Qual e a importância da capital do Brasil?

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Qual e a importância da capital do Brasil?

Prado, na Plano CDE Pesquisas etnográficas para empresas e instituições como o Banco Mundial (Foto: Fabiano Accorsi)

O antropólogo e administrador Maurício de Almeida Prado, 43 anos,  tem uma maneira bem peculiar de avaliar as conquistas sociais no Brasil. Sócio-diretor da Plano CDE, uma empresa especializada em pesquisas etnográficas com a população de baixa renda, ele diz que, mais que o aspecto financeiro, é preciso considerar a transformação comportamental dessas pessoas. “É o que chamamos de construção do capital humano, uma conquista importantíssima e irreversível dos brasileiros nas duas últimas décadas”, diz. Quem migrou das classes D e E para a C, pode, segundo Prado, até ter perdido parte da renda nos últimos dois anos, por conta da recessão econômica. Mas sua vida já mudou para sempre. “Ele teve mais acesso à educação, informação, saúde, tecnologia. Esse conhecimento não se perde mais. É isso que faz com que o país comece a mudar.” Prado fala com a autoridade de quem vai frequentemente à rua perscrutar esse brasileiro das estatísticas sociais. Para um estudo encomendado pelo Banco Mundial, por exemplo, passou 12 manhãs na casa de famílias de baixa renda. “Eu vou do número macro para o personagem. Gosto dessa história de avaliar a economia real mostrando a trajetória da Maria Alice, do Rio, que tem três filhos e recebe o Bolsa Família.” O trabalho com o Banco Mundial, que envolveu toda a equipe da Plano CDE, durou seis meses. No próximo semestre, a empresa concluirá outros dois importantes estudos: um para o Todos pela Educação e outro para a Fundação Lemann. Aqui,  Prado confronta, com exemplos práticos, a teoria econômica, derruba mitos sobre as classes mais pobres e celebra importantes conquistas sociais – sem partidarismos.

Época NEGÓCIOS  Dados do Banco Central indicam que ao menos 3 milhões de pessoas que migraram para a nova classe média nos últimos anos deverão voltar para as camadas de menor renda, a D e a E. É o mesmo quadro que você vê nas pesquisas de campo, no convívio com as famílias? 
Maurício Prado
  Entre 2002 e 2012, 37 milhões de pessoas ascenderam da classe pobre para a classe média, formando o que se convencionou chamar de Nova Classe Média. Consultorias e bancos falam agora que 3 milhões ou até 3,7 milhões de pessoas deverão regredir na pirâmide social. Houve perda de renda, sim. Mas nem todo mundo, nesse contingente estimado, voltou ao patamar de antes. O nosso objeto de estudo, porém, é outro. Vai além da questão econômica. Mesmo que para esses 3 milhões a renda tenha caído um pouco, existe uma grande e irreversível mudança de comportamento dessas classes. E isso foi uma enorme conquista, uma imensa evolução. Que vem dos últimos 20 anos, graças à estabilidade econômica, associada às políticas sociais, aos aumentos de salário mínimo, à redução de desigualdades...

Época NEGÓCIOS  Quais foram as mudanças de comportamento?
Maurício Prado 
Olhe para a educação. Existem alguns números muito fortes. Em 2002, 25% das mulheres de 25 a 35 anos tinham ensino médio completo. Em 2012, o índice saltou para 66%. A universalização do ensino é um fato. E ela aconteceu de forma mais forte com as mulheres do que com os homens [56,8% com ensino médio completo], mais pressionados para entrar logo no mercado de trabalho. Essas mulheres que estão levando a sério e terminando o ensino médio serão mães que vão valorizar muito mais a educação dos filhos. Quando a gente olha para o ensino superior, há também uma grande evolução. Em 1994, tínhamos 1,7 milhão de pessoas nas faculdades no Brasil. Em 2014, fomos para 7 milhões. Mesmo questionando a qualidade das escolas – nem todas são como gostaríamos –, não há como negar que teremos um número quatro vezes maior de pais que vão valorizar a educação de seus filhos. Isso é muito importante, porque cria um ciclo virtuoso. Há vários impactos desse fenômeno. O Censo revelou que no ano passado 45% dos formandos obtiveram o primeiro diploma da família. Isso não gera apenas conhecimento, mas melhora a autoestima e cria perspectivas para um futuro melhor. Todos esses dados mostram uma evolução quantitativa muito forte do Brasil. Que agora merece uma evolução qualitativa.

"As famílias C e D trocam  carne por ovo, mas não  abrem mão de internet e celular. E isso faz todo o sentido"

Época NEGÓCIOS  Esse é o ponto, a evolução qualitativa...
Maurício Prado
  Mas o Brasil está mudando muito. Sobretudo para as classes mais baixas. É o avô analfabeto, o pai que mal terminou o fundamental e o filho que concluiu o ensino médio ou até o superior. Precisa evoluir mais rápido? Precisa. Mas o quadro não é tão negativo como se supõe. Tivemos importantes avanços sociais na última década. Os índices de pobreza extrema, por exemplo, diminuíram muito.

