De Euronews • Últimas notícias: 26/08/2022 Show
contador de energia - Direitos de autor Energia Guerra na Ucrânia, sanções económicas, inflação desenfreada, chantagem energética, seca extrema. A Europa não sabe o que mais fazer para se proteger da tempestade perfeita que assola os preços da energia, que para muitos cidadãos parece uma ameaça existencial para o próximo Inverno: podem ter de escolher entre o aquecimento ou a alimentação. Enquanto o ministro da energia da Chéquia anuncia que vai "propor a convocação de uma reunião extraordinária do Conselho da Energia da União Europeia o mais cedo possível", o Governo português anunciou novas medidas para mitigar o aumento do gás natural e que os preços no mercado regulado serão menos de metade do anunciado pelos comercializadores A situação é paradigmática nas duas principais economias europeias. Em França, um país altamente dependente da energia nuclear., o encerramento de numerosos reatores devido a necessidades de manutenção fez subir o custo por megawatt-hora para dez vezes mais do que há um ano. Na Alemanha, fortemente dependente do gás russo, os cortes contínuos de abastecimento pela russa Gazprom e o encerramento previsto do gasoduto Nordstream, a 31 de Agosto, apontam um quadro semelhante. Para piorar a situação, as energias renováveis sofreram as consequências de um dos verões mais quentes e secos. Os rios estão esgotados, sem caudal para mover as centrais hidroelétricas em plena capacidade. O vento, por seu lado, tem sido o grande ausente durante as sucessivas ondas de calor que abalaram o continente.
Uma história de dois séculos: Portugal acende a primeira lâmpada Faça este exercício: consegue imaginar o que é viver sem eletricidade? Não tem telemóvel, nem computador, nem televisão. Não há frigorífico nem máquina de lavar roupa. À noite, as ruas não estão cobertas de luz e, em casa, pode contar apenas com a luz trémula das velas ou dos candeeiros a gás, petróleo ou azeite. Consegue mesmo imaginar? Porque só depois, podemos começar a perceber o que significa carregar num interruptor para acender uma lâmpada pela primeira vez. Poderíamos recorrer a imagens e arquivos antigos para contar a história da eletrificação em Portugal, mas sabemos que a memória de quem a viveu pode ser um recurso infinitamente mais valioso. Ouvimos as histórias de quatro pessoas que trabalharam na indústria da energia nacional, antes e depois do 25 de abril de 1974, e deixamos o seu testemunho, nos próximos parágrafos. “A cozinha era feita à base da lareira, que se acendia de manhã e que durava até à noite. Também recorrendo ao fogareiro a petróleo. Não havia distribuição de gás na altura. A nossa relação com o mundo exterior era conseguida à custa de um volumoso rádio a válvulas, alimentado por uma bateria que o pai recarregava periodicamente no estaleiro da barragem. Estudar era durante o dia, porque à noite somente à luz da vela ou do candeeiro, também a petróleo, ou de um outro, a acetileno, que produzíamos juntando, no gasómetro deste, água ao carboneto de cálcio, comprado na mercearia local. Mário
Perdigão A cidadela de Cascais como palco de estreiaA história da eletrificação de Portugal teve muitos avanços e recuos, mas tem início no século XIX. Quando pensamos no processo de eletrificação do país, rapidamente pensamos na iluminação dentro de casa, mas o primeiro passo deu-se na rua, com a iluminação pública. O ano em que foram eleitos, pela primeira vez, deputados republicanos na Assembleia Portuguesa (1878) foi também o ano em que se deu a primeira experiência elétrica de que há notícia: a 28 de setembro, em comemoração do 15º aniversário do príncipe D. Carlos, foram acesos candeeiros na esplanada da Cidadela de Cascais. Estes foram oferecidos pela Câmara de Lisboa, e utilizados, de novo, no mês seguinte, na zona do Chiado. Este evento real foi o pontapé de saída para eletrificar Portugal e os portugueses ficaram entusiasmados com a novidade. Em Lisboa, eram feitas excursões de família para ver os candeeiros que funcionavam a eletricidade e que já não deixavam um cheiro desagradável no ar, ilustrado nas imagens seguintes disponibilizadas pela Hemeroteca Municipal de Lisboa. O fascínio pela luz era grande… mas o processo foi demoradoFoi no seu escritório, em Lisboa, que falámos com Francisco Sánchez sobre a história da eletrificação do país. Preparou-se para a nossa conversa recolhendo alguns factos históricos que pareciam já não viver na memória e ajudou-nos a desvendar a história da produção e distribuição de eletricidade como uma sucessão de iniciativas, ora de instituições privadas, ora públicas. Depois da pompa de acender os primeiros candeeiros em Cascais, o fascínio pela eletricidade continuava a crescer e, no final do século XIX e início do século XX, surgem as primeiras empresas de produção e distribuição de energia elétrica:
