Por quê são chamados de linfomas malignos

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Por quê são chamados de linfomas malignos

Linfoma é um tipo de câncer que afeta os linfonodos (gânglios), estruturas que compõem o sistema linfático, porém, pode chegar a outras partes do corpo como o cérebro, medula óssea, pele, fígado, estômago, baço e intestinos. Como os linfonodos estão conectados por uma rede de vasos linfáticos, as células cancerígenas podem se espalhar facilmente pela corrente sanguínea. Quem detalha é o Dr. Rafael Sato, cirurgião oncológico.

“O tumor maligno se origina a partir da mutação genética de linfócitos, que são células do sistema linfático. Existem três tipos de linfócitos: NK, que combate infecções virais e células cancerígenas, linfócito B, que produz os anticorpos que atuam contra os antígenos, e o linfócito T, que age contra bactérias, fungos e vírus. Como os linfócitos fazem parte dos glóbulos brancos, a multiplicação descontrolada dessas células precisa ser bem investigada devido ao risco de câncer linfático”, descreve. Segundo ele, não existe uma conclusão definitiva a respeito das causas dos linfomas, no entanto, o câncer linfático guarda uma relação estreita com infecções virais graves.

Há dois grupos de linfomas, os linfomas Hodgkin e os linfomas não Hodgkin. “Os linfomas Hodgkin são classificados em linfomas indolentes e linfomas agressivos. Os linfomas indolentes se desenvolvem lentamente, sem apresentar sintomas específicos, ao contrário dos linfomas agressivos, que requerem uma intervenção médica rápida para salvar a vida do paciente. A outra categoria de linfoma abrange os chamados linfomas não Hodgkin, que podem ser foliculares (menos agressivos) ou originados em linfócitos maiores (têm crescimento rápido)”, detalha o especialista.

Como na maioria dos casos de câncer, o diagnóstico precoce aumenta a chance de cura do linfoma. Anualmente, no Brasil, são diagnosticados cerca de 10 mil casos de linfoma. Cerca de 4 mil pacientes não resistem à doença, em razão do diagnóstico tardio e outras complicações.

De acordo com Dr. Rafael, na fase inicial, o linfoma pode ser assintomático. Porém, com o passar do tempo, podem surgir alguns sintomas suspeitos, como, por exemplo, o aumento de gânglios, ou sinais menos específicos, que podem ser associados a várias patologias, como sudorese noturna, febre, perda de peso, coceira, fadiga e cansaço sem motivo aparente.

“Geralmente, a maior parte dos pacientes chega ao consultório médico após verificar o aumento de um gânglio, que pode ser um sintoma de infecção e não necessariamente um linfoma”, pontua. Para o correto diagnóstico, além do exame físico, o exame de sangue pode detectar alterações no sistema imunológico. “Porém, se o médico suspeitar de linfoma, é necessário encaminhar o paciente para fazer uma biópsia”, frisa.

Uma vez confirmado o diagnóstico, o paciente deverá iniciar o tratamento imediatamente. “A cura é possível sim, porém, depende de uma série de fatores, além do diagnóstico precoce, tais como as condições gerais do paciente, reações às terapias para o tratamento do câncer e a idade”, afirma o cirurgião.

A doença é tratada com sessões de quimioterapia, associada ou não à radioterapia e imunoterapia. O tratamento de linfomas indolentes, que se desenvolvem muito lentamente, objetiva fazer o controle da enfermidade.

Em alguns casos de linfomas, realiza-se o transplante de medula óssea, retirada do próprio paciente. “É um procedimento mais indicado quando a doença está em estágio avançado ou por ocasião de recidivas de câncer linfático”, acrescenta Dr. Rafael.

Ao constatar o aumento de algum gânglio, concomitante ou não a um processo infeccioso, consulte o médico o mais cedo possível.

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O que é?

É um tumor maligno do sistema linfático em que as células tumorais são os linfócitos, um tipo particular de glóbulos brancos, cuja função é a defesa contra as infeções, e que têm origem na  medula óssea.

O sistema linfático inclui os gânglios, timo, baço, amígdalas e os vasos linfáticos, por onde circula a linfa, constituida essencialmente pelos linfócitos. Nos gânglios os linfócitos localizam-se em diferentes zonas de foliculos linfoides, onde adquirem características particulares.  Fig.1 .

