Quais os critérios do Juizado Especial?


"Os Critérios do Processo no Juizado Especial Cível"

Quais os critérios do Juizado Especial?

Editora:

Fiuza
Autora: Maria do Carmo Honório
Páginas: 174

O livro começa onde começam os livros de processo: conceito e finalidade, distinção entre processo e procedimento, princípios que regem o processo civil. Ao tratar, ainda nessa primeira parte, do conceito de tutela jurisdicional e efetividade do processo, começa a autora a se dirigir para a seara especial a que se propõe a obra - onde definitivamente aporta quando passa a versar a tutela jurisdicional diferenciada.

Com rigor lógico, põe-se a demonstrar em que medida a prestação jurisdicional proporcionada pelo Juizado Especial Cível se dessemelha daquela oferecida pelo Estado por meio do procedimento sumário. Discorre sobre cada um dos corolários a demarcar a distinção: oralidade, simplicidade, informalidade, celeridade e economia processual; características processuais que, alerta, devem ser aplicadas à luz da Constituição Federal, e de maneira a privilegiar a conciliação das partes. (Sob esse viés, cabe destacar a lição lembrada pela autora, segundo a qual a sentença homologatória de conciliação não admite recurso nem pode ser objeto de ação rescisória).

Expende comentários sobre outras peculiaridades do processo perante o Juizado Especial, como a desnecessidade de expedição de Carta Precatória; a possibilidade do juiz proferir sentença sem relatório; a vedação de condenação em quantia ilíquida; a inquirição de perito em audiência, sem a necessidade de apresentação de laudo escrito; a ausência de avaliador oficial; a dispensa de alienação judicial.

A escrita da autora põe em evidência as possibilidades de pacificação social surgidas da confiança que as partes conseguem depositar no juiz e no conciliador em decorrência do procedimento menos ritualístico em que ocorrem as audiências. Vale conhecer algumas das palavras da autora: "(a conciliação) privilegia a vontade das partes, contribuindo para uma solução definitiva do litígio, inclusive no plano psicológico (...)"; "(...) na grande maioria das vezes, principalmente nas lides entre pessoas físicas, as pessoas querem desabafar, expor sua indignação perante uma pessoa neutra. Para tanto, é importante que o conciliador saiba ouvir e baixar o nível da agressividade entre os litigantes, abrindo, com cautela, canais de comunicação entre eles (...)".

A construção do texto sob essa perspectiva ressalta a dignidade da justiça, o relevo do papel do juiz-conciliador e até mesmo do estudante, que por meio de atuação nos Juizados Especiais instalados junto a Faculdades de Direito, têm a chance de uma proveitosa e nobre iniciação na profissão.

HONÓRIO, Maria do Carmo. Os critérios do processo no Juizado Especial Cível. São Paulo: Fiúza, 2007. (173 p.)Sobre a autora:

Maria do Carmo Honório é juíza no Estado de São Paulo.

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Quais os critérios do Juizado Especial?
 Resultado:

  • Pedro Villas Boas, advogado do escritório Villas Boas Advocacia, em Santos/SP

Quais os critérios do Juizado Especial?

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Este artigo aborda os princípios processuais adotados nos Juizados Especiais. Para tanto, realiza-se em primeiro lugar, ainda que, brevemente, a distinção entre regras e princípios. Em seguida, são indicados os princípios processuais norteadores da atuação nos Juizados Especiais. 

Regras e princípios 

Antes de adentrar na exposição sobre os princípios processuais adotados nos Juizados Especiais, cabe informar, a distinção entre regras e princípios. 

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Conforme indicado por Felipe Oliveira Sousa (2011) a distinção “forte” entre regras e princípios é defendida por Robert Alexy e Ronald Dworkin. A referida distinção pretende explicar a estrutura das normas de direito fundamental. 

A teoria elaborada por Dworkin objetiva realizar um ataque ao positivismo e à versão elaborada por Hart. Para Dworkin, o positivismo fornece um modelo pautado apenas em regras, o que é considerado insuficiente para resolver os casos difíceis. Assim, para o autor, o sistema é constituído de regras e princípios. As regras são aquelas que operam de modo “tudo ou nada”, já os princípios não estabelecem por completo uma decisão. Além disso, os princípios possuem a dimensão do peso, que não está presente nas regras. 

A teoria de Alexy é semelhante a de Dworkin. De acordo com a teoria de Alexy, as normas englobam as regras e os princípios, assim como, a distinção possui um caráter qualitativo. Segundo Sousa (2011) a contribuição determinante de Alexy foi o desenvolvimento da tese dos princípios como mandamentos de otimização. Dessa forma, os princípios podem ser concretizados em vários graus - grau de satisfação variável. As regras, por sua vez, possuem um grau de satisfação fixo. 

Juizados Especiais - princípios informativos e gerais

Em se tratando dos Juizados Especiais, pode-se dizer que os princípios processuais são tidos como critérios orientadores na garantia do amplo acesso ao Judiciário, bem como, na conciliação das partes, sem desrespeitar as garantias constitucionais - do contraditório e da ampla defesa. 

A doutrina divide os princípios indicados em informativos e em gerais. Os informativos refletem o caráter ideológico do processo. Nesse sentido, foram elaboradas quatro regras orientadoras do processo: princípio lógico, princípio jurídico, princípio político e princípio econômico.