Francisco Sánchez explica que “em Lisboa, depois de várias pequenas centrais que foram construídas na cidade, começou a construção da Central Tejo. Começou a ser construída no início da Primeira Grande Guerra, depois foi crescendo sucessivamente até chegar a alimentar os concelhos à volta de Lisboa”. Mesmo assim, o desenvolvimento económico e social do país parecia não permitir o crescimento da energia elétrica, apesar de o debate sobre a produção de hidroeletricidade conquistar posição. A iluminação a gás perdurou nas ruas de Lisboa até 1965, ano em que foram substituídas as últimas luzes a gás pela eletricidade no Bairro Alto e no Bairro de Santa Catarina. “Naquela altura, a iluminação pública era uma faceta extremamente importante, pois simplesmente havia muitas populações sem iluminação. A utilização efetiva (da eletricidade) em Portugal começou, depois, por pequenas indústrias, que precisavam de energia elétrica, que compravam os seus próprios geradores e tinham energia adicional, mais do que aquela que precisavam.” Francisco Sanchéz Lá fora a II Guerra Mundial… Cá dentro o avanço da eletricidadeRecuamos até 1944. A 6 de junho, no Dia D, os aliados invadem a Normandia para libertar França da Alemanha Nazi. Em Portugal, estávamos sob o regime do Estado Novo e o governo de António de Oliveira Salazar tinha-se declarado neutro. Este foi o ano em que o Estado português estabeleceu como prioridade o desenvolvimento de centrais hidroelétricas, com a Lei da Eletrificação. Apesar de não ter vivido esta época, Mário Perdigão conhece bem esta parte da história. “A minha vida e a vida dos meus familiares mais próximos acabou por ser moldada por aquela que foi designada a Lei da Eletricidade, da autoria do professor engenheiro Ferreira Dias (...) Ditou a forma como o país deveria passar para uma outra fase na questão da eletricidade, quer da produção quer da distribuição.” Pouco tempo depois, foram constituídas as sociedades Hidroelétrica do Zêzere e Hidroelétrica do Cávado. Em 1947 é criada a Companhia Nacional de Eletricidade (CNE). “Portanto, Portugal vivia praticamente de energia renovável e estamos novamente a caminhar para isso. A história tem estas trajetórias”, diz-nos sorridentemente, Francisco Sanchéz. Uma nova identidade social: os "barragistas"
Como podemos imaginar, as construções das grandes centrais hidroelétricas implicavam a participação de milhares de trabalhadores e uma boa meia dúzia de anos para as completar. Essa multidão de trabalhadores migrantes, que construía barragens em Portugal, fez surgir uma identidade própria: os “barragistas”. O bairro do Barrocal do Douro, que surgiu para o apoio ao aproveitamento hidroelétrico de Picote, é um marco na história destes barragistas. Nos anos 50, a construção das barragens fazia parte do quadro de industrialização do país e significava sempre desenvolvimento económico e social para as diferentes regiões. Em menos de uma década, a produção de energia passou a representar cerca de um triplo da de 1950 e confirmou-se a predominância da energia de origem hídrica sobre a de origem térmica. E o consumo de energia não parou de crescer. Várias indústrias, câmaras municipais e cidadãos começaram a depender da eletricidade. Por isso, nas décadas seguintes, assistimos à introdução de grupos térmicos de grande dimensão de queima de carvão e de fuelóleo (Tapada Outeiro e Carregado). Apesar de ter passado a infância nos estaleiros dos centros produtores, Mário Perdigão preferiu seguir uma carreira na energia térmica. “A termoeletricidade é a última reserva. Se não houver água nas hídricas, vento ou sol e se não houver capacidade de interligação para trazer eletricidade de Espanha para Portugal, as térmicas são a última reserva. É necessário continuar a manter térmicas para que essa reserva esteja disponível quando as outras fontes de energia primária não tenham capacidade para abastecer o país.”, explica. Durante os anos 90, a energia termoelétrica representava uma grande parcela da produção total de energia em Portugal - cerca de 70%. De um país livre a um mercado liberalizadoNas décadas de 50 e 60, o panorama da energia elétrica em Portugal mudou para que a “magia” da lâmpada e do interruptor chegasse a todos. Anos 50O Estado aplicou uma política de planeamento do apoio económico à eletrificação. Através de comparticipações, a que podiam recorrer municípios, federações de municípios e concessionários privados, foram construídas pequenas centrais térmicas, redes de transporte e distribuição de energia e redes de pequena distribuição rural e urbana. Anos 60O consumo de energia elétrica continuava a aumentar, o que levou à necessidade de consolidar as infraestruturas, atualizar o inventário dos recursos nacionais de produção hídrica e térmica e de definir o seu aproveitamento. Apesar de parecer que finalmente Portugal estava a finalizar o seu caminho da total eletrificação do país, em 1966, ainda havia muitas freguesias a que a eletricidade não chegava. Foi necessário que o Governo alargasse o apoio à eletrificação rural. No final dos anos 60, o Estado determinou a fusão das empresas concessionárias de aproveitamentos hidroelétricos, de empreendimentos termoelétricos e de transporte de energia. Esta concessão global e unificada foi atribuída à Companhia Portuguesa de Eletricidade (CPE). Tornou-se na maior empresa no setor, em Portugal, ao ser responsável por 95% da energia elétrica produzida no país. Deixou de existir quando foi constituída a EDP, em 1976. Anos 70 