Como a atividade física pode ajudar no controle da pressão arterial?

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Como a atividade física pode ajudar no controle da pressão arterial?

Autores: Dr. Tiago Peçanha (Doutorando da Escola de Educação Física e Esporte da USP) e Profa. Dra. Katia de Angelis (Departamento de Atividade Física da SBH)

A Hipertensão Arterial, também chamada de pressão alta, é uma doença crônica na qual a pressão arterial se mantém elevada. É uma doença muito comum na população brasileira e mundial. Levantamentos populacionais mostram que cerca de um terço da população adulta brasileira tem pressão alta. Esta proporção é ainda maior em idosos – o que é preocupante, visto que a hipertensão é uma das principais causas de doença ou morte cardiovascular.

O tratamento da hipertensão arterial envolve o uso de medicamentos e a modificação do estilo de vida. Dentre os hábitos saudáveis, a adoção de um estilo de vida fisicamente ativo deve ser estimulado pois muitos estudos científicos demonstram vários efeitos benéficos da prática de atividades físicas sobre a pressão arterial.

A realização regular de atividades físicas reduz a pressão arterial tanto de indivíduos que já tem a pressão alta, quanto daqueles que ainda não tem a doença, mas que têm um risco elevado de desenvolvê-la, como os filhos de hipertensos, os obesos e os pré-hipertensos entre outros. É interessante observar que com a prática física regular, a pressão arterial diminui não só em repouso, mas também quando a pessoa está realizando suas atividades diárias e quando sofre uma situação estressante.

É importante destacar também que, além de diminuir a pressão arterial, a realização regular de atividades físicas também: 1) diminui a gordura corporal e a gordura no abdômen, ajudando a emagrecer; 2) reduz o colesterol e os triglicérides, melhorando o chamado perfil lipídico; 3) diminui a glicemia, ou seja, o açúcar no sangue, ajudando a prevenir e controlar o diabetes. A prática de atividades físicas melhora ainda a qualidade do sono e ajuda a combater o estresse. Como todos estes fatores costumam estar alterados em quem tem pressão alta, aumentando o risco de ocorrer eventos cardiovasculares, como um infarto ou um derrame, a prática regular de atividades física ao diminuir esses fatores, diminui a chance de ocorrência desses eventos nos hipertensos.

Desta forma, a prática regular de exercícios físicos é recomendada para prevenir e tratar a hipertensão arterial. É importante salientar, que a quantidade de atividade física necessária para promover os benefícios mencionados não precisa ser elevada. Basta fazer atividades aeróbicas por 30 minutos em intensidade moderada na maioria dos dias da semana:

atividades aeróbicas como caminhada, ciclismo, natação, corrida, dança, entre outros. Estas atividades podem ser feitas no seu tempo livre em parques, praças, clubes, academias, casa, etc; mas também podem ser introduzidas na sua rotina diária, como no seu trabalho ou no seu deslocamento para as tarefas cotidiana. Por exemplo, ir à pé aos locais próximos, caminhar na hora do almoço, subir de escada ao invés de usar o elevador, usar as ciclovias da cidade e assim por diante.

por 30 minutos. Na impossibilidade de se fazer 30 minutos contínuos, pode-se ainda dividir essa atividade em duas sessões de 15 minutos ou três sessões de 10 minutos ao longo do dia.

em intensidade moderada, ou seja, durante a atividade, a pessoa deve sentir a temperatura do corpo mais alta, mas não deve estar suando demais; deve sentir que a respiração acelerada, mas não deve estar ofegante e; deve sentir que o coração está batendo mais rápido, mas não deve estar disparado.

na maior parte dos dias da semana, preferencialmente de 3 a 5 vezes por semana.

Esta atividade pode ainda ser complementada com a realização de exercícios com pesos e de alongamento.

Assim, não há justificativas para não se tornar ativo. A adoção de uma vida ativa é possível. Não precisa ser atleta, basta incluir um pouco de atividade física em sua vida que os benefícios aparecem e a pressão arterial diminui. A atividade moderada é a melhor escolha, pois não traz contra-indicações para a população em geral. Porém, se a pessoa apresentar sintomas como dores no peito ou desconforto respiratório quando estiver fazendo a atividade física, é importante parar e procurar um médico.

A prática de exercícios físicos regulares causa uma redução da pressão arterial semelhante à de muitas medicações anti-hipertensivas. A orientação é do cardiologista da equipe do Hospital Cárdio Pulmonar, Gustavo Feitosa, no Dia Nacional de Combate à Hipertensão Arterial, 26 de abril. A afirmação é reforçada por uma pesquisa realizada pelo Departament of Health Policy, London School of Economics and Political Science, recentemente publicada no British Journal of Sports Medicine.
O médico orienta que a indicação do exercício deve obedecer a algumas regras, como acontece com a prescrição de medicamentos. “Aspectos como o tipo do exercício, a dosagem, progressão e os possíveis efeitos colaterais devem ser contemplados no processo de educação do paciente portador de hipertensão”, explica Gustavo Feitosa.
O cardiologista enumera, ainda, os passos sugeridos para se otimizar os benefícios da atividade física como ferramenta terapêutica. “A primeira medida é a avaliação médica para detectar situações que possam por em risco a prática de exercícios de maior intensidade, como, por exemplo, isquemia, arritmias complexas ou até mesmo pressão extremamente elevada”, pontua Feitosa.
Exercícios aeróbicos, como caminhada, corrida, bicicleta, dança e natação, devem ser praticados de 90 a 150 minutos por semana. A intensidade e a modalidade do exercício aeróbico devem ser individualizadas, levando em consideração preferências pessoais e a capacidade física do paciente, conforme diz o especialista.
A orientação é para que se pratiquem também exercícios de fortalecimento, como musculação ou Pilates. “A combinação dos dois tipos de exercício, aeróbico e fortalecimento, promove a redução adicional da pressão arterial”, explica Gustavo Feitosa.
O médico também afirma que é imprescindível realizar reavaliações periódicas com intervalos definidos pelo médico assistente para análise da progressão e decisão de abordagens diagnósticas e terapêuticas adicionais. “Seguindo esses passos, o risco de eventos adversos durante a prática da atividade física é extremamente baixo. Na realidade, o que o paciente hipertenso deve temer são os riscos atribuídos ao sedentarismo, grande vilão da saúde cardiovascular”, adverte.
Hipertensão
O cardiologista Gustavo Feitosa destaca que a hipertensão arterial é uma condição de grande importância epidemiológica, sobretudo, por conta da sua influência na elevação no risco de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, bem como insuficiência cardíaca, retinopatia, injúria renal e doença obstrutiva arterial periférica.
Uma vez diagnosticada a doença, o tratamento consiste na adequada aplicação de medidas não-farmacológicas, por meio de dieta e exercício, e farmacológicas, com medicações anti-hipertensivas. “Ao mesmo tempo em que o sedentarismo é um importante fator de risco para o desenvolvimento de hipertensão, o combate através da correta orientação do exercício físico constitui poderosa ferramenta terapêutica”, conclui Gustavo Feitosa.