Existem gânglios em todo o corpo: em locais mais superficiais e portanto mais fácilmente detectados, como no pescoço, axilas ou virilhas, mas também no torax e abdomen, onde podem ser visualizados por exames de imagem como ecografia ou TAC.
Para além dos gânglios encontra-se tecido linfático em práticamente todos os orgãos, onde pode também surgir linfoma, sendo nestes casos designado por "linfoma extra-nodal" ou "linfoma extra-ganglionar".


Por vezes podem-se encontrar células do linfoma no sangue periférico e raramente no líquido que circula no sistema nervoso central - líquido céfalo-raquidiano.

Há vários tipos de linfoma?

Os linfomas dividem-se em Linfomas de Hodgkin (LH) e não Hodgkin (LNH), sendo estes últimos os mais frequentes.
Thomas Hodgkin foi um médico inglês que em 1832 diagnosticou pela primeira vez uma doença que provocava aumento dos gânglios e do baço.
Existem diversos sub-tipos de LH e de LNH. Dentro dos linfomas não Hodgkin são mais frequentes aqueles em que a transformação tumoral ocorre nos linfócitos B e menos frequentes os linfomas de linfócitos T.

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Fig.1 Esquema do foliculo linfoide

Qual é a causa?

É devida a alteração de um ou mais genes que controlam o desenvolvimento ou a morte dos linfócitos: o número de divisões celulares é maior e nalguns casos as células vivem durante mais tempo, havendo portanto um aumento dos linfócitos nos orgãos linfoides.

As alterações dos genes (mutações) são adquiridas e não hereditárias. A causa dessas mutações é habitualmente desconhecida, mas em alguns linfomas pode estar relacionada com: 

  • Infecções crónicas por: 
        Bactérias, como por exemplo pelo Helicobacter pilorii que por vezes existe no estomago, podendo também causar causar gastrite, úlcera ou mesmo cancro.
        Vírus - mononucleose infecciosa, vírus da hepatite B ou C, VIH e outros.
  • Alterações da imunidade:
        Doenças autoimunes, como a doença celíaca, artrite reumatoide ou lúpus.
        Imunodeficiência – hereditária ou devida a medicação, como nos doentes transplantados, ou na infecção por VIH.
  • Exposição prolongada e repetida a alguns agentes tóxicos:
        Químicos – benzeno, pesticidas, herbicidas
        Radiações  

Mais recentemente tem sido descrita associação com a obesidade, tabagismo e ingestão imoderada de alcool.

É uma doença hereditária? É contagiosa?

Não é hereditária; podem no entanto existir casos de linfoma em vários membros da mesma família, sendo a causa desconhecida. Não é uma doença contagiosa.

É uma doença frequente?

Os linfomas não Hodgkin são muito mais frequentes e a incidência é ligeiramente superior nos homens, aumentando com a idade: são pouco frequentes nas crianças, mas após os 65 anos a incidência é de 44,6 casos/100.000 habitantes.

Em 2010 foram diagnosticados, em Portugal, 1812 novos casos de LNH e 342 de L.Hodgkin.

No LH a incidência é maior entre os 15-30 anos e depois dos 60 anos.

Quais são os sintomas?

Podem não existir sintomas específicos, mas apenas os de uma doença tipo viral, como cansaço e febre.

Os sintomas característicos mais frequentes são:

  • Aumento dos gânglios no pescoço, na região supra-clavicular - sobre as clavículas -, axilas ou virilhas. São geralmente indolores, persistentes e podem aumentar gradualmente, ou mais rápidamente.
    Note que a maioria das situações que levam ao aumento dos gãnglios não é um linfoma, mas sim uma infecção, como por exemplo uma amigdalite ou abcesso dentário.
  • Sintomas relacionados com envolvimento de diferentes localizações ganglionares ou orgãos:
    O aumento de gânglios no torax pode causar tosse, dor torácica ou falta de ar; no abdomen podem causar desconforto ou dor e alterações do trãnsito intestinal ou urinário.
    Dor nas costas, particularmente na região lumbar; dor tipo ciática. 
  • Aparecimento de nódulos cutãneos no caso de linfoma da pele.
  • Dores de cabeça, perturbações visuais, alterações da consciência, nos raros casos de linfoma do sistema nervoso central
  • Febre persistente, geralmente mais acentuada à noite.
  • Suores nocturnos, por vezes obrigando a mudar de roupa.
  • Emagrecimento, superior a 10% do peso e falta de apetite (anorexia). 
  • Cansaço fácil, muitas vezes devidos à anemia. 
  • Prurido (comichão), associado ou não a alterações da pele.
  • Infecções frequentes, como pneumonias, “zona” (causada pelo vírus Herpes zoster)  ou aparecimento de alergias.

