Quais são as vantagens para a Turquia em fazer parte da União Europeia?

Cercada pelos mares Egeu, Negro e Mediterrâneo, a Turquia está localizada na fronteira entre dois continentes, a Europa e a Ásia, dois mundos, o Islâmico e o Ocidental, e entre rotas comerciais e de migração. Essa localização privilegiada da Turquia gera diversas contradições no país, já que, embora a maior parte da população turca seja islâmica, assemelhando-se com os demais países do Oriente Médio, uma dos principais anseios do país é ingressar na União Europeia, aumentando, assim, a sua relação com o mundo ocidental.

Com uma área de 708 576 km², dos quais 3% estão localizados no continente europeu e 97% pertencem ao continente asiático, a Turquia possui uma grande diversidade natural e potencial hídrico. O relevo do país é constituído, principalmente, por várias cadeias de montanhas de idade bastante recente e pouco erodidas, um grande planalto localizado no centro do país e algumas áreas de planície muito férteis.

Apresenta também rios e lagos que garantem um grande potencial hidráulico e energético para o país. Vale salientar também que é na Turquia em que estão localizadas as nascentes dos rios Tigre e Eufrates, que, por serem fundamentais para o fornecimento de água para o país e os seus vizinhos, Síria e Iraque, têm causado diversos conflitos por água entre esses países. Por estar localizado na zona temperada, o principal clima do país é o temperado, mas também há o continental, no interior do país, o oceânico, na região do mar Negro, e o mediterrâneo, no sul.

A população da Turquia1, que apresenta cerca de 76 milhões de pessoas, é constituída, principalmente, por uma maioria turca (80% da população) e diversos grupos minoritários, como os curdos (18% da população), gregos, armênios, judeus, bcázios, albaneses, árabes, bósnios, chechenos, ciganos, circassianos, geórgios, hemichis, kabaris, lazos, levantinos, ossetas, pomaks, siríacos e zazas.

A população tem vivido nos últimos anos um progressivo aumento na qualidade de vida, mas os índices sociais² ainda deixam a desejar. Aexpectativa de vida no país é de cerca de 75 anos, cinco a menos do que a média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Apenas 34% dos adultos com idades entre 25 e 64 anos concluíram o ensino médio. A satisfação pessoal dos turcos também está mais baixa do que a média dos países da OCDE. Em uma escala de 0 a 10, os turcos consideram que estão cerca de 5,6 satisfeitos com a vida que levam, 1 ponto a menos que a média da OCDE, que é de 6,6.

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Quais são as vantagens para a Turquia em fazer parte da União Europeia?

Istambul é a cidade mais populosa do país, com cerca de 14 milhões de habitantes

Com relação à economia, o país possui uma base industrial consolidada, com indústrias de bens de consumo duráveis e não duráveis (alimentícias, automobilísticas, eletrônicas etc.), além de indústrias de base, principalmente as petroquímicas. A agricultura também é bastante desenvolvida, destacando-se a produção de figos, amêndoas, avelãs, damascos, tomates, pimentões, berinjelas, lentilhas, entre outros. Apesar disso, se comparada com o Império Otomano, do qual é herdeira, ela é relativamente pobre, já que, enquanto esse império rivalizou economicamente com as maiores potências da Europa durante séculos, a Turquia atual não consegue disputar a hegemonia mundial com essas potências, seu PIB é baixo, cerca de 750 bilhões de dólares, e o país não se destaca como uma potência econômica nem entre os países do Oriente Médio, sendo superado pelos grandes exportadores de petróleo.

Notas

Dados de acordo com o Centro Cultural Brasil-Turquia.

Dados extraídos da OCDE.

