Qual a relação entre Floresta Amazônica e as regiões Sul e Sudeste *?

Arco de desmatamento é a região que possui os maiores índices de desmatamento é aquela onde a fronteira agrícola segue em direção à floresta.

  • 10 de setembro de 2014
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  • Categoria: Meio Ambiente

A região amazônica contém cerca de um terço das florestas tropicais de todo o planeta, abrigando nada menos que metade de toda a biodiversidade mundial. Ela é responsável por manter o equilíbrio climático e ecológico, além de oferecer abrigo e alimento para uma enorme variedade de animais e pessoas.

Apesar de sua importância, a Floresta Amazônica é constantemente ameaçada pela ação do desmatamento. A região que apresenta maiores índices de desmatamento é aquela onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta: são 500 mil km² de terras que vão do sudeste do Pará para o oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. Essa porção de terra é chamada de “arco do desmatamento da Amazônia”.

Para muitos especialistas em ecologia e biologia, as rodovias Belém-Brasília e Cuiabá-Porto Velho, foram o berço da criação do arco do desmatamento da Amazônia. O sucesso de ambas as estradas deram vida à construção de mais rodovias, que tiveram um maior povoamento por sua extensão, o que acarretou no desmatamento de inúmeras regiões de diferentes estados.

Nos últimos anos, os satélites da NASA constataram que a agricultura mecanizada é responsável por desflorestar a Amazônia com bastante agressividade. Como resultado disso, a região sofre com alterações no solo, mudanças climáticas e perda da biodiversidade.

Artigo de Eduardo Luís Ruppenthal

Para não ser mais uma data vaga que preenche o calendário de dias comemorativos, esse 5 de setembro não está sendo diferente dos anos anteriores: a Amazônia está em chamas*. O que mudou é a intensidade dessas chamas e a sua dimensão, impulsionadas pelo discurso, pelo apoio e política ecocida e genocida do governo Bolsonaro e de seu anti-ministro “incendiário” Ricardo Salles, capatazes do agronegócio.

As consequências dessa política anti-ambiental espalhou as chamas e o desmatamento para outros biomas brasileiros, como o Pantanal, em uma tragédia socioambiental sem precedentes, que coloca em risco toda a dinâmica pantaneira; o Cerrado, onde a expansão agrícola tem convertido áreas com enorme biodiversidade em extensas monoculturas para exportação, basicamente soja, e ameaça a “caixa d`água” do Brasil. Todos os demais biomas estão sob risco, já que a lógica degradadora é a mesma. Mata Atântica, Caatinga e Pampa, as ameaças históricas são potencialiazadas pelos discursos, intenções e ações para “passar a boiada” de qualquer jeito, com ou sem pandemia, com ou sem os holofotes da mídia, a mesma que diz que o “agro é pop, é tech, é tudo”.

A intenção do texto não é aprofundar e enumerar a importância da Amazônia para o equilíbrio ambiental do Planeta, mas essencialmente à região Sul do Brasil. Nesta primeira parte, não se abordará as mudanças climáticas e demais consequências da devastação da Amazônia, mas da relação direta com a quantidade de chuvas que caem no Sul, provenientes de massas de ar de vapor de água e de nuvens formadas no Bioma Amazônico.

Isso se deve a um fenômeno chamado rios voadores, que são “cursos de água atmosféricos” que viajam centenas e milhares de quilômetros e que regam o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, além dos países vizinhos. A Amazônia funciona como uma bomba d`água. Toda a umidade evaporada do Oceano Atlântico segue floresta adentro pelos ventos alíseos, é descarregada em forma chuva, que cai na floresta, e é muita chuva, que coloca a região em uma das mais quentes e úmidas do planeta. Com esse calor tropical, acontece a evapotranspiração nas árvores, retornando toda essa água para a atmosfera em forma de vapor de água. Os ventos direcionam essas massas de ar carregadas de umidade para o oeste, mas no caminho encontram a Cordilheira dos Andes, com mais de 4.000 metros de altitude. Uma parcela das massas de umidade precipita nas encostas da Cordilheira, o que forma as nascentes dos rios amazônicos que abastecem vários países e se transformam na maior bacia hidrográfica do mundo, a do Rio Amazonas. Nos impressionamos com a imensidão, grandeza e vazão do Amazonas (200.000 m³/s). A evapotranspiração não fica para trás. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a quantidade de vapor de água evaporada pelas árvores da floresta pode ser a mesma ou até maior do que a vazão do Amazonas.

Outra parte dessas massas de ar carregadas de vapor de água são direcionadas para o Sul, os rios voadores percorrem centenas e milhares de quilômetros, levam umidade que se transforma em chuva para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além dos países vizinhos. Vale lembrar que essas chuvas abastecem o próprio Pantanal que, além do desmatamento e dos incêndios, atravessa estiagem histórica. Assim, outras áreas abastecidas pelos rios voadores passam por estiagem em 2020: o Paraná, onde há neste momento racionamento de água em Curitiba e região metropolitana, e o Rio Grande do Sul, que passou por uma estiagem de mais de seis meses no início do ano, com consequências para centenas de municípios gaúchos.

A Amazônia é essencial para o regime de chuvas e clima para a região Sul. E essa água que chega até aqui é devido às árvores e à floresta em pé.

As consequências já sentidas, amplamente estudadas e descritas por vários cientistas e centros de pesquisa (CPTEC, Inpa, Inpe, LBA e Imazon)**, e nos cenários colocados nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tendem a se intensificar e aprofundar com o modelo predatório do agronegócio brasileiro, encabeçado pelo projeto ecocida e genocida do Bolsonaro e Salles.

Faz-se necessário derrotar os capatazes, mas também esse modelo capitalista agroexportador, que alimenta os países do capitalismo central, caso contrário as chamas continuarão cada vez mais freqüentes e intensas, assim como a falta de água e os períodos de estiagem no Sul do Brasil. Essas chamas não queimam somente a floresta lá no Norte, mas a umidade, as chuvas e a água no Sul.

Qual a relação entre Floresta Amazônica e as regiões Sul e Sudeste *?

O caminho dos rios voadores. Fonte: Projeto rios voadores

Eduardo Luís Ruppenthal – biólogo, professor da rede pública estadual, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (Uergs), mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/Ufrgs), militante do coletivo Alicerce e da Setorial Ecossocialista do PSOL/RS.

* Filme “Amazônia em chamas” de 1994 Link: https://www.youtube.com/watch?v=DI6mhtMgr_o
**CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
LBA – Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia
Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no Sul21.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/09/2020

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Qual a importância da Floresta Amazônica para a região Sudeste?

A Floresta Amazônica produz imensas quantidades de água para o restante do país e da América do Sul. Os chamados "rios voadores", formados por massas de ar carregadas de vapor de água gerados pela evapotranspiração na Amazônia, levam umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

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