e a eletrificação ruralEm meados dos anos 70, o setor elétrico passou para uma nova fase: a nacionalização. Depois do 25 de Abril de 1974, o conflito social e político predominava no país. A EDP foi constituída em 1976 e herdou um cenário complexo de desequilíbrio na eletrificação de todo o território. A distribuição de energia elétrica estava concentrada nos grandes centros urbanos, o que levava a que uma parte do país ainda estivesse às escuras. Além disso, era necessário aumentar a capacidade das unidades electroprodutoras. À medida que a energia elétrica se torna indispensável para várias utilizações, o consumo aumenta cada vez mais e é preciso criar estabilidade. Portugal enfrentava a precariedade industrial, a falta de organização do setor elétrico e as inesperadas crises do petróleo. Não são fatores favoráveis para o desenvolvimento da empresa pública, mas a EDP tinha três grandes objetivos:
Francisco Sanchéz recorda-se bem desses tempos. Afinal de contas, acompanhou a evolução do setor de energia elétrica antes e após a Revolução dos Cravos. “Ficaram, na altura, conhecidas duas grandes operações, na gíria da empresa: Operação Trás-os-Montes e Operação Beira Baixa. Eram zonas particularmente escuras e era importante atacar rapidamente. Eu diria que nos anos 90 o problema estaria resolvido.” “Para cobrir as necessidades de abastecimento futuras do país era necessário aumentar a produção. Cabia à EDP Produção, dentro da EDP, aumentar a capacidade instalada do parque eletroprodutor. Construíram-se então, as centrais a fuel-óleo do Carregado, de Setúbal, de Sines e Pego a carvão. Esta foi, depois, vendida no processo de privatização e abertura do mercado da eletricidade ao setor privado. Com a introdução do gás-natural em Portugal, instalaram-se também as centrais do Ribatejo e de Lares.”, resume Mário Perdigão. Com os olhos postos no século XXIAo entrarmos nos anos 90, são poucos os serviços municipais de fornecimento de eletricidade que não estão na alçada da EDP. A empresa foi ditando um plano de reestruturação económico-financeira, melhorando os métodos e sistemas de gestão e requalificação das estruturas. Nos finais do século passado, já o poder político pensa em avançar com a privatização da EDP. Este foi um processo que demorou vários anos e acaba por acontecer a 14 de fevereiro de 2013. Os desafios emergentes do século XXI mostram-se virados para a liberalização do mercado energético, para o esforço de diversificação e para as exigências ambientais com o aproveitamento de energias alternativas. Passamos assim para a utilização do gás natural, das energias eólica, solar e dos mares. Foi uma longa caminhada… Para onde seguimos?O futuro é renovável. Assim deverá ser e assim acredita Mário Perdigão. “Tem de ser! Por uma questão de sustentabilidade do próprio ser humano. A energia vai ser cada vez mais procurada. Não é plausível que fontes de energia não renováveis tenham capacidade para absorver as necessidades futuras. Porque as reservas em combustível são finitas, não é possível continuar a apostar no crescimento da produção, tendo por base a energia termoelétrica. Esta funcionará sempre como uma reserva”. Apesar de também já estar afastado da EDP, Francisco Sánchez, antigo presidente da empresa, mantém uma ideia clara de como poderá ser o futuro: “A EDP é uma empresa de referência também pela caminhada tecnológica que tem feito. Os desafios futuros vão passar pelos 3D da transição energética: a digitalização, a descarbonização e a descentralização”. A EDP está atenta aos avanços e desafios do futuro da energia elétrica. É hoje líder no setor energético mundial e quer continuar a ser uma empresa diferenciadora, sempre com foco no crescimento. Os objetivos estão traçados e terão sempre em conta a preocupação ambiental, a inovação tecnológica, a preocupação social e, claro, o cliente. Porque, nos dias de hoje, o exercício de nos imaginarmos sem eletricidade é impossível. Quando chegou a luz elétrica na Europa?Milhares de lâmpadas acenderam de uma só vez em 10 de agosto de 1881, no parque de exposições da Feira Internacional da Eletricidade em Paris.
Qual foi o ano que surgiu a energia elétrica?A História da eletricidade tem seu início no século VI a.C., na Grécia Antiga, quando o filósofo Thales de Mileto, após descobrir uma resina vegetal fóssil petrificada chamada âmbar (elektron em grego), esfregou-a com pele e lã de animais e pôde então observar seu poder de atrair objetos leves como palhas, fragmentos ...
Como surgiu a energia elétrica no mundo?HISTÓRICO DA ELETRICIDADE. Foi descoberta por um filosofo grego chamado Tales de Mileto que, ao esfregar um âmbar a um pedaço de pele de carneiro, observou que pedaços de palhas e fragmentos de madeira começaram a ser atraídas pelo próprio âmbar. Do âmbar (gr. élektron) surgiu o nome eletricidade.
Como é a energia na Europa?Mais de metade da energia da União Europeia é importada — sobretudo combustíveis fósseis como o petróleo e o gás natural, que fornecem a maior parte da energia que utilizamos. A energia nuclear representa outros 13 % e as energias renováveis representam mais de 15 %.
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