Como se diagnostica?

Se apresenta alguns destes sintomas deve consultar o seu médico que o referenciará a um hematologista. Este especialista em doenças de sangue, após colher dados da sua história clinica e familiar, irá proceder à observação e pedir vários exames para esclarecer a situação.

O diagnóstico de linfoma é obtido por biópsia de gânglio ou de uma massa tumoral. A colheita de tecido tumoral permite o seu exame ao microscópio e outros estudos para caracterização do tipo de linfoma, como a imunofenotipagem e o estudo citogenético. Por vezes o linfoma não é acessível pois está localizado dentro do abdomen ou do tórax; nesses casos o material é obtido por biópsia guiada pela TAC ou por cirurgia .

A análise de uma pequena quantidade de tecido, obtida por citologia aspirativa, é geralmente insuficiente para um diagnóstico correcto.

Que exames preciso de fazer?

Além da biópsia do gânglio são necessárias análises ao sangue, para avaliar o hemograma, a função do fígado e do rim, estudo da coagulação e diversos outros parametros, nomeadamente os sinais laboratoriais da actividade da doença, como a LDH e beta2 microglobulina.

É necessária avaliação da medula óssea por mielogramabiópsia óssea. 

Os exames de imagem como radiografias, TAC e eventualmente PET (positron emission tomography) são necessários para avaliar a extensão da doença e a resposta ao tratamento.

É pedido estudo da função cardíaca com ECG e ecocardiograma.

Em caso de suspeita de envolvimento das menínges pode ser necessária uma punção lumbar para colher amostra de líquido céfalo-raquidiano.

Se existirem sintomas gastrintestinais está  indicada realização de endoscopia e colonoscopia.

Deve ser observado em O.R.L para despiste de envolvimento da oro-faringe e dos seios nasais.

São igualmente feitos testes para determinar possivel infecção anterior, como hepatite B ou C

O que são os estadios da doença?

Estadiamento consiste na avaliação da extensão da doença através dos exames referidos.
É utilizado o chamado Estadiamento de Ann Arbor que estabelece os estadios I a IV.  A maioria dos doentes está no estadio III ou IV na altura do diagnóstico.

São designadas por E a presença de linfoma extra-ganglionar e por X, se a massa tumoral é muito volumosa.

É igualmente referida a presença ou não de sintomas gerais: 

A – sem sintomas.
B – com sintomas: febre, sudorese, anorexia, emagrecimento > 10% do peso em 6 meses, prurido.

Qual é o tratamento?

O tratamento depende de diversos factores: tipo de linfoma, estadio, idade, existência de outras doenças e o estado geral do doente. Este pode ser avaliado numa escala designada ECOG que varia entre 0 ( doente que faz a vida normal) a 4 ( doente acamado).

Há diversas modalidades de tratamento que podem ser utilizadas, geralmente em associação, sendo mais frequente esquemas que incluem quimioterapia,  derivados da cortisona e outros tipos de medicamentos, como um anticorpo monoclonalque não são quimioterapia, mas que interferem com o metabolismo das células malignas causando a sua morte São medicamentos mais dirigidos às células malignas, mas que também não são isentos de efeitos secundários. 

Estes medicamentos são administrados em diversos ciclos, por via endovenosa - através de uma veia ou cateter central - ou por via oral; os ciclos de tratamento têm intervalos de algumas semanas, para que o organismo recupere.

Em alguns tipos de linfoma mais agressivos, ou resistentes ao tratamento poderá estar indicado o transplante de células estaminais. A maioria dos doentes com linfoma tem uma idade avançada, o que pode ser uma contra-indicação para esta opção, uma vez que este tratamento requer quimioterapia intensiva prévia - condicionamento. No entanto, e  também neste campo, tem havido importantes desenvolvimentos, pois se demonstrou que um condicionamento menos agressivo não comprometia o sucesso do transplante, aumentado assim o número de doentes que possam vir a benificiar deste tratamento.