1. Hoje são claras as ilusões da União Europeia em 2004/2005. Em finais de 2004, foi acordada a abertura de negociações de adesão com a Turquia. O processo iniciou-se oficialmente em 2005, com negociações abertas em seis dos 35 capítulos do acervo comunitário. É fácil constatar como, desde o início, o processo foi turbulento e conflitual e assentou em equívocos. O primeiro foi o de que existia uma genuína vontade de adesão à União Europeia do Governo turco dos conservadores-islamistas de Recep Tayyip Erdogan, então primeiro-ministro. Na realidade, a parte da sociedade turca mais genuinamente pró-União Europeia, a parte secularizada e herdeira de Atatürk, tem a sua representação política maioritariamente no CHP (Partido Republicano do Povo), partido da oposição tipo social-democrata — e não no AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), no Governo desde finais de 2002. Este último representa, essencialmente, os sectores mais tradicionalistas e islâmicos da Turquia, com implantação profunda fora das grandes cidades, como Istambul, Ancara ou Esmirna. A maioria dos seus eleitores não se revê nos valores seculares e pós-modernos europeus, provavelmente rejeita-os até. Ambiciona, sobretudo, a prosperidade e o seu bem-estar material. O segundo equívoco é o de que a União Europeia teria capacidade para integrar a Turquia. Tudo indica que não tem. As implicações orçamentais (fundos estruturais, política agrícola), institucionais (votos no Conselho, deputados no Parlamento Europeu, etc.) e outras no funcionamento da União só poderiam ser ultrapassadas com um novo tratado. Isso implicaria, desde logo, um processo de ratificação por todos os Estados-membros, sujeito, nalguns casos, a referendo. Nas actuais e previsíveis futuras circunstâncias políticas, será particularmente difícil a aprovação de um novo tratado europeu, pelo sentimento eurocéptico e anti-União Europeia que crise de 2008 expandiu em muitos Estados-membros.

2. Se a adesão da Turquia se tivesse concretizado num prazo de dez anos, como originalmente se julgava ser possível em 2004/2005, podemos imaginar quais seriam as consequências geopolíticas para a União Europeia. A primeira seria uma expansão para a área turbulenta do Médio Oriente. Teria fronteiras directas com Estados em guerra, como a Síria e o Iraque e com os territórios directamente controlados pelo Estado Islâmico (Daesh). A segunda seria a internalização do problema dos refugiados da guerra da Síria em território da Turquia — cerca de 2 milhões —, os quais passavam, automaticamente, a estar num território já da União Europeia. A terceira seria também a internalização do problema curdo da Turquia, um complexo conflito transnacional, envolvendo ainda a Síria, o Iraque e o Irão. Isto numa altura em que este ameaça evoluir para uma confrontação armada em larga escala, como ocorreu nos anos 1980 e 1990. A quarta seria sobre o espaço Schengen e a liberdade de circulação interna no interior da União. Se, já nas actuais circunstâncias, vemos as entorses que este está a sofrer na Hungria e noutros Estados mais directamente expostos à vaga de refugiados, podemos imaginar o que ocorreria numa situação de exposição directa das fronteiras europeias a esse conflito. A tentação dos Estados-membros, sob pressão de movimentos populistas e de uma opinião pública alarmada, em repor o controlo das fronteiras nacionais seria grande, talvez até imparável e irreversível. A quinta seria o aumento das fracturas internas, já profundas devido à crise da zona euro e às quotas obrigatórias para refugiados. Imaginem-se as divisões europeias se fosse necessário redistribuir os dois milhões de refugiados da Síria e de outros conflitos do Médio Oriente, que se encontram em território da Turquia, pelos restantes Estados-membros.

3. Há uma confusão instalada na relação entre a União Europeia e a Turquia, a qual se tem mostrado particularmente perniciosa. É inquestionável que a Turquia tem importância estratégica para a União Europeia, sendo o inverso igualmente verdadeiro. Na segurança no Mediterrâneo oriental, problema dos refugiados incluído, no combate ao islamismo-jihadista, no fornecimento de gás natural, etc., isso resulta claro. A questão — e a confusão instalada — é a de que a relação estratégica implicaria a adesão da Turquia à União Europeia. Não tem de ser assim. Nas actuais circunstâncias, pelas razões institucionais, financeiras, geopolíticas apontadas, a sua adesão, a ocorrer, será, provavelmente, mais uma fonte de atritos entre ambos os lados e de divisões europeias do que de consolidação de uma relação estratégica. A solução passa, provavelmente, mais por um conjunto de acordos em áreas estratégicas e outras que liguem ambas as partes, de forma abrangente, flexível e adaptada à sua realidade. O grande problema aqui é a falta de determinação política europeia e a ausência de uma política externa e de segurança orientada pelo interesse geral europeu. O que existe é um mero apêndice dos EUA/NATO. O caso português mostra a confrangedora ausência de uma política externa e de segurança própria, reduzida a uma versão pobre das posições dos aliados anglo-saxónicos. Se esta existisse, a expectativa irrealisticamente criada na Turquia, de uma futura adesão, num prazo de uma década, não teria sido a política europeia desde 2004/2005. Na altura, assumir essa impossibilidade teria provocado um azedar das relações e problemas no imediato. Sem dúvida. No entanto, com o passar do tempo, provavelmente a relação entre a União Europeia e a Turquia normalizar-se-ia e seria mais aberta e sincera do que é actualmente. O que assistimos é a um jogo cínico de ficção diplomática: a União Europeia não quer a Turquia, mas não o diz abertamente. Quanto à Turquia de Erdogan e Davutoglu, o actual primeiro-ministro do AKP também não quer aderir, mas vitimiza-se para obter compensações, políticas e financeiras. A abordagem de Erdogan — condicionando a colaboração com a União Europeia na resolução do problema dos refugiados, à obtenção de apoios financeiros e de concessões em matérias das negociações de adesão — evidencia essa estratégia. Tais concessões, por exemplo em matéria de vistos, são um trunfo no curto prazo devido às eleições legislativas na Turquia, a efectuar a 1 de Novembro. Mas Erdogan teria muito a perder, e sabe-o bem, se estivesse já na União Europeia. A margem para a sua afirmação autoritária, a política de reislamização e de reversão do secularismo do Estado turco, bem como a pressão exercida sobre a imprensa da oposição e a liberdade de opinião, seriam reduzidas. Na realidade, não lhe interessa a adesão, mas a manutenção do processo negocial é útil para a sua estratégia política.

4. Nada exemplifica melhor a aliança tácita entre os eurocépticos e o apoio à adesão da Turquia do que o caso britânico. Ironicamente, ao mesmo tempo que continuam a fazer declarações diplomáticas a favor da sua adesão, propõem-se efectuar um referendo sobre o downgrade da sua própria relação europeia, em 2016 ou 2017. Este poderá até levar à sua saída da União. Será aquilo que os britânicos não querem para si bom para a Turquia? Para permanência na União foram traçadas, pelo Governo conservador de David Cameron, as seguintes concessões a obter da União Europeia: (i) uma declaração sobre o direito do Reino Unido se manter à margem de qualquer avanço federal a nível europeu, ou seja, de não participar na construção de uma "União cada vez mais estreita”; (ii) declaração de que o euro não é a moeda oficial da União Europeia, deixando claro que poderão continuar a coexistir várias divisas, de forma a proteger a libra esterlina e o estatuto de Londres como praça financeira mundial; (iii) possibilidade, em certas circunstâncias, de bloquear decisões europeias pelos parlamentos nacionais; (iv) reorganização da estrutura institucional, de forma a evitar que os Estados-membros fora da zona do euro sejam remetidos a um plano secundário. A adesão da Turquia — por forçar à renegociação dos tratados e, provavelmente, obrigar à criação de muitas excepções nas regras europeias — seria bastante útil para facilitar concessões. Quanto aos problemas geopolíticos ligados, por exemplo, à guerra da Síria e à crise dos refugiados, os quais se intensificariam com a adesão da Turquia, seriam sobretudo problema dos outros Estados-membros. Os britânicos estão já voluntariamente fora do espaço Schengen. Adivinha-se, aqui, uma estratégia similar à que vimos nos alargamentos ao Centro e Leste Europeu, em 2004. Primeiro, apoiaram politicamente a adesão, retirando a vantagem nas relações bilaterais. Mais à frente, na altura de suportar os custos financeiros do alargamento, através do aumento das contribuições orçamentais, há uma recusa no seu aumento. O fardo financeiro ficará para outros contribuintes líquidos (Alemanha, França, etc.). No actual contexto político, apoiar a adesão da Turquia é uma forma de realpolitik ou de atlantismo que ignora o interesse geral europeu.

Investigador

Qual a importância da Turquia para a UE?

O fato de a Turquia integrar a poderosa Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e possuir um dos maiores e mais bem treinados exércitos dessa aliança militar, perdendo em números apenas para o dos EUA, reforça os benefícios de uma participação na UE.

Quais as vantagens que a Turquia seria se houvesse a aprovação por parte dos membros do bloco assim o fizesse?

As autoridades turcas reconhecem que independentemente da sua adesão, o cumprimento dos critérios de Copenhaga foram benéficos para o país. As vantagens da sua adesão para a Turquia são várias e de diferentes ordens: culturais, económicas e políticas.

Que vantagens a União Europeia oferece para seus países membros?

Principais realizações da União Europeia e benefícios tangíveis.
um continente em paz..
a liberdade, para os cidadãos, de viverem, estudarem ou trabalharem em qualquer parte da UE..
o maior mercado único do mundo..
assistência e ajuda ao desenvolvimento para milhões de pessoas em todo o mundo..

O que tem dificultado a entrada da Turquia na União Europeia?

De acordo com especialistas, talvez seja exatamente o preconceito religioso o maior impeditivo à entrada da Turquia na Comunidade Europeia. Sua proximidade geográfica e ideológica com alguns países muçulmanos é vista com extrema desconfiança por boa parte das nações que já fazem parte do bloco.