O princípio lógico se refere à escolha dos meios mais eficazes e ágeis de alcançar a verdade para evitar equívocos. O princípio jurídico traz a igualdade no processo e a justiça na decisão. O princípio político objetiva assegurar ao máximo as garantias sociais, com o menor sacrifício da liberdade. O princípio econômico na medida em que o processo deve ser acessível a todas as pessoas. 

No que se refere aos princípios gerais do processo - princípios fundamentais - estão presentes de maneira implícita ou explícita na Constituição ou na legislação infraconstitucional e pretendem nortear as atividades das partes e dos operadores do direito. 

Segundo Felippe Borring Rocha (2021) a Lei nº 7.244 de 1984 - Lei dos Juizados das Pequenas Causas - foi uma das primeiras a prever de maneira expressa os princípios em seu texto - artigo 2º. Até então, apenas as Constituições e os Códigos possuíam alguns princípios positivados. O dispositivo indicado foi replicado com algumas alterações, com o artigo 2º, da Lei nº 9.099 de 1995. 

Princípios processuais - Lei nº 9.099 de 1995 

Com base no artigo 2º, da Lei nº 9.099 de 1995, o processo será orientado pelos critérios da oralidade, da simplicidade, da informalidade, da economia processual e da celeridade, bem como, buscará a conciliação ou a transação. 

Segundo Tourinho Neto e Figueira Júnior (2017) o princípio da oralidade também conhecido como viga mestra da técnica processual, refere-se à exigência precípua da forma oral para o tratamento da causa, sem excluir completamente a utilização da escrita. Ressalta-se que é fundamental que o processo seja documentado e reduzido a termo, no mínimo de suas fases e atos principais. 

A oralidade objetiva a celeridade e a simplificação dos processos. Para Chiovenda apud Rocha (2021) quatro aspectos podem ser associados a oralidade: a concentração dos atos processuais, a identidade física do juiz, a irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias, bem como, a imediação.

No que se refere ao princípio da simplicidade, cabe indicar que a maioria da doutrina entende que é considerado um desdobramento do princípio da informalidade ou da economia processual. O princípio da simplicidade busca “aproximar a população e os jurisdicionados da atividade judicial” (ROCHA, p. 28, 2021)

Com relação ao princípio da informalidade, pode-se dizer que os atos devem ser praticados com o mínimo de formalidade possível. Assim, o ato será simples, econômico e efetivo. O princípio da instrumentalidade das formas - artigo 13, caput, da Lei nº 9.099 de 1995 - e o princípio do prejuízo - artigo 13, § 1º, da Lei nº 9.099 de 1995 - estão relacionados com a informalidade. 

De acordo com os princípios do prejuízo e da informalidade, os atos processuais serão considerados válidos sempre que alcançarem a sua finalidade. Não haverá nulidade se não houver demonstração de prejuízo. 

O princípio da economia processual se refere à obtenção de máximo rendimento, com o mínimo de atos processuais. Os Juizados Especiais foram criados para ter uma prestação célere e de acordo com as limitações indicadas nos artigos 3º e 8º, ficam restritos às questões patrimoniais disponíveis. 

A autocomposição - conciliação e transação - representa o núcleo dos Juizados Especiais - Estaduais, Federais e da Fazenda Pública. A conciliação está relacionada com a composição amigável, sem que, necessariamente, ocorra alguma concessão por qualquer das partes, com relação ao direito alegado ou extinção da obrigação civil ou comercial. A transação é o negócio jurídico bilateral, em que as partes interessadas, realizam concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações litigiosas (TOURINHO NETO; FIGUEIRA JÚNIOR, 2017). 

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Destaca-se que os princípios citados não podem esgotar o conjunto dogmático-principiológico da Lei nº 9.099 de 1995. Conforme indicado por Rocha (2021) os princípios, como o contraditório, a fundamentação, o devido processo legal e a ampla defesa, entre outros, também aplicam-se aos Juizados Especiais, não somente pela determinação constitucional, mas pela imposição lógica do ordenamento jurídico. 

Por fim, pode-se dizer que o respeito aos princípios processuais e aos princípios constitucionais é fundamental para se alcançar decisões mais justas. 

Referências:

ROCHA, Felippe Borring. Manual dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais - Teoria e Prática. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2021. p. 24-36.

SOUSA, Felipe Oliveira. O raciocínio jurídico entre princípios e regras. Revista de informação legislativa. v. 48, n. 192, p.95-109, out./ dez. 2011. 

TOURINHO NETO, Fernando da Costa.; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei nº 9.099 de 1995. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2017.  


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Quais são os critérios de competência dos Juizados Especiais Cíveis?

Em regra geral, os Juizados Especiais Cíveis são competentes para conciliar, julgar e processar as causas de menor complexidade cujo valor não exceda 40 salários mínimos, porém como se verá adiante, há entendimento de que em algumas situações é possível ultrapassar os 40 salários mínimos.

Quais são os princípios que regem os Juizados Especiais?

É fundamental notar o alcance dos princípios da efetividade, oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade em face dos objetivos traçados pela Lei dos Juizados Especiais.

Quais são os critérios orientadores dos Juizados Especiais Cíveis indique os e defina sua extensão?

A Lei 9.099/95 definiu em seu artigo 2º quais são os critérios orientadores dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, ou seja, os processos orientar-se-ão pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando sempre que possível, a conciliação ou transação.