com outras duas”…

Já parou para pensar que, na terra do outro, você e considerado estrangeiro e imigrante
Já parou para pensar que, na terra do outro, você e considerado estrangeiro e imigrante

Dá para imaginar cerca de 20 pessoas vivendo dentro de uma barraca pouco maior do que a que você usa para acampar -às vezes de lona, outras feitas só com ramos e folhas? É com questionamentos como esse e usando instalações reais que a organização não governamental Médicos Sem Fronteiras busca mostrar como vivem – ou tentam sobreviver – os cerca de 45,2 milhões de refugiados e deslocados internos no mundo, além de explicar a atuação da entidade nessas áreas.

Logo ao chegar na exposição “Campo de Refugiados no Coração da Cidade”, que aconteceu entre os dias 6 e 15 de setembro no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, o visitante recebia uma ficha com a história de vida de um refugiado de verdade – fiquei com o relato de um ancião sírio no Líbano, certamente um dos 2 milhões de cidadãos que tiveram de deixar a terra natal devido à guerra civil que assola o país desde 2011. Sua foto, que recebi ao final da exposição segue abaixo:

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A ideia, começando pela entrega do papel com a história do refugiado, é que o visitante se sinta – mesmo que por por alguns minutos e longe de qualquer risco – as dificuldades que uma pessoa nessa situação tem de enfrentar: para dormir, se alimentar, usar as latrinas para as necessidades fisiológicas ou obter água.

Durante a exposição, conduzida por voluntários e funcionários da entidade e totalmente gratuita, a Médicos Sem Fronteiras também explica como atua junto aos refugiados na prevenção de doenças e no tratamento de pessoas com diferentes graus de desnutrição, além de apoio psicológico para ajudar a lidar com a estadia no campo de refugiados – que pode levar de meses a anos.

Durante o horário no qual visitei a exposição, na tarde do último domingo, era possível notar pessoas emocionadas com os relatos contados pelos voluntários da MSF durante a visita. O calor da tarde ajudava a dar uma ideia ainda maior da dificuldade vivida pelos refugiados e deslocados dentro das tendas montadas para a exposição – e iguais às usadas nos campos de refugiados.

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Ao final da exposição, caso deseje, o visitante é convidado a tornar-se doador da organização, respondendo a um questionário que é confirmado pela central de atendimento da MSF momentos após a finalização do contato no local.

Parece pouco, mas o trabalho desempenhado pela Médicos Sem Fronteiras serve pelo menos como um sopro de esperança para aqueles que já quase nada têm consigo. Não é à toa que a organização recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1999.

Finalizada em São Paulo, a exposição seguirá para o Rio de Janeiro, onde ficará entre os dias 4 e 13 de outubro. Mais informações na página da Médicos Sem Fronteiras no Facebook.

Crédito das fotos: Rodrigo Borges Delfim

2 millhões de vítimas…

Uma foto pode dizer mais do que mil palavras, segundo o famoso dito. Pois a imagem abaixo é um triste exemplo.

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O registro é de Jim Murphy, editor de Mídias Sociais da Human Rights Watch, dando uma amostra do lado mais vulnerável da tragédia síria – já são cerca de 2 milhões de refugiados em países vizinhos e outros continentes, que ajudam a compor esse tipo de cenário.

Segundo a ONU, a crise síria e o estado de calamidade humana que ela causa já é considerada a grande tragédia deste século. E que pode ficar ainda pior, caso o cenário de guerra – que já acontece internamente – também ganhe a participação externa dos EUA.

Em qualquer um dos cenários mais prováveis atualmente, a população síria – refugiada ou não – é a grande perdedora e prejudicada.

Você visitaria um campo de refugiados no coração de São Paulo?

No Acre, a ONG Conectas tem denunciado a situação precária dos campos de refugiados ocupados por haitianos. Ou seja, uma realidade que até pouco tempo parecia restrita apenas a regiões de conflito também acontece em pleno território nacional – ainda que negligenciada pela mídia e pelo poder público.

Saber o que se passa em um campo de refugiados é fundamental para entender, se posicionar e cobrar uma solução imediata para a questão. E uma boa oportunidade para tal é a exposição “Campo de Refugiados no Coração da Cidade”, organizada pela entidade internacional Médicos Sem Fronteiras. O evento acontece de 6 a 15 de setembro no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

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O evento convida o visitante a vivenciar o universo de um campo de refugiados e conhecer o trabalho humanitário realizado nesses contextos durante visitas guiadas pelos profissionais da MSF. Segundo dados da organização, cerca de 15,4 milhões de refugiados e 28,8 milhões de deslocados estão nessa situação em todo o mundo.

Não é a primeira vez que uma organização convida o mundo a se colocar no lugar de um refugiado. Em 2012, a ACNUR lançou um aplicativo para smartphones no qual convida o usuário a tomar decisões que um refugiado se vê vive – e que podem ser a diferença entre a vida e a morte.

Serviço:
Exposição “Campo de Refugiados no Coração da Cidade”
Data: De 6 a 15 de setembro, das 10 às 17 horas
Local: Arena de Eventos do Parque do Ibirapuera
Avenida Pedro Álvares Cabral, portão 3 ou 10
São Paulo (SP)

Mais informações na página do evento no site da MSF

Crédito da Imagem: Brendan Bannon/MSF

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