Em alguns casos é também usada radioterapia, localizada aos gânglios ou orgãos envolvidos pela doença.

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Quais são as complicações do tratamento?

A quimioterapia lesa as células malignas, mas também as células normais,provocando diversos efeitos secundários. As complicações mais frequentes são: vómitos, queda de cabelo, diminuição das células sanguíneas, mucosite (lesão das mucosas) e, frequentemente, infertilidade.

A diminuição dos glóbulos brancos, associada á alteração da imunidade pode levar ao aparecimento de infecções graves. Deve consultar logo o seu médico se surgir febre, tremores, tosse, ou outros sintomas.

Uma das infecções frequentes é a "zona" provocada pelo vírus herpes-zoster, que se manifesta por dor ou sensação de queimadura numa zona da pele, com aparecimento de pequenas vesículas e que requer tratamento imediato.

A diminuição dos globulos vermelhos leva ao aparecimento de queixas de anemia - cansaço, palidez, tonturas, palpitações com o esforço e pode vir a necessitar de transfusão de sangue.

A diminuição das plaquetas pode levar ao aparecimento de nódoas negras, ou hemorragias fáceis e por vezes pode ter de fazer transfusão de plaquetas.

Pode haver de imediato um aumento do ácido úrico, sendo necessária a sua prevenção com um medicamento chamado alopurinol. É necessária correcta hidratação para evitar insuficiência renal.

Alguns citostaticos têm efeitos secundários particulares:

  • Ciclofosfamida - alteração da cor da pele, cistite hemorrágica ( lesão da bexiga com perda de sangue pela urina).
  • Doxorrubicina – alterações cardíacas.
  • Vincristina – neuropatia periférica. Diminuição do sódio no sangue (hiponatrémia).
  • Cisplatíneo – eventual surdez, zumbidos; insuficiência renal.
  • Citosinarabinosídeo – lesões da pele, alterações cerebrais e oculares.

É uma doença curável?

O objectivo do tratamento é a obtenção de remissão completa duradoura, ou seja o desaparecimento total dos sintomas e sinais da doença. Em alguns tipos de linfoma podemos mesmo falar de cura. Em muitos casos há recaídas, que obrigam a novo tratamento. 

Actualmente cerca de 77% dos doentes com linfoma estão vivos ao fim de 5 anos após o diagnóstico e as perspectivas são cada vez melhores com os novos tratamentos.

Como é que vai afectar a minha vida? O que posso fazer?

O diagnóstico de linfoma é sempre um choque para o doente e sua familia, mas compreenda que é uma doença muito frequente e para a qual existem cada vez mais e melhores tratamentos.

Durante os ciclos de tratamento, e nos anos seguintes à obtenção da remissão, continuará a ser observado regularmente pela equipe que o trata, repetindo os exames laboratoriais e de imagem necessários, devendo reportar qualquer novo sintoma  de forma a se poder actuar atempadamente.Consulte o capítulo Viver Melhor, onde lhe damos alguns conselhos.

Por que são chamados de linfomas malignos?

Linfoma é a doença que surge quando as células do nosso sistema linfático sofrem transformações malignas, ou seja, viram câncer. Existem dois tipos de linfoma, chamados linfoma Hodgkin e linfoma não-Hodgkin.

O que é linfoma é maligno ou benigno?

O linfoma acontece quando os linfócitos e seus precursores que moram no sistema linfático, e que deveriam nos proteger contra as bactérias, vírus, dentre outros perigos, se transformam em malignos, crescendo de forma descontrolada e “contaminando” o sistema linfático.

O que é linfonodo maligno?

Sintomas de câncer nos linfonodos: linfonodos muito endurecidos, aderentes a outros locais, não causam dor, tem superfície irregular, mais de 2 cm e crescem ainda mais de tamanho ou aparecem outros “caroços” pelo corpo.

Qual tipo de linfoma é o mais grave?

Não é possível determinar qual tipo de linfoma é o mais grave, porque existem vários subtipos dessa doença, cada um com características únicas. Porém, geralmente, os chamados de “agressivos” podem ser os que mais causam preocupação. Apesar disso, atualmente, todas as formas da doença são tratáveis.