Quais alterações podem ser observadas em uma urina que não seguiu essas recomendações de coleta?

Ter dúvidas sobre exames laboratoriais é mais comum do que podemos imaginar. São vários os fatores que devemos levar em consideração e um deles é a importância da higienização na coleta de urina. Coletar o jato médio corretamente e fazer a higienização previnem a contaminação nas amostras. Essa contaminação está relacionada à quantidade de células presentes, o que dificulta a análise da urina.

Como realizar a higienização na coleta de urina?

O processo deve ser feito da seguinte forma:

  • Lavar as mãos;
  • Fazer a higiene dos genitais externos com água e sabonete ou lenço umedecido sem álcool;
  • Desprezar o 1° jato urinário e coletar o jato médio;
  • Encaminhar a amostra ao laboratório o mais brevemente possível.

O que você precisa saber para prevenir a contaminação da urina:

  • O frasco deve ser estéril nos casos de urocultura.
  • Na coleta de urina é desejável que você esteja sem urinar há pelo menos 2h.
  • É importante que se colete o jato médio urinário.
  • Quando a amostra de urina for coletada fora do laboratório, deve ser entregue no máximo em 2h.

Ou seja, a falta de higienização pode permitir uma contaminação que, por consequência, causa um retrabalho para a equipe do laboratório e gera atraso na liberação dos resultados para o paciente.

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Cuidados na fase pré-analítica garantem a precisão dos resultados dos exames

Uma das principais finalidades dos testes laboratoriais é auxiliar o raciocínio médico após a obtenção da história clínica e a realização do exame físico. Para tanto, todas as fases de execução dos testes, sobretudo a pré-analítica, devem ser conduzidas seguindo o rigor técnico necessário para garantir a segurança do paciente e resultados exatos.

Segundo a literatura científica, a fase pré-analítica concentra a maior parte dos equívocos que podem gerar resultados não consistentes com o quadro clínico do paciente. Estima-se que problemas nessa etapa sejam responsáveis por cerca de 70% dos erros ocorridos nos laboratórios. Entre eles, vale destacar os aspectos relacionados à orientação do paciente, como a necessidade ou não do jejum e o intervalo adequado deste, o tipo de alimentação, a prática de exercício físico, o uso de medicamentos capazes de interferir na análise e mudanças abruptas nos hábitos da rotina diária precedendo a coleta.

Apesar de o controle do laboratório sobre tais variáveis ser limitado, é possível contornar muitas dessas inadequações por meio da orientação do paciente, seja pelo médico que solicita o exame, seja pelo laboratório clínico, que fornece as informações pelos diversos canais de comunicação com o cliente.

Por último, convém lembrar que a escolha inapropriada de testes ou de seus painéis também pode constituir um erro pré-analítico. Nesse sentido, a interação entre o médico-assistente e o patologista clínico sempre se mostra salutar.

As fases da análise laboratorial

A realização de exames divide-se, classicamente, em:

• Fase pré-analítica: começa na coleta de material, seja ela feita pelo paciente (urina, fezes e escarro), seja feita no ambiente laboratorial.
• Fase analítica: corresponde à etapa de execução do teste propriamente dita.
• Fase pós-analítica: inicia-se no laboratório clínico e envolve os processos de validação e liberação de laudos, encerrando-se após o médico receber o resultado final, interpretá-lo e tomar sua decisão.

O controle do laboratório sobre os erros em cada uma dessas fases é variável, porém todos têm impacto na conduta adotada pelo médico assistente.

Conheça os fatores pré-analíticos que mais interferem nos exames

As condições pré-analíticas comumente abordadas no laboratório clínico incluem variação cronobiológica, gênero, idade, posição, prática de atividade física, dieta, jejum e uso de drogas para fins terapêuticos ou não. Em uma abordagem mais ampla, outras circustâncias também precisam ser consideradas, a exemplo da realização de procedimentos terapêuticos ou diagnósticos, cirurgias, transfusão de sangue e infusão de soluções, entre outras. A coleta e a adequação de amostras igualmente têm papel essencial para um exame confiável.

Variação cronobiológica

Essa alteração envolve as alterações cíclicas na concentração de determinados parâmetros em função do tempo, podendo ser diária, mensal, sazonal, anual etc. A circadiana, por exemplo, ocorre nos níveis séricos de cortisol e ferro. As coletas realizadas à tarde fornecem resultados mais baixos do que os obtidos nas amostras coletadas pela manhã.

Posição

A mudança rápida na postura corporal determina variações no teor de alguns componentes séricos. Quando o indivíduo se move da posição supina para a ereta, ocorre um afluxo de água e substâncias filtráveis do espaço intravascular para o intersticial. Assim, proteínas de alto peso molecular e elementos celulares elevam-se relativamente até que o equilíbrio hídrico se restabeleça. Por essa razão, níveis de albumina, colesterol, triglicérides, hematócrito e hemoglobina, além de drogas que se ligam a proteínas e também os leucócitos, podem ser superestimados (em torno de 8% a 10%) se a coleta de sangue for feita antes da estabilização do equilíbrio hídrico.

Gênero

Alguns exames de sangue e urina apresentam níveis significativamente distintos entre homens e mulheres devido a variações hormonais, metabólicas e de massa muscular, entre outras. As alterações típicas do ciclo menstrual também se refletem em outras substâncias. A aldosterona fica cerca de 100% mais elevada na fase pré-ovulatória do que na folicular. De qualquer modo, os intervalos de referência para esses parâmetros são específicos para cada gênero.

Faixa etária
Certos indicadores bioquímicos possuem nível sérico dependente da idade, o que se deve a fatores como maturidade funcional dos órgãos e sistemas, conteúdo hídrico e lipídico, massa corporal, limitações funcionais da senilidade, etc. Em situações especiais, os intervalos de referência devem considerar essas diferenças. Convém ponderar que as mesmas causas de variações pré-analíticas que afetam os resultados laboratoriais em jovens interferem nos resultados de idosos, mas com intensidade maior nestes últimos. Doenças subclínicas também são mais comuns na maturidade e precisam ser levadas em conta na interpretação dos resultados.

Jejum

A necessidade do jejum decorre do fato de os valores de referência dos testes terem sido estabelecidos em indivíduos nessa condição. Ademais, a refeição pode alterar a composição sanguínea momentaneamente – sem o pré-requisito, cada exame teria de ser analisado à luz do que a pessoa ingeriu. A maioria dos exames exige três horas de jejum, com exceção da glicemia (oito horas) e do perfil lipídico (12 horas), dentro do qual, vale lembrar, existe considerável variação intraindividual nos lipídios plasmáticos, da ordem de 5% a 10%, para o colesterol total, e superior a 20%, para os triglicérides. Na população pediátrica e de idosos, o tempo sem alimentação deve guardar relação com os intervalos das refeições. Para crianças mais novas, o jejum pode ser de uma ou duas horas.

Dieta

A amplitude das alterações de parâmetros no plasma ainda depende da composição da dieta e do tempo decorrido entre a ingestão e a coleta da amostra. Alimentos que contêm muita gordura, por exemplo, fazem subir a concentração de triglicérides, da mesma forma que dietas ricas em proteínas promovem níveis elevados de amônia, ureia e ácido úrico.

Álcool e fumo

Da mesma forma que os medicamentos, o álcool e o fumo determinam variações nos resultados de exames laboratoriais por seus efeitos in vivo e in vitro. Mesmo o consumo esporádico de etanol pode ocasionar alterações significativas e quase imediatas na glicose, no ácido lático e nos triglicérides. Já o uso crônico eleva a atividade da gamaglutamiltransferase. O tabagismo, por sua vez, aumenta a concentração de hemoglobina, a quantidade de leucócitos e de hemácias e o volume corpuscular médio, além de reduzir o HDL-colesterol e elevar a adrenalina, a aldosterona, o antígeno carcinoembriogênico e o cortisol.

Atividade física

O efeito dos exercícios sobre alguns componentes sanguíneos é, em geral, transitório e decorre da mobilização de água e outras substâncias entre os diferentes compartimentos corporais, das variações nas necessidades energéticas do metabolismo e da modificação fisiológica que a atividade condiciona. Desse modo, dá-se preferência à coleta de amostras com o paciente em condições basais, que são mais facilmente reprodutíveis e padronizáveis. O esforço físico ainda é capaz de aumentar a atividade sérica de enzimas de origem muscular, como a creatinoquinase (CK), a aldolase e a aspartato aminotransferase, pelo aumento da liberação celular. Pode haver ainda hipoglicemia, elevação da concentração de ácido láctico em até dez vezes e aumento nas atividades das enzimas renina e CK em até quatro e dez vezes, respectivamente. As variações chegam a persistir por 12 a 24 horas, a depender da intensidade do exercício e do grau de condicionamento físico do indivíduo.

Gestação

Existem mecanismos que mudam o nível das substâncias no plasma durante a gravidez, os quais decorrem de vários fatores, como a hemodiluição de proteínas totais e albumina, as deficiências relativas em função do maior consumo de ferro e ferritina e o aumento das proteínas de fase aguda, como a velocidade de hemossedimentação, apenas para citar alguns.

Medicamentos em uso

Uma vez que podem se constituir em interferentes, os fármacos usados pelo paciente devem ser protocolados para evitar alterações que acabem induzindo o médico a erros na interpretação dos valores encontrados. Tais interferências ocorrem in vivo, quando o medicamento modifica o resultado, como a hiperglicemia causada pelo uso de corticoides ou a elevação da atividade da CK total pelo uso de estatinas.

Coleta e adequação da amostra têm papel preponderante para um exame confiável

Entre os fatores pré-analíticos, devemos citar ainda as variáveis de coleta, que têm como agentes as condições do material biológico (como a temperatura), o tempo excessivo de garroteamento, o sangue colhido em locais de acesso venoso com infusão de líquidos e até a hospitalização, que pode afetar os resultados.

No que concerne a amostras obtidas pelo paciente, merece atenção a coleta de urina de 24 horas, que exige cuidado para evitar perdas das micções e garantir sua conclusão no mesmo horário em que foi iniciada. Abaixo, confira alguns dos fatores mais importantes nesse contexto.

Temperatura

A temperatura ideal para a coleta deve ser de 22-25oC. Já a necessária para o armazenamento das amostras tem de ficar entre 2oC e 8oC para inibir o metabolismo das células e estabilizar certos constituintes termolábeis. Para a dosagem de potássio, a refrigeração de amostra não centrifugada não pode passar de duas horas, uma vez que tal processo é capaz de impedir a glicólise, que alimenta a bomba de potássio, e promover sua saída para o meio extracelular, elevando o resultado do teste. É oportuno lembrar que as amostras para alguns exames requerem transporte refrigerado, tais como catecolaminas, amônia, ácido láctico, piruvato, gastrina e paratormônio.

Hemólise

Durante a coleta, os fatores que provocam hemólise devem ser prevenidos. Desse modo, os tubos precisam permanecer na posição vertical até a completa coagulação do sangue, quando, então, é possível centrifugá-los. A hemólise afeta substancialmente a dosagem de alguns elementos, como desidrogenase láctica, aspartato aminotransferase, potássio e hemoglobina. Outros testes, como os que medem ferro, alanina transferase e T4, são moderadamente influenciados por soros hemolisados. E há aqueles que sofrem pequenas influências desse processo, tais como fósforo, proteína total, albumina, magnésio, cálcio e fosfatase ácida.

Luz

Alíquotas para dosagem de bilirrubina, betacaroteno, vitamina A, vitamina B6 e porfirinas devem ser preservadas ao abrigo da luz, pois sofrem interferência desta.

Infusão de líquidos e medicamentos

A coleta de sangue tem de ser realizada sempre em local distante da instalação do cateter, preferencialmente no outro braço e, se possível, pelo menos uma hora após o fim da infusão.

Quais os tipos de alterações que podem surgir caso não seja preservada a amostra de urina?

Normalmente a urina não possui bactérias, mas se a amostra não for colhida nas condições adequadas, pode ocorrer contaminação. Especialmente em mulheres, bactérias e leucócitos na urina podem ser resultados de contaminação com secreções vaginais.

O que pode alterar no exame de urina?

Alterações na composição. Altos níveis de proteína podem indicar intoxicações ou infecções urinárias. Já a presença de glicose pode ser diabetes ou problemas renais. Também há a chamada hematúria, a presença de sangue na urina, que pode indicar cálculo, infecção ou câncer no aparelho urinário.

Quais os fatores que podem prejudicar a coleta do exame de urina?

O transporte inadequado da amostra de urina pode impactar diretamente na sua qualidade. Idealmente, amostras sem conservantes e não refrigeradas devem ser processadas em até 2 horas após a coleta para evitar a lise de hemácias e piócitos e a intensa multiplicação bacteriana.

Quais problemas uma amostra de urina não conservada pode apresentar?

Amostras não conservadas de forma adequada podem sofrer a proliferação de bactérias e fungos, e estes interferem na microscopia do exame, mascarando principalmente protozoários.