O quê homilética e qual a sua importância na interpretação bíblica?

2.1 Conceito

Homilética – do grego, homilein que quer dizer: estar com alguém, conversar, dialogar, a arte de pronunciar um discurso. A arte de discursar, de falar em público, nasceu na Grécia, com o nome de retórica. No entanto, o termo “homilética” aparece dentro do estudo teórico da pregação cristã, somente no final do século XVII.

A homilética é parte da teologia prática, que se ocupa das formas de discurso público no campo da Igreja. Homilética é a teologia da pregação ou a exposição prática-científica dos fundamentos e regras de uma pregação adequada à Palavra de Deus.

2.2 História da homilia

2.2.1  Novo Testamento

A primeira homilia da Igreja foi feita quando Jesus entrou na sinagoga de Nazaré e leu para os seus conterrâneos um texto de Isaias e, em seguida, fez uma homilia explicativa.

Com a primeira festa de Pentecostes nasceu também a pregação cristã: “Então Pedro se levantou com os onze e, em alta voz, falou-lhes…” (At 2, 14).

Nos primeiros treze capítulos dos Atos dos Apóstolos, temos um esquema de pregação dos apóstolos. Algumas delas: Pentecostes (At 2, 14-39), A porta formosa (At 3, 12-26), Pedro em Cesarea (At 10, 34-43), Paulo em Antioquia da Pisídia (At 13, 16-41).

Podemos estabelecer três grupos motivacionais para essas pregações: Kerigma ou afirmação sobre a morte de Jesus; a prova escriturística, que se entende no sentido da promessa, bem como, a importância do mistério de Cristo como cumprimento das profecias do Antigo Testamento; o convite à conversão junto com a promessa da remissão dos pecados.

2.2.2 Patrística

Na patrística encontramos os primeiros conceitos teóricos da homilética. A princípio, encontramos no tratado de “doutrina cristã” de Santo Agostinho, uma obra de 4 volumes, que trata do ensinamento cristão, não do ponto de vista do conteúdo, mas, do ponto de vista do método. Os três primeiros livros tratam do: material homilético; dos princípios hermenêuticos bíblicos e dos métodos de sua interpretação. O quarto livro apresenta aapresentação da forma homilética.

            Para Santo Agostinho, a homilética é a teologia da pregação eclesial, a apresentação científica dos fundamentos de uma adequada pregação da fé.

Santo Agostinho, que era um bravo orador, trabalhava sempre o aspecto formal da pregação. Ele considerava nocivo a construção de períodos complicados usados na pregação. Agostinho foi muito influenciado pelo orador Cicerone e pela arte da retórica de Aristóteles. Na próxima aula, estudaremos alguns elementos da retórica e da dialética e a sua aplicação na construção da pregação.

Os padres da Igreja foram os que deram uma forma definida para a homilia, cultivando o uso da oratória, a fim de criar uma linguagem familiar, com o objetivo de se aproximar do povo cristão. Todavia, os Santos Padres não dedicaram sua atenção a um tratado teórico da pregação.

2.2.3 Idade Média

Iniciemos, mencionando o último grande orador da Antiguidade cristã no Ocidente, o papa São Gregório Magno (540-604). No seu Liber regulae pastoralis, ele faz umas breves observações práticas sobre a atenção que se deve dar às diferentes classes de ouvintes.

Destacamos também a obra de São Boaventura “De arte concionandi (até 1250), onde ele estuda a essência da pregação neotestamentária.

Outra obra notada foi a do Superior Geral dos dominicanos, Humberto de Romanis (1277). Baseada na doutrina cristã de Santo Agostinho, Humberto defende que o desenvolvimento lógico de uma pregação parte de um tema, que tem seu ponto de partida nas palavras da Escritura, e que tem como objetivo principal, a catequização e o ensinamento.

Nos séculos XIV e XV, a pregação tinha um objetivo prático: “pregar os dez mandamentos, os artigos da fé, os sacramentos, reconfortando aos bons e tratando de infundir temor aos malvados”. Essas fórmulas da pregação medieval faziam parte de uma coleção de homilias, guardadas dentro de apostilhas, lidas por pregadores sem formação suficiente para a prática da homilia.

2.2.4 O humanismo

            No Renascimento, abre-se caminho para a pregação moderna. Recorre-se, especialmente, a Quintiliano[1]  e Cicerone[2] e se analisa a composição, exposição e estilo dos sermões. Como modelo para essa época, assinalamos Erasmo de Rotterdam[3], com seu Ecclesiastes seu de ratione condicionandi (1535), onde descreve as possibilidades de aplicar a dialética e a retórica à pregação e oferece orientações ao pregador para o uso correto da Sagrada Escritura.

2.2.5 A Reforma e o Concílio de Trento

Lutero opõe-se à retórica de Aristóteles. A retórica se apresenta como inimiga da pregação cristã.

Por parte da Igreja Católica, começou um trabalho de orientação à pregação bíblica. No Concílio de Trento, foi recordado aos bispos que “sua principal função” é pregar o Evangelho: “Estão obrigados a pregar vocês mesmos o santo Evangelho de Jesus Cristo…”.

            Concluído o Concílio, cada bispo levava para suas dioceses o compromisso de colocar em prática a centralidade da pregação da Palavra.

            A França representou para o período pós-conciliar de Trento, até aproximadamente 1700, um tempo de homilias esplendidas. Havia na corte de Luis XIV: Jacques Bénigne Bossuet (1627-1704), o bispo de Meaux, o Jesuíta Louis Bourdaloue (1632-1704), e o orador Jean Baptiste Massillon (1663-1742), bispo de Clermont. Estes homens são os fundadores da homilética moderna.

Desde esse período, a homilética passou a ser chamada de a teoria da pregação. É uma disciplina teológica que foi, pouco a pouco, adquirindo um conteúdo científico e teológico.

2.2.6 O iluminismo

O iluminismo no mundo alemão significa um período de expansão do labor kerigmático e homilético; leva-se mais em conta a capacidade de compreensão do povo, as profissões e a idade. No iluminismo, os mistérios ficam à margem da pregação e se prima pela religião natural. A mensagem cristã se reduz a um simples ensinamento dos deveres. A pregação está profundamente impregnada de antropocentrismo.

            As regras e as técnicas da retórica são praticamente excluídas. A eloquência sacra, que foi a tarefa principal da homilética, passa a ser considerada como parte da retórica mundana.

2.2.7 Até os dias de hoje  

            A teologia pastoral nasce como disciplina universitária em Viena em 1774. A princípio, abarcava quatro disciplinas: homilética, liturgia, catequética e a pastoral especial. Pouco a pouco, essas disciplinas foram se tornando independentes, surgindo assim, uma série de manuais, não só de teologia pastoral, mas também, de homilética.

            A homilética, como disciplina independente, deu-se somente no final do século XIX e como teologia da pregação foi apresentada, pela primeira vez, em 1943, por Thomas Soiron, em que a prédica é descrita como uma realidade salvífica e ministério fundamental  da Igreja.

A existência de diversas revistas dedicadas à pregação, assim  como os numerosos congressos e cursos, são um sinal vivo do interesse pela pregação.

            Como disciplina independente, a homilética chega querendo dar resposta às seguintes seis perguntas:

1. O que é uma prédica? Natureza e função, ou seja, a essência de uma pregação cristã consiste, hoje, na sua estrutura dialogal divino-humana e em sua dimensão eclesial. Em síntese: é a palavra de Deus expressa com a palavra do homem e pronunciada pela Igreja.

2. Quem anuncia – o sujeito da pregação é o próprio Deus. O anunciador, bem como, o objeto do anúncio, é Cristo.

Na dimensão eclesial, o sujeito do anúncio é toda a Igreja; no sentido estrito da palavra, o sujeito da pregação são os bispos, os padres e os diáconos.

3. O que anuncia – o conteúdo do anúncio é a pessoa de Jesus e a sua obra.

4. Onde se anuncia – o espaço da pregação condiciona e tem influência sobre o pregador e o destinatário.

5. A quem se anuncia – os destinatários da palavra de Deus são todos da comunidade que estão abertos para ouvir e acolher a pregação.

6. Como se anuncia – a didática e o método. Ao se falar de prédica, deve-se levar em conta os seguintes aspectos: a preparação da pregação; sua estrutura dialógica, o modo de apresentação dos conteúdos, a linguagem e, enfim, sua avaliação.

            Enfim, a prédica é um processo criativo que contém quatro etapas:

1. A meditação do texto bíblico;

2. A exegese do texto;

3. A meditação antropológica: pontos de encontro entre a Bíblia e a vida.

4. Apresentação escrita da prédica



[1] Quintiliano foi um orador e professor de retórica romano. Nasceu na Espanha e viveu dos 35 d.C a 95 d.C.

[2] Marco Túlio Cicerone (106 a.C a 43 a.C) foi um advogado, político e escritor romano.

[3] Erasmo de Roterdã foi um teólogo e um humanista neerlandês do século XV.

O que é homilética na bíblia?

A homilética é a teoria e a arte de pregar um sermão. Ela envolve técnicas para tornar a mensagem transmitida pelo orador mais fácil de ser compreendida por aqueles que o ouvem.

Qual a importância da homilética?

10 Homilética A importância da homilética Desenvolve a arte da expressão. Desenvolve o raciocínio. Contribui com a divulgação e assimilação do Evangelho. - Proporciona satisfação, admiração e simpatia aos ouvintes.

Qual a importância da homilética na vida de quem prega?

A missão principal da homilética é conservar o pregador na rota traçada pelo Espírito Santo. Ela ensina, onde (e como) se deve começar e terminar o sermão. O sermão tem por finalidade convencer os ouvintes. Por esta razão a homilética encontra-se ligada diretamente à eloquência.

Qual a relação da homilética com a hermenêutica e a exegese bíblica?

A hermenêutica é considerada por muitos como um sinônimo da exegese, pois também consiste na arte ou técnica de interpretar e explicar um texto. Na realidade, a principal diferença entre a exegese e a hermenêutica são as regras e técnicas específicas que cada sistema de interpretação possui. Ver também: Homilética.