Época NEGÓCIOS  Qual sua opinião sobre o Bolsa Família? 
Maurício Prado 
Teve um papel fundamental nas conquistas sociais. O programa é comprovadamente muito bom, tanto que está sendo replicado em outros países. Claro que sempre é preciso fazer ajustes, como ocorre com qualquer política pública. Mas ele é realmente eficaz.

Época NEGÓCIOS  O Ministério Público Federal encontrou, no mês passado, irregularidades no valor de R$ 2,5 bilhões em pagamentos dos benefícios do Bolsa Família (para pessoas falecidas, funcionários públicos)...
Maurício Prado 
De novo: é preciso refinar e fazer ajustes, garantir o foco nos mais pobres e a correta aplicação do dinheiro. Mas o programa é muito bom. Isso é inegável.

Época NEGÓCIOS  Como você avalia o velho clichê do “ é preciso ensinar a pescar em vez de dar o peixe”, repetido à exaustão pelos críticos do programa?
Maurício Prado 
A gente fez um estudo sobre o Bolsa Família. Para as famílias mais pobres, o programa representa 20% da renda. Eles têm outras fontes, pequenas, mas as têm. Ninguém vive com R$ 200 por mês. Pelos menos não na periferia das grandes cidades. Nosso estudo não pegou a área rural. Ou seja, aquela história de que as famílias se encostam no Bolsa Família não pode ser tomada como regra. O que acontece, e a gente viu muito em nossas pesquisas, é que a renda dessas famílias oscila muito mês a mês por causa da informalidade. Naquele mês em que não entrou nenhum dinheiro, o Bolsa Família é um colchão, um seguro, o mínimo para aquela família sobreviver. E mesmo as famílias que tem um pouco mais de renda acabam direcionando recursos do Bolsa Família para comprar material escolar para o filho. A analogia da pescaria é típica de quem não vivencia o dia a dia das famílias. Outro mito é de que as pessoas estão tendo mais filhos para ficar no programa. Dados da Pnad mostram que no Nordeste, entre 2003 e 2013, as famílias mais pobres da região, provavelmente beneficiárias do Bolsa Família, registraram queda de 26,4% no número de filhos. Foi a maior queda entre todas as regiões. Ora, se houvesse essa situação das pessoas tendo filhos para segurar o benefício, o índice não teria caído tanto. As classes A e B não conhecem o Brasil. Como estão muito distantes da realidade brasileira, criam estereótipos.

Época NEGÓCIOS  Qual a papel da mulher no Bolsa Família?
Maurício Prado 
A mulher típica do Bolsa Família é a mulher com três filhos, cujo marido sumiu. E ela tem de se virar. A gente descobriu que 40% das famílias usam eletrodomésticos da casa para gerar renda. O fogão para fazer coxinhas. A geladeira para um sorvete; a chapinha para arrumar o cabelo das vizinhas; a máquina de costura para pequenos ajustes... Esses produtos se transformam em ferramentas de trabalho. E o varejo, que financia a aquisição dos eletrodomésticos, acaba se tornando o banco dessas mulheres, geralmente excluídas do sistema financeiro. A casa vira fábrica. E, ao produzir em casa, ela ainda consegue olhar os filhos, ajudar nas tarefas. É o papel duplo de mãe e geradora de renda.

Época NEGÓCIOS  Uma das críticas ao Bolsa Família é a de que ele não oferece portas de saída. Concorda?
Maurício Prado
  Há um encaminhamento para que a família saia dessa condição. Você proporciona algum tipo de educação, dando mais saúde, criando meios para que as pessoas evoluam. Isso também é porta de saída. Nossa análise, vai além do capital econômico. Estamos falando da construção de capital humano.

Época NEGÓCIOS Você mencionou a falta de acesso da população de baixa renda ao sistema financeiro. Como anda o fenômeno da “bancarização” no Brasil?
Maurício Prado 
Cerca de 40% dos adultos no Brasil não têm conta em banco. Outro grande contingente está negativado. E como faz? Empresta o cartão de crédito do amigo, usa o agiota do bairro. Tem até mecanismos informais de empréstimo, como as cooperativas de vizinhos.

Qual e a importância da capital do Brasil?

Mitos
“As classes A e B não conhecem o Brasil. Por isso, criam estereótipos” (Foto: Fabiano Accorsi)

Época NEGÓCIOS  Os bancos, aparentemente, têm feito esforços para tornar realidade a inclusão. Por que não funciona?
Maurício Prado
  Quando a gente pergunta o motivo de não ter conta em banco o cara responde: ‘não compensa’. A conta é a seguinte: o rendimento que a poupança vai dar a ele é muito baixo porque o dinheiro é pequeno. Se, daqui a dois meses, ele tiver que tirar o montante, só o ônibus para ir e voltar do banco vai sair mais caro do que o rendimento. Faz todo o sentido não ter conta em banco. O divisor de águas para essas classes vai ser a bancarização via celular. E a proliferação das Fintechs.

Época NEGÓCIOS  E os hábitos de consumo das classes CDE? Mudaram muito nos dois últimos anos?
Maurício Prado
  Desde o começo de 2015 que a gente está estudando o impacto da crise sobre o consumo, principalmente da classe C e D. As famílias substituem a carne vermelha pelo frango ou pelo ovo, mudam as marcas, trocam de supermercado, mas não cortam internet e não abrem mão do celular. Por quê? Porque esses itens viraram peças centrais para a dinâmica dessas famílias. Para começar, são uma opção barata de lazer. Estamos falando de pessoas que moram em bairros distantes, geralmente com pouca área de lazer, poucas praças, nenhum parque. Ir ao shopping é caro. A internet também ajuda na educação. Cabe lembrar que os pais têm escolaridade baixa. Como vão ajudar o filho a estudar? Em várias pesquisas que a gente fez sobre educação, verificamos que o pai fica do lado do filho fingindo que está estudando, só para incentivar. Quando surge alguma dúvida, os dois vão à internet buscar conteúdo, videoaula. Então é lazer, é educação, é comunicação, é acesso à informação. A possibilidade de pesquisar produtos na web, por exemplo, deu à população de baixa renda algo inédito: o empoderamento para fazer compras inteligentes. Isso, que para nós pode parecer trivial, é uma importante transformação social, pelo simples fato de proporcionar liberdade de escolha. O cara consegue buscar um lugar com um preço melhor do que as lojas de sua região e dá um jeito de ir até lá retirar o produto. O aumento da penetração de moto e carro nessas classes ajuda no deslocamento, muitas vezes na base da carona coletiva. Pode parecer estranho, mas pobre paga mais porque no bairro dele tudo é mais caro.

Época NEGÓCIOS  O paradoxo da baixa renda...
Maurício Prado 
Existe um conceito chamado poverty penalty, que é a penalidade da pobreza. Pobre paga mais caro porque o bairro em que mora é distante e o acesso difícil. Tanto dele aos grandes centros, como dos fornecedores ao seu bairro. O supermercado fica mais caro, a loja de varejo é mais cara. Antes o cidadão ficava engessado, porque não tinha acesso ao melhor preço. O varejista do bairro, então, deitava e rolava em cima dele. É claro que o atual empoderamento de consumo acontece, geralmente, com itens mais caros. Mas uma grande mudança aconteceu no ano passado, com o descobrimento, por parte dessa classe, do fenômeno do atacarejo. Aumentou muito a frequência da população de baixa renda a este tipo de supermercado, que era mais voltado aos lojistas e se adequou ao consumidor final. Sem contar que vende produtos mais baratos que os varejistas. Historicamente, essas classes não iam ao atacarejo porque não tinham carro. Hoje, as mulheres combinam via celular o dia da compra, dividem a gasolina com a dona do carro e vão juntas ao mercado. Também dividem os itens. Consegue-se, então, fazer um hábito de compra compartilhado, do transporte à boca do caixa. É a sharing economy em seu estado bruto. Essa expedição para o atacarejo diminuiu o poverty penalty. Essa história de que o Brasil retrocedeu em tudo é uma inverdade. Não voltamos no tempo. Nem em renda, nem em conquistas sociais e muito menos em comportamento.

O que falar sobre a capital do Brasil?

A atual capital do Brasil é Brasília, localizada na Região Centro-Oeste, correspondendo também à sede do governo do Distrito Federal. Na cidade, encontra-se a sede dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, assim como as embaixadas dos países do mundo.

Porque Brasília é importante para o nosso país?

Nos anos 50, ao criar Brasília, JK movimentou a economia nacional, gerando empregos, renda, com impressionantes taxas de crescimento. O PIB cresceu em média 8% ao ano. Criou novos eixos de desenvolvimento a partir de Brasília, abrindo estradas, impulsionando a industrialização, atraindo empresas e negócios.

Qual a principal atividade econômica na capital do Brasil?

O setor de Serviços representa 95,3% da economia local, sendo o maior responsável pelo desempenho econômico do Distrito Federal.

Quais os benefícios de transferir a capital do Brasil para o interior?

O sonho de Brasília O fato é que JK buscava um lugar afastado do Rio de Janeiro e no meio do deserto por motivos geopolíticos: a capital não estaria tão vulnerável em caso de guerra, a pressão popular sobre o governo seria menor, a nova capital iria contribuir para a ocupação do interior brasileiro.