Show Introdução Desde os tempos mais remotos, o tema memória vem despertando interesse na humanidade, principalmente com relação ao seu funcionamento e aspecto cognitivo, mas foi somente durante o século XIX que surgiram os primeiros
trabalhos científicos de maior importância a respeito das características e funcionamento da memória humana, muitos deles, a partir do estudo de pacientes e da experimentação animal. Diálogos entre memória e identidade na contemporaneidade. Além de estabelecer alguns possíveis diálogos entre autores, este texto pretende uma reflexão sobre a estreita relação entre a memória, a identidade e a cultura visual na pós-modernidade e suas presenças marcantes neste período. Como paradigma dessa época, surge a linguagem e como linguagem especial, a arte. Tudo isso influenciado diretamente, nas últimas décadas, pelas inovações tecnológicas, que praticamente desfazem os limites entre comunicação,
lazer, arte e economia. E, ao mesmo tempo, os “excessos de memória”, a busca frenética pela afirmação da identidade e os estudos sobre a cultura visual, preocupados com o poder exercido pela profusão de imagens na atualidade, a influência e o modo como elas nos afetam na construção das identidades, já que reconhecem que a visão é culturalmente construída e, portanto, contribuem para a formação dessas identidades. Bergson ressalta em seu trabalho dois tipos de memória: a memória-hábito, adquirida pela repetição e ação de comportamentos habituais (por vezes automáticos) e a imagem-lembrança, constituída por rememorações isoladas,
vocativas, que ocorrem independentes de qualquer hábito. Essa última, por ser inconsciente e individualizada, é considerada por ele como a verdadeira memória, pois o passado estaria aí, vivo para “souvenir”, vir à tona, constituindo-se em autênticas ressurreições do passado (BOSI, 1987, p. 48). As lembranças, nesse caso, poderiam ser buscadas no inconsciente para serem atualizadas, no presente. Faculdade da memória; faculdade do esquecimento O filósofo francês Paul Ricoeur, ao partir de uma análise da memória como fenômeno em sua obra Memória, História e esquecimento (2007), já no início de seu texto adverte para a necessidade da proposição de uma memória equilibrada, capaz de se contrapor aos “excessos de memória”,
ao “exagero de comemorações” e ao “excesso de esquecimento” que, segundo ele, fazem parte, atualmente, de um espetáculo inquietante: Não é somente o caráter penoso do esforço de memória que dá à relação sua coloração inquieta, mas o temor de ter esquecido, de esquecer de novo, de esquecer amanhã de cumprir esta ou aquela tarefa; porque amanhã será preciso não esquecer... de se lembrar. Aquilo que [...] chamaremos de dever de memória consiste essencialmente em dever de não esquecer. (RICOUER, 2007-48) Desenvolvendo pesquisas no campo da Antropologia cognitiva2 , o antropólogo francês Joël Candau trabalha com as diversas formas de memória: compartilhada ou supostamente compartilhada (memória familiar e genealógica, memória coletiva, etc) distinguindo
notadamente no trabalho de memória os aspectos protomemoriais, memoriais e metamemoriais. Em sua obra Memória e Identidade, Candau (2011) argumenta que a memória é a sustentação da identidade. No decorrer desse livro, o autor dialoga com Halbwachs (1990), Nora (1984) e, também, com Ricoeur (2007). O “boom da memória” na contemporaneidade Ao afirmar que “a história é filha da memória” e que “fala-se tanto em memória porque ela já não existe mais”, Candau (2011, p. 133) lembra o historiador francês Pierre Nora. Uma expressão que vem sendo empregada com frequência na contemporaneidade foi criada por Nora na obra “Les lieux de mémoire”, em 1984. Os “lugares de memória” surgem, segundo o autor, de um jogo entre a memória e a história no qual é preciso se ter vontade de memória, de manter algo vivo.
Essa expressão tem sido utilizada para referenciar suportes de memória, locais aos quais vinculamos referências que nos são importantes; lugares capazes de guardar lembranças e permitir o acesso a elas sempre que se fizer necessário ou conveniente; são lugares ou espaços em que a memória pode ser revivida ou recriada para a construção de uma memória coletiva capaz de identificar importantes grupos sociais que, por sua vez, podem contribuir também para uma identidade maior: a da nação.
Já o sociólogo francês Michel Maffesoli em seus vários estudos sobre a pós-modernidade, apresenta uma abordagem diferente da formação das identidades. Em sua obra “A Contemplação do Mundo” (1995) o autor, referindo-se ao homem pós-moderno ou contemporâneo, reconhece-o como um sujeito sensível, fragmentado, que é desafiado a buscar referenciais em um contexto dinâmico, que se altera a cada instante, influenciado pelo uso da tecnologia. Em sua abordagem, ele valoriza o “estar junto” e a
“experiência sensível” do corpo nessa busca. O presenteísmo de Maffesoli é diferente do de Joël Candau, que o associa às crises do presente. Para Maffesoli, o presenteísmo é o tempo vivido no próprio cotidiano, que, aliás, ele aconselha a viver a cada momento, experimentando-o e compreendo-o, como forma de adquirirmos um conhecimento que não está nos livros e nem nas academias. Segundo Maffesoli (1995, p.26), na contemporaneidade, o estilo e a imagem convergem em direção a
um mundo imaginário definido como um conjunto complexo, onde as diversas manifestações da imagem, do imaginário, do simbólico e o sentido das aparências dominam, ocupando um lugar primordial. Para ele, a vontade de pertencer a um grupo, a uma tribo remete a uma estilística da existência denominada estética, pois se liga ao estilo de um tempo e aos diferentes modos de viver socialmente. A estética do cotidiano (1995, p. 26) valoriza a maneira de sentir e experimentar em grupos, em comum, no dia a
dia: “a sensibilidade coletiva, que está na base da formação de uma sociedade”. O papel da memória e sua importância para a sobrevivência das sociedades.
O esquecimento, assim como a memória e a identidade, também passou a ser um assunto recorrente na contemporaneidade. Ao mesmo tempo em que se questionam os “excessos de memória”, a busca de vestígios do passado e a necessidade crescente de patrimonialização de bens culturais, se reconhece, também, o perigo de esquecer; o risco do desaparecimento gradual da nossa história, das nossas memórias, dos referenciais em nossas vidas. Talvez por esse medo do esquecimento, que, cada vez mais, a sociedade se solidariza com as instituições encarregadas de guardar e preservar nosso acervo cultural, o que se reflete no crescente número de estabelecimentos com esses fins (nunca se teve tantos espaços de guarda de memória como na atualidade). Em meio a esse esforço de inventariar e patrimonializar os bens culturais que consideramos como detentores de um potencial de memória e identidade cultural, surge, também, a necessidade de preservar esses suportes de possíveis alterações prejudiciais, colocando em prática estratégias capazes de suprir essa “necessidade social” de tudo preservar. Mas, se conservamos e reivindicamos a guarda de algo que julgamos importante é porque queremos e necessitamos também, partilhar – ou compartilhar – memórias. Assim, quando buscamos lembranças é porque temos medo de esquecê-las. Se as evitamos, é porque temos medo de sofrer. Ao mesmo tempo, se insistimos em lembrá-las, é porque temos medo de sofrer
novamente. Podemos escolher: bebemos as memórias no poço de Mnemosyne, que nos previne do esquecimento ou de Lhete, que nos faz esquecer. Referências: BÉRGSON, Henri. Matéria e memória. Ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. Martins Fontes. São Paulo, 1999. MIRZOEFF, Nicholas. An Introduction to visual culture. London: Routlege, 1999; Una Introducción a la cultura visual.Barcelona: Paidós, 2003. Ivan Izquierdo é argentino naturalizado brasileiro, sendo pioneiro no estudo da neurobiologia da memória e do aprendizado. 4 UNESCO (2002) - DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL- IDENTIDADE, DIVERSIDADE E PLURALISMO: Qual é a relação entre a memória e a formação da identidade de uma pessoa?A memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletivo, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si (POLLAK, 1992).
Qual a importância da memória para construção da identidade de um povo?A memória é essencial para uma cultura que deseja preservar suas características e como ela é intimamente ligada a identidade, fornece subsídios para que a identidade se construa e se fortaleça a partir de elos comuns.
Qual é a importância da memória na vida das pessoas?A memória tem um papel fundamental na aprendizagem, pois permite o reaproveitamento das experiências do passado e do presente e ajuda a garantir a continuidade do aprendizado. A memória é um processo ativo de codificação, armazenamento e recuperação de nossas experiências.
Qual é a importância da memória para o estudo da história?A memória histórica é essencial para a manutenção das atividades de uma determinada sociedade no longo prazo porque fornece as bases para a sobrevivência da forma de vida da sociedade.
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