O café é uma bebida genuinamente brasileira, que há muito tempo está na mira da ciência. Dentre seus compostos, o principal é a cafeína, também conhecido como 1,3,7-trimetilxantinae, e classificado quimicamente como alcaloide. A cafeína está presente em vários alimentos, como café, chás, bebidas energéticas, suplementos e medicamentos e é conhecido por sua capacidade psicoativa – estimulante psicológico – e ergogênica, ou seja, em aumentar a potência de exercícios de longa duração. Show Após o consumo desses alimentos, em 15 a 45 minutos são observadas concentrações elevadas de cafeína no sangue, com concentrações máximas ocorrendo dentro de uma hora. Ela já apresenta efeitos psicoativos no organismo, capaz de aumentar os níveis de alerta e ansiedade em aproximadamente 30 minutos após sua ingestão. Os efeitos fisiológicos da cafeína têm sido amplamente estudados. Ela pode ser rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal e passar livremente pela barreira hematoencefálica, ou seja, do sangue para o cérebro, de modo que seus efeitos podem ser atribuídos à sua capacidade de estimular o sistema nervoso. Devido às características químicas da molécula, a cafeína pode levar ao bloqueio de certos receptores e aumentar a atividade do sistema nervoso autônomo, que regula as funções involuntárias do corpo (frequência cardíaca, pressão arterial, funcionamento do estômago, intestino, etc) por meio da liberação de adrenalina e noradrenalina, induzindo taquicardia (elevação da frequência cardíaca) e aumento de substâncias que elevam a pressão arterial. Cafeína e o coraçãoTendo em vista suas propriedades estimulantes do corpo, logo, levantam-se hipóteses sobre os efeitos da cafeína sobre o coração, um órgão de extrema relevância para o funcionamento do corpo. Será que a cafeína pode ser ingerida todos os dias sem fazer nenhum mal? Será que a cafeína pode acelerar o coração de uma maneira tão intensa que se torna perigoso? Faz mal ingerir cafeína antes dos exercícios? Cafeína pode aumentar as chances de infarto? Para responder essa sequência de dúvidas, grupos de pesquisa ao redor do mundo têm se esforçado para pesquisar o tema. Uma revisão publicada por cientistas dos Estados Unidos levantou 300 estudos observacionais e experimentais sobre as implicações do uso da cafeína no sistema cardiovascular. De acordo com esse estudo, a cafeína pode causar efeitos sutis e reversíveis em doses relativamente baixas, incluindo hipertensão transitória e minimamente elevada. Muitas pessoas apreciam os efeitos benéficos da cafeína, como aumento do estado de alerta ou maior concentração, que podem ser demonstrados experimentalmente em níveis de dose iguais ou inferiores a 100 mg. As principais evidências levantadas nessa revisão sugeriram que a ingestão moderada de cafeína não está associada a riscos aumentados de doença cardiovascular, arritmia, insuficiência cardíaca e alterações da pressão arterial em pessoas que consomem habitualmente café. Nesse sentido, boa parte das pesquisas que analisaram os efeitos da ingestão da cafeína em longo prazo (meses e anos) levantou fortes evidências de que não é problemático tomar aquelas duas xícaras de café todos os dias. Pelo contrário, foi indicado que o consumo diário de café (100 mg a 200 mg de cafeína) previne o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, como hipertensão, acidente vascular encefálico e diabetes. Por outro lado, mais recentemente, uma pesquisa conduzida pela Universidade de São Paulo (USP), examinou os efeitos da cafeína em pessoas com predisposição genética para desenvolver hipertensão. Foram analisados 533 indivíduos no “Health Survey of São Paulo” com uma idade mínima de 20 anos. O principal achado do estudo indicou que o consumo de café pode interagir com a predisposição genética para hipertensão. Assim, o risco para hipertensão é modificado pelo consumo de café. Indivíduos com maior vulnerabilidade para hipertensão tiveram pressão arterial alta associada ao maior consumo de café. Os pesquisadores destacaram a importância de reduzir a ingestão de café em indivíduos geneticamente predispostos a esse fator de risco cardiovascular. Cafeína em atividades físicasDentro desse contexto, a cafeína é um dos suplementos mais amplamente utilizados nos esportes e pode ser consumida de várias formas – bebidas energéticas, cápsulas, café, etc. De acordo com a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva, o consumo de cafeína melhora o desempenho do exercício de moderada a longa duração (acima de 30 minutos), bem como o desempenho em exercícios de alta intensidade. É essa relação entre exercício e o consumo da cafeína que levou sua ampla aceitação entre os consumidores como estratégia para melhorar seu desempenho físico nos treinos. Entretanto, diante do impacto estimulante da cafeína, levantou-se a hipótese de que ela aumentaria a sobrecarga no coração durante o exercício, haja vista que o exercício já é um fator que demanda trabalho cardíaco. Desta maneira, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Marília, SP, publicaram estudos com a intenção de verificar se a cafeína administrada antes do exercício pode gerar comprometimentos cardíacos. O grupo de pesquisa analisou indivíduos jovens fisicamente ativos durante 6 anos. Cada voluntário realizou exercício físico na esteira, de maneira que foram ingeridas cápsulas de cafeína ou placebo idênticas 60 minutos antes do exercício. Parâmetros fisiológicos cardiovasculares foram monitorados durante a primeira hora de recuperação após o exercício. Esse método de análise fornece uma estimativa da probabilidade de uma pessoa sofrer uma complicação cardiovascular súbita após o esforço. Os resultados indicaram que a cafeína fez com que o organismo levasse mais tempo para se recuperar após o exercício. A interpretação fisiológica desse achado sugere que a cafeína, quando administrada antes do exercício, pode aumentar as chances de complicação cardiovascular após o esforço. A preocupação maior dos pesquisadores são pessoas com fator de risco que optam por tomar café antes do esforço, sem consultar a equipe médica. No entanto, não podemos deduzir que a cafeína é contraindicada, porquanto ela já é utilizada em recém-nascidos dentro das terapias intensivas. Em suma, considerando o que a literatura científica nos trouxe até o momento, a cafeína em doses moderadas (100 a 200 mg) causa benefícios ao coração. Todavia, é preciso cautela em duas situações:
Portanto, a cafeína pode fazer bem ou mal ao coração, dependendo do contexto. Referências
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Quem tem palpitação no coração pode tomar café?Se o seu paciente portador de arritmias cardíacas faz uso não abusivo de café, 2 a 3 xícaras por dia, e não percebe piora dos sintomas de palpitações, não proíba o uso. Ainda não há evidências robustas o suficiente para se prescrever café nesta população.
Como saber se o café está me fazendo mal?Alguns dos sinais e sintomas que indicam um consumo excessivo de cafeína incluem:. Irritabilidade;. Dor de estômago;. Tremores leves;. Insônia;. Nervosismo e inquietação;. Ansiedade.. |