A dinâmica de destruição na Mata Atlântica, acelerada ao longo das últimas décadas, resulta em alterações severas nos ecossistemas que compõem o bioma, especialmente pela perda e fragmentação de habitats. Atualmente, menos de 2% da área original da Mata Atlântica está protegida em unidades de conservação de proteção integral (parques nacionais, reservas biológicas e estações ecológicas). Tais unidades se encontram localizadas principalmente na Mata Atlântica costeira dos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e região serrana do Espírito Santo. Apesar da distribuição geográfica do bioma, esta área, é nitidamente insuficiente para assegurar a viabilidade ecológica de muitas espécies. Show
Principais desafiosDiversos são os aspectos associados à fragmentação, que não estão ainda devidamente documentados, e podem influenciar a persistência de populações nos remanescentes florestais. A exemplo, tem-se a caça, os incêndios, as espécies invasoras e o sinergismo entre esses fatores. Além disso, o rápido e acelerado processo de urbanização e industrialização inferem diretamente na conservação destas áreas. Em outras palavras, a demanda por bens, produtos e serviços, faz com que ocorra uma exploração desordenada dos recursos naturais, dificultando assim a conservação da Mata Atlântica. Biodiversidade do biomaA Mata Atlântica abriga mais de 20 mil espécies de plantas, estando inclusas espécies raras de palmeiras, orquídeas e bromélias. Em função desta riqueza, o bioma é reconhecido como um dos locais de maior diversidade de árvores do mundo. Em 2000, o bioma foi reconhecido como um hotspot de biodiversidade.Tal definição está atrelada ao grande número de espécies endêmicas, bem como às fortes pressões antrópicas sofridas. Ressalta-se que, a Mata Atlântica brasileira possui aproximadamente 12,5% da sua cobertura “original”. Em geral, estas áreas estão dispostas na forma de pequenos fragmentos florestais (menores do que 100 ha), isolados em meio a paisagens altamente alteradas. A perda e fragmentação de habitats são os dois principais fatores que levam à extinção de espécies em florestas tropicais. Assim, não é por acaso que mais de 2 mil espécies de plantas e animais da Mata Atlântica estão oficialmente ameaçadas de extinção, muitas ainda sem a proteção adequada. Por que conservar este bioma?No Brasil, a Mata Atlântica se encontra distribuída por 17 estados, sendo assim berço para cerca de 70% da população. Apesar da ocupação acelerada nessas regiões, o bioma apresenta uma gama de contribuições para o bem-estar da sociedade e, consequentemente, para o progresso econômico. Assim, considerando os aspectos supracitados, muitas são as razões pelas quais deve-se proteger e conservar esse ecossistema. Um exemplo, são os serviços ecossistêmicos prestados pela Mata Atlântica. Dentre tais, o domínio possui influência na regulação climática e na manutenção dos recursos hídricos. Ademais, o bioma, em função de suas paisagens e belezas cênicas, apresenta diversas opções de lazer e ecoturismo. De forma geral, a conservação da Mata Atlântica implica em fornecimento de serviços ecossistêmicos fundamentais, assim como gera subsídios para um equilíbrio ecológico e geológico dos ecossistemas. Pode-se dizer que, conservar tal domínio favorece na manutenção dos recursos naturais, bem como na prevenção de catástrofes ambientais. Estratégias de conservaçãoA conservação da diversidade biológica envolve não somente a preservação das espécies, mas também da diversidade genética contida em diferentes populações. Nesse sentido, faz-se de suma importância proteger múltiplas populações da mesma espécie, que nos hotspots estão cada vez mais isoladas e suscetíveis a eventos estocásticos de natureza genética ou demográfica. Tal fator implica em maiores probabilidades destas espécies se extinguirem localmente. Para tanto, as estratégias de conservação devem abordar a dinâmica da paisagem e as inter-relações entre unidades de conservação, além dos aspectos relacionados às áreas isoladas. Um fator importante no estabelecimento de uma estratégia de conservação eficiente é o aumento do conhecimento sobre a biodiversidade. Apesar dos avanços no conhecimento científico sobre a distribuição geográfica e o status taxonômico de espécies, ainda é necessário ampliar consideravelmente os investimentos em recursos humanos e financeiros para aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade da Mata Atlântica e outros biomas do País. Aliado aos pontos levantados, não podemos deixar de mencionar a conservação dos recursos hídricos. Em diversos pontos, ao longo do bioma, já se manifestam limitações e demandas conflitantes no abastecimento de água doce para consumo doméstico, industrial e agrícola. Tal fato provoca crescentes discussões e ações concretas para a proteção, recuperação e uso racional de mananciais. Nesse sentido, temáticas como educação ambiental, recuperação florestal, conservação de matas ciliares ao longo de cursos d’água, fiscalização e controle, adoção de práticas conservadoras no uso do solo, sensibilização e mobilização social para a conservação e gestão compartilhada, pagamento por serviços ambientais, entre tantos outros, são de imediata relevância para ambos os propósitos de conservação dos recursos hídricos e da biodiversidade. Importância da sociedade na conservação do biomaAs comunidades rurais e tradicionais têm um importante papel na conservação e restauração das florestas. A exemplo, o emprego de métodos de produção sustentável, em torno das unidades de conservação, proporciona alternativas de renda sustentável para as populações locais e protege as florestas a longo prazo. Ressalta-se que a produção de artesanato, sementes, plantas medicinais, chás como erva-mate e outros produtos florestais não-madeireiros tem apresentado um crescimento rápido. Serviços ecossistêmicosTodos nós dependemos da natureza como provedora das condições ideais para uma vida saudável e segura. Contudo, não precisamos ultrapassar os limites do planeta, exaurindo seus recursos naturais para tomarmos consciência da importância da conservação ambiental. De fato, a sociedade já possui a experiência, o conhecimento e os recursos para vencer este desafio. Os serviços ambientais prestados pelas florestas se classificam como essenciais para a qualidade de vida da população. Em suma, os mesmos estão diretamente relacionados com a proteção a água, a regulação do clima, a proteção das bacias hidrográficas e do solo, o controle da erosão, a prevenção de inundações e a polinização, os quais são essenciais para o bem-estar humano. Em todo o mundo, estes serviços ambientais não têm sido devidamente valorizados. Entretanto, à medida que os recursos naturais se tornam cada vez mais escassos, cresce-se o reconhecimento do seu grande valor. O que tem sido feito para a conservação do biomaA Mata Atlântica compreende uma das regiões mais diversas em fauna e flora do mundo. Apesar da importância que possui, o bioma é um dos mais suscetíveis à intervenção humana. Além disso, este domínio apresenta uma quantidade significativa de espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção. Nesse sentido, fica cada vez mais evidente a necessidade da criação e estabelecimento de leis, normas e diretrizes que visem a sua conservação. Em função das crescentes pressões impostas ao bioma, tem-se investido na busca por alternativas que beneficiem a manutenção dos ecossistemas naturais. A exemplo, o uso de ferramentas para monitoramento destas áreas, identificando possíveis ocorrências de desmatamento e incêndios, são empreendidos. Principais iniciativasDentre os acontecimentos mais recentes, em fevereiro de 2022, estabeleceu-se o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica. A iniciativa desse sistema originou-se pela parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica, Arcplan e MapBiomas. A implementação dessa ferramenta está atrelada à possibilidade de se realizar um maior e melhor monitoramento da cobertura vegetal. Para isso, serão utilizadas imagens de satélite de alta resolução. O SAD possui capacidade de identificar áreas afetadas a partir 0,3 hectares. Além disso, o sistema visa a geração de alertas de forma mensal, apresentando maior precisão e detalhamento dos eventos de desmatamento. Destaca-se que a disponibilização dos alertas mensais se dá a partir da plataforma MapBiomas Alerta. Em suma, a obtenção de informações a partir dos alertas mensais gerados pelo SAD permitirá o estabelecimento de políticas públicas que visem a diminuição e/ou erradicação da destruição na Mata Atlântica. Além do SAD Mata Atlântica, vale ressaltar a Operação Mata Atlântica em pé, realizada no ano de 2021. Viabilizada a partir de uma ação conjunta de Mistérios Públicos de diferentes estados do país, a ação teve como objetivo fiscalizar, impedir o desmatamento e proteger regiões em que o bioma se faz presente. Veja também: Incêndios Florestais: o risco sempre iminente O que precisa ser feitoA Mata Atlântica é reconhecida como patrimônio nacional pela Constituição Federal de 1988. Contudo, foi no ano de 2006 que se estabeleceu a Lei Nº 11.428, também conhecida como a Lei da Mata Atlântica. Este documento dispõe sobre a utilização e proteção dos recursos naturais presentes no domínio. Apesar da criação de leis, faz-se necessário a conscientização dos poderes públicos e sociedade para com a vegetação. Assim, é importante que todas as esferas públicas e organizações ligados ao meio ambiente trabalhem juntas, para estimular a criação de novas Unidades de Conservação (UC’s) e implementar estratégias de gestão, a fim de assegurar a conservação e a sustentabilidade destas áreas a longo prazo. Além disso, as ações necessárias para pôr fim ao desmatamento, e para a manutenção desse bioma, são de grande escala e exigem uma articulação entre as esferas política, econômica e científica. Texto revisado por Natielle Gomes Cordeiro – 03/03/2022Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa. Continuou seus estudos na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo da Vida Selvagem. Dedicou grande parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental no Meio Ambiente Florestal da Fibria Celulose S/A e como consultora em projetos de Inventário Florestal, Averbação de Reserva Legal e Mapeamento de Áreas, na Florestal Jr. Atualmente é mestranda em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela UFRJ, Consultora de Comunicação da Ocyan e Gestora de Conteúdo do blog Mata Nativa. Commentscomments O que podemos fazer para conservar a biodiversidade?O que você pode fazer para ajudar a conservar a biodiversidade. Consumir de forma mais sustentável. ... . Evitar a compra de animais silvestres para não incentivar o tráfico de animais. ... . Divulgar, fazer doações ou oferecer trabalho voluntário para projetos de conservação.. Que fatores dificultam a manutenção da biodiversidade?CAUSAS DA PERDA DE BIODIVERSIDADE. Mudanças climáticas. ... . Poluição. ... . Destruição de habitats. ... . Espécies exóticas invasoras. ... . Exploração excessiva do meio natural.. O que é a conservação da biodiversidade?A conservação da biodiversidade é fundamental para assegurar a diversidade de organismos vivos, incluindo os ecossistemas terrestres e aquáticos.
Qual a importância de preservar e conservar a biodiversidade?A biodiversidade apresenta também importância econômica. Como sabemos, os seres vivos são importante matéria-prima na fabricação de alimentos, medicamentos, cosméticos, vestimentas e até habitação. Preservar é garantir, portanto, que esses recursos não faltem no futuro e que o meio ambiente permaneça em equilíbrio.
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