ProfissionalismoAlfabetização e letramento: concepções, dimensões e uma reflexão sobre o ensino de língua materna e sua prática pedagógica em sala de aulaEdnaldo Gomes da Silva Show
Durante muito tempo, a alfabetização foi entendida como uma simples encadeação dos fonemas, ou seja, como a aquisição de um modelo fundamentado na estrutura da relação entre fonemas e grafemas. Em uma sociedade formada em sua grande parte por pessoas analfabetas e marcada por reduzidas práticas de leitura e escrita, a simples consciência fonológica que permitia aos sujeitos associar sons e letras para produzir/interpretar palavras (ou frases curtas) dava a entender que era suficiente para diferenciar o alfabetizado do analfabeto. É assim que, em um ensino mais contextualizado, percebe-se que a simples decodificação simbólica de um texto não é suficiente convencionalmente para desenvolver as habilidades que requerem o letramento. Este envolve leitura, que, nesse caso, deve ser entendida com o sentido bem mais amplo, ou seja, uma leitura cognitiva que proporcione o entendimento do próprio contexto situacional de mundo nos mais variados segmentos. A alfabetização e o letramento não são processos independentes, mas interdependentes e indissociáveis. A alfabetização desenvolve-se no contexto em que está inserida e por meio de práticas sociais e de escrita, isto é, através de atividades de letramento. Este, por sua vez, só pode se desenvolver no contexto e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização. Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco, porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita, a alfabetização; e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento (SOARES, 2004). A leitura é um conjunto de habilidades, de comportamentos e de conhecimentos. Escrever também é um conjunto de habilidades, de comportamentos e de conhecimentos que compõem o processo de produção do conhecimento. Indivíduo letrado é aquele que aprende a ler e a escrever e que passa a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se em práticas sociais de leitura e de escrita, ou seja, que faz uso frequente e competente dessas atividades. A pessoa letrada passa a ter outra condição social e cultural, muda o seu modo de viver, sua inserção na cultura, e, consequentemente, passa a ter uma forma de pensar diferente. O desenvolvimento da competência de ler e escrever não se encerra quando o aprendiz lê e escreve textos dominando o sistema de escrita alfabética. Ele se prolonga nos anos escolares que se seguem, quando da participação em práticas sociais — que trazem domínios mais amplos de níveis de letramento, porque, fora da escola, há sempre desafios que exigirão do educando ampliar sua participação em eventos de leitura e escrita. Não basta apenas saber ler e escrever, ser alfabetizado. É preciso saber fazer uso do ler e do escrever, respondendo às exigências de leitura da sociedade. É preciso ter a prática da leitura, pois, para formar cidadãos atuantes e interacionistas, é preciso conhecer a importância da informação. Portanto, letramento é o resultado da ação de ensinar e de aprender as práticas sociais de leitura e de escrita. É o estado ou a condição que adquire um grupo social, ou um indivíduo, como consequência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais. Apropriar-se da escrita é torná-la própria, ou seja, assumi-la como propriedade. Um indivíduo alfabetizado não é, necessariamente, um indivíduo letrado, pois ser letrado implica em usar socialmente a leitura e a escritura respondendo às demandas sociais. Com a relação à língua escrita e à dimensão social das suas várias manifestações, Kleiman, apoiada nos estudos de Scribner e Cole, define o letramento como […] um conjunto de práticas sociais que usa a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos. As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizada ou não alfabetizada, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática — de fato, dominante — que desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita (1995, p. 19). A tarefa de fazer com que os alunos passem da condição de realizar suas leituras comuns, cotidianas, corriqueiras e obrigatórias para leituras de prestígio e de satisfação, consideradas uma experiência de liberdade, de felicidade e de encantamento, é um objetivo exposto nas práticas do letramento. Segundo informações do 5º Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional, realizado pelo Instituto Paulo Montenegro, em 2005: […] a escola é a principal responsável pela inserção das pessoas na cultura letrada. Espera-se que a educação básica crie as condições para que todos os cidadãos possam participar, de forma autônoma, de uma sociedade em que quase tudo depende da capacidade de processar informação escrita: comunicar-se, informar-se, planejar, prestar contas, reivindicar, etc. Nas escolas onde podem ser realizados, para muitos alunos, os primeiros contatos com a leitura e a escrita, é preciso possibilitar a implantação de programas educacionais voltados para o letramento, através, por exemplo, da integração entre professores e bibliotecários, promovendo ações que utilizem a biblioteca como forte influente na formação dos alunos enquanto leitores. O leitor competente, em síntese, é aquele que apresenta os seguintes comportamentos: • Sabe buscar textos de acordo com o seu horizonte de expectativas, segundo seus interesses e suas necessidades. • Adquire livros. • Conhece os locais onde os livros e materiais de leitura se encontram, seja em bibliotecas, livrarias, entre outros. • Frequenta espaços mediadores de leitura. • Orienta-se facilmente nas estantes, sendo independente na busca daquilo que lhe interessa. • Segue as orientações de leitura oferecidas pelo autor. • É capaz de dialogar com novos textos, posicionando-se criticamente diante deles. • Troca impressões e informações com outros leitores. • É receptivo a novos textos que não confirmem seu horizonte de expectativas. • Amplia seu horizonte de expectativas e sua visão de mundo a cada leitura. (AGUIAR, 1996). Ednaldo Gomes da Silva é formado em Letras e especialista em Língua Portuguesa. É professor de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental e Médio do Sistema Educacional Radar em Vitória de Santo Antão, professor da graduação (curso de Pedagogia) na Faculdade Escritor Osman Lins (Facol), professor da graduação (cursos de Pedagogia e Redes de Computadores) na Faculdade Joaquim Nabuco (Câmpus Recife) e professor tutor da graduação (curso de Letras) a distância da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), da Educação a Distância (EAD) e da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Endereço eletrônico: . Referências 5° Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional: um Diagnóstico para a Inclusão social pela educação. São Paulo, 8 set. 2005. Disponível em: . SOARES, Magda. Letramento: um Tema em Três Gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. KLEIMAN, A. B. (org.) Os Significados do Letramento: uma Nova Perspectiva sobre a Prática Social da Escrita. Campinas: Mercado das Letras, 1995. O que são os processos de alfabetização e letramento?A alfabetização é o processo de aprendizagem em que se desenvolve a habilidade de ler e escrever. É uma habilidade de uso individual, possibilitando codificar e decodificar a escrita e os números. Já o letramento, é um processo que envolve o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais.
O que significa interdependentes e indissociáveis?adjetivo Diz-se das coisas que dependem umas das outras. Que apresenta interdependência, dependência mútua, relação de dependência entre uma coisa e outra: seres interdependentes. Etimologia (origem da palavra interdependente). Inter + dependente.
Que práticas pedagógicas poderiam favorecer Alfabetização e Letramento como processos indissociáveis e interdependentes?Em sala de aula, desenvolver trabalhos e atividades pautados na colaboração é uma prática bastante rica para o alfabetizar letrando, haja vista que a cooperação entre as crianças é um meio eficaz para favorecer a troca de experiências e a discussão em contextos reais sobre práticas de leitura e escrita.
O que é alfabetização e letramento quais os aspectos que os diferenciam e os aproximam?Enquanto a alfabetização desenvolve a aprendizagem das letras e símbolos escritos, o letramento se ocupa da função social de ler e escrever. Ela refere-se a compreensão, interpretação e uso da língua nas práticas